Enquanto perdemos tempo em debates relativos aos possíveis antagonismos entre a teoria (Ciência) e a prática (experiência no atendimento), profissionais mal intencionados ludibriam seus pacientes com condutas recheadas de pseudociência. Para reverter este quadro, que parece se alastrar no meio da saúde, é preciso compreender que a Ciência nada mais é que o resultado da aplicação controlada destas experiências, com o propósito de tornar seus resultados confiáveis e reprodutíveis ou simplesmente refuta-los.
Neste sentido, no texto passado "Exercício e câncer: teoria ou prática?” abordei a relevância prática da estatística e dos pacientes de uma pesquisa cientifica na escolha de intervenções clínicas. Outro conceito que deve ser contraposto se relaciona a abrangência dos resultados e que pode ser expresso pela seguinte frase: "os resultados das pesquisas sobre exercício físico (EF) e câncer (CA) foram obtidos por uma ínfima parcela da população com CA que é capaz de treinar. Duvido que a maioria dos pacientes seja capaz de realizar o que estes estudos propõem”.
Desde a década de 90, pesquisadores vêm investigando as interações entre o EF e CA. Como resultado, temos agora um corpo robusto de evidências que corroboram os benefícios terapêuticos da pratica sistemática e regular do EF em inúmeros tipos de CA. Destaco aqui os que possuem um maior número de artigos publicados, tanto em homens quanto em mulheres: próstata, mama, traqueia, brônquio e pulmão, cólon e reto, estômago, cavidade oral, esôfago, bexiga, laringe, leucemias, tireoide, colo e corpo do útero e ovário. Estes, quando somados, equivalem a aproximadamente 75% da incidência prevista para 2018 de CA na população brasileira (INCA).
Entretanto, mesmo quando olhamos para esta relação positiva (estudos/tipos de CA), ainda podem restar dúvidas sobre a viabilidade do EF em pessoas com CA que se encontram em condições de maior fragilidade. Para isso, cito o resultado de duas revisões recém-publicadas que analisaram a aplicação do EF em pacientes idosos e em estágios avançados de CA: além da constatação que estas populações são capazes de treinar, também foram encontradas melhoras significativas na funcionalidade, composição corporal, fadiga, qualidade de vida, distúrbios do sono e função psicossocial, com uma baixa ocorrência de eventos adversos. Desta forma, comprova-se a efetividade do EF no manejo de sintomas debilitantes frequentemente associados aos últimos estágios da doença e em idade mais avançadas.
É claro que para toda regra há exceções. O EF pode não ser recomendado para uma determinada pessoa. E é por isso que, independentemente do tipo e do estágio de CA e da senilidade do paciente, é importante que exista uma rigorosa avaliação prévia, de preferência multidisciplinar, capaz de identificar possíveis comorbidades associadas, neuropatias, complicações musculoesqueléticas e condições cardíacas, a fim de libera-lo à pratica esportiva e adequar a intensidade, volume e o modo do EF.
Mais uma vez, fica claro que não é possível acreditar e difundir que a Ciência reflete situações específicas sem valor de aplicação prática. Condutas devem ser baseadas em evidências cientificas. E viva a Ciência!
Para saber mais:
Até a próxima...
Rodrigo Ferraz
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