3º Fórum Oncoguia de Câncer de Pulmão

No dia 24 de novembro, o III Fórum Oncoguia de Câncer de Pulmão debateu os principais problemas enfrentados pelos pacientes com a doença. 

Foram abordados temas importantes, sobre desafios, novidade, prioridades, reflexões, aprendizados e a importância do diagnóstico precoce e de tratamentos inovadores para o câncer de pulmão no SUS e na saúde suplementar. 

O evento foi gratuito e aconteceu on-line com transmissão no Youtube, Facebook e Instagram.

Confira os principais destaques.

Abertura e  Radar do câncer de Pulmão
Luciana Holtz, fundadora e presidente do Instituto Oncoguia

O evento começou com a transmissão do vídeo da campanha “Vivendo com câncer de pulmão” e logo depois, a presidente do Oncoguia fez uma abertura para falar sobre o Instituto e as prioridades para o tema, entre eles: dar visibilidade ao câncer de pulmão com a apresentação de dados, ampliar a discussão sobre diagnóstico precoce, melhores cuidados para o paciente, oferecer informação de qualidade e apoio para que estes pacientes não se sintam sozinhos. 

Na sequência, Luciana falou sobre o Radar do Câncer de Pulmão, criado em 2019 pelo Oncoguia em parceria com o cliqueSUS com o objetivo de auxiliar na transparência da gestão pública, contribuir para que a sociedade possa fiscalizar esses dados, incentivar políticas públicas efetivas e baseadas em evidências e proporcionar aprimoramento dos dados governamentais. 

Luciana apresentou dados atualizado do Radar para 2020 que mostraram a queda de 25% na realização de biópsias para suspeita de câncer de pulmão no período entre março e agosto, comparado com o mesmo período no ano anterior. O número de novos pacientes iniciando tratamento para a doença também apresentou queda, neste caso de 30,5%. Sem contar que um dado muito alarmante que se repete ao longo dos anos é o número de pacientes que iniciam os tratamentos já com a doença em estágios III e IV: 85,6%. Sem contar o descumprimento da lei dos 60 dias e as barreiras de acesso a cirurgia e radioterapia.

Cenários e desafios principais

Câncer de pulmão no Brasil: desafios, novidades e prioridades
Fernando Moura, oncologista clínico no Centro de Oncologia e Hematologia Família Dayan-Daycoval Hospital Israelita Albert Einstein

O oncologista Fernando Moura destacou vários desafios existentes no cenário do câncer de pulmão e que deveriam ser vistos como prioridades.

  • Estabelecer programas de rastreamento para diagnósticos precoces com tomografias de baixa intensidade e dose em tabagistas e ex-tabagistas e toda população de alto risco, o que, consequentemente, diminui a taxa de mortalidade pela doença.
  • Garantir o acesso fácil da população à realização dessas tomografias. Uma estratégia apresentada por Fernando é o uso de tomografias móveis, como o exemplo do Hospital de Barretos. E garantir acesso significa ir além do tomógrafo, mas ter capacidade de controle, gestão e administração de um programa que atenda a população em geral. 
  • Prevenir o tabagismo com publicidade e aumento na tributação do cigarro. 
  • Realização de diagnóstico molecular, o que garante ao paciente com câncer de pulmão estabelecer tratamentos mais efetivos, com menor toxicidade e maior qualidade de vida para cada paciente.
  • Repensar a coleta e o acesso a dados, pois assim é possível pensar em melhores estratégias e lidar com a subnotificação de casos que prejudica a realidade do diagnóstico no Brasil. 

Fernando também falou sobre a realização de cirurgias robóticas mais modernas, menos invasivas, mais seguras e com menor tempo de recuperação e deu como exemplo o programa europeu “Extreme Fast Track”.

Pandemia e câncer de pulmão: reflexões e aprendizados
Clarissa Mathias, oncologista clínica no NOB/Oncoclínicas e presidente da SBOC

Clarissa apresentou vários dados de diferentes estudos realizados em todo o mundo que relacionam o câncer de pulmão e a Covid-19. 

Alguns apontam que o risco de mortalidade de pacientes com câncer de pulmão após contraírem Covid-19 é 32% maior do que pessoas com outras doenças. Também há dados que apontam taxa de mortalidade de 28% nestes pacientes e uma taxa de 22% de pacientes que interromperam o tratamento durante a pandemia. 

De acordo com a presidente da SBOC (Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica), um estudo em andamento realizado pela sociedade mostra que pacientes com câncer de pulmão, quando infectados, têm risco aumentado em 52% para hospitalização, maior de 35% de transferência para UTI e um desfecho pior se além da neoplasia tiverem outros fatores de risco como idade avançada e tabagismo. 

Clarissa ressaltou que os dados parecem contraditórios, porém a questão é que tudo isso ainda é um conhecimento em formação e não dá para afirmar como cada paciente vai evoluir diante de uma contaminação por coronavírus. Por isso, ela destacou a importância de proteger o paciente, buscando equilíbrio entre o medo da Covid e as consequências de não tratar o câncer, sendo urgente a retomada dos procedimentos, porém de forma racionalizada. 

Por fim, a especialista destacou que outra consequência da pandemia são os diagnósticos mais tardios, a interrupção de tratamentos e a queda no rastreamento, o que prejudica ainda mais o cenário do câncer de pulmão no mundo. 

Módulo 1. Como garantir diagnóstico precoce

A importância do pneumologista do combate e cuidado do câncer de pulmão
Ciro Kirchenchtejn, pneumologista da Unifesp

Ciro começou destacando a importância do cuidado multidisciplinar na vida do paciente com câncer de pulmão. Dentre eles, o pneumologista é o profissional que acompanha esse paciente desde muito antes do diagnóstico de um câncer até depois de finalizado o tratamento ou no acompanhamento de casos avançados. 

Segundo o especialista, profissionais da área devem atuar, em primeira instância, na promoção de políticas de saúde pública para prevenir a doença e, no dia a dia clínico, se basear na identificação de possíveis fatores de risco para o câncer de pulmão e também para outras doenças respiratórias, para possibilitar que pessoas do grupo de risco possam realizar rastreamento e, consequentemente, ter acesso a diagnósticos menos tardios, como acontece na maioria dos casos. 

O pneumologista destacou, ainda, o impacto do tabagismo na vida das pessoas, causando não só câncer de pulmão, mas também em outros órgãos. Por isso, é preciso oferecer estratégias bem fundamentadas para que as pessoas possam deixar de fumar, inclusive cigarros eletrônicos que são proibidos no Brasil. O simples ato de parar de fumar, mesmo depois de já estar com o câncer de pulmão, pode aumentar em 25% a sobrevida do paciente. 

Ele finalizou apontando que com vontade política e investimento, o Brasil se tornou um case mundial na redução do tabagismo, passando de 70% da população fumante nos anos 60 para 10% nos últimos anos. 

A importância do diagnóstico precoce: por onde devemos começar?
Ricardo Sales, cirurgião torácico do Hospital Albert Einstein e coordenador da Medicina Respiratória do Hospital Cárdio Pulmonar da Bahia

Ricardo iniciou sua fala com dados do Estado de São Paulo que mostram que entre 2000 e 2010, apenas 8,8% dos casos de câncer de pulmão foram diagnosticados em estágio I.

Ele ressaltou que parte da dificuldade de identificar a doença em estágios iniciais é a ausência de “dor” e a presença de sintomas inespecíficos quando a doença começa a evoluir, como tosse, falta de ar, rouquidão, sangramento, sinais que podem indicar uma variedade de problemas. 

Assim, Ricardo reforça a importância do rastreamento em pessoas de alto risco, como apontado por outros palestrantes, possibilitando diagnósticos precoces e maiores chances de tratamentos curativos. Estes tratamentos normalmente são os diferentes tipos de cirurgia, que o profissional destaca como uma alternativa que promove a cura quando realizada em estadiamento precoce, além de ser mais custo-efetiva.

No entanto, Ricardo destaca como desafios ainda a serem enfrentados a falta de programas efetivos de rastreamento, o baixo acesso da população à medicina especializada, os erros de diagnósticos e de tratamentos, a falta de dados de qualidade e bem estruturados. 

Módulo 2. Medicina personalizada na prática: desafios e prioridades

Desafios da patologia no câncer de pulmão no SUS e na Saúde Suplementar
Carmen Liane Neubarth Estivallet, médica patologista do Hospital Moinhos de Vento e do Instituto de Patologia

Carmen começou destacando que um diagnóstico bem feito garante aos pacientes a possibilidade de realizarem melhores tratamentos para cada caso e que isso faz parte do trabalho do patologista assim como dar um nome e sobrenome ao câncer, isto é, apontar todas as características do tumor.
Para o câncer de pulmão, ela aponta a realização de três principais exames: 

  • anatomopatológicos: é feito a partir da biópsia do pulmão. Aponta se é um tumor benigno ou maligno, primário ou metástase, dá nome ao câncer (pequenas células ou não pequenas células, que pode ser carcinoma de células escamosas ou adenocarcinoma), dá ainda informações sobre prognóstico, risco de recorrência e estadiamento do câncer. 
  • imuno-histoquímico: complementa as informações do anatomopatológico com mais detalhes para determinar se é um tumor primário ou metástase e se pode ser uma neoplasia pouco diferenciada.  
  • molecular: vê o DNA da célula e aponta a presença de mutações, indicado principalmente para pacientes com câncer avançado e metastático, possibilitando que o paciente receba tratamentos mais específicos para seu caso. 

Dentre as dificuldades apontadas pela patologista constam a falta de profissionais da área e a centralização dos profissionais em grandes centros, o grande volume de exames, o que prejudica e atrasa o diagnóstico, o valor pago pelo exame, principalmente no SUS e a deficiência de material coletado na biópsia. Já no teste molecular, o principal desafio é o acesso ao exame, que não está disponível em centros menores e nem sempre no SUS e na saúde suplementar. 

Case SUS - Como o câncer de pulmão deve ser tratado e os desafios do acesso no SUS e na Saúde suplementar
Diogo Bugano, coordenador do serviço de oncologia clínica do Hospital Municipal Vila Santa Catarina

Diogo apresentou o trabalho realizado no Vila Santa Catarina, um hospital público de São Paulo ligado à Secretaria Municipal de Saúde, e administrado pelo Albert Einstein.

Segundo o especialista, a vantagem dessa ligação é a forma como é feito o financiamento do hospital. O financiamento é 100% público, assim como o atendimento realizado. Porém o financiamento não é por APAC e sim por modelo de risco compartilhado e medicina baseada em valor. Isto é, a Secretaria de Saúde contrata um número de pacientes (300 por mês), envia uma valor fixo de financiamento mensal com a possibilidade de acréscimo ou decréscimo de acordo com métricas de qualidade determinadas pela Prefeitura. Isso possibilita direcionar verbas para o que é mais importante, podendo trabalhar com estratégias para economizar em algumas coisas e investir mais em outras, e tem que controlar de perto os indicadores e os gastos. Com isso, é possível priorizar e disponibilizar tratamentos mais inovadores para os pacientes.

Outra estratégia do hospital é a participação no Proadi (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Institucional do Sistema Único de Saúde), do Ministério da Saúde, que viabiliza a parceria com instituições filantrópicas de excelência da Saúde Suplementar para otimizar o SUS. 
Ele acredita que a médio prazo, iniciativas como estas, possibilitarão uma reestruturação do tratamento de câncer no SUS.

Saúde suplementar
Pedro De Marchi, oncologista clínico de CP/Tórax da Oncoclínicas e líder da especialidade de Cabeça e Pescoço

Pedro apresentou dados de pacientes tratados na saúde suplementar e falou sobre o impacto dos tratamentos oferecidos na sobrevida dos pacientes com câncer de pulmão, mostrando que estas pessoas estão vivendo mais devido a diagnósticos mais precoces e à possibilidade de controlar a doença por períodos mais longos, o que Pedro chama de cronificação do câncer. Isto é, o tratamento de tumores como uma doença crônica com uso de novas drogas.

Um dos grandes pilares dessas novidades são as terapias alvo moleculares, que são drogas específicas para interagir com proteínas das vias de sinalização e controlar a doença. Para isso, é preciso saber todas as informações do câncer de pulmão tratando a doença de forma personalizada, melhorando os resultados.

De acordo com Pedro, o câncer de pulmão é um grande protótipo da medicina personalizada. 85% dos tumores de pulmão não pequenas células são adenocarcinomas, que apresentam alterações moleculares para as quais existem drogas alvo aprovadas.

Em casos metastáticos, estudos mostram que em 2002, pacientes com a doença em quimioterapia apresentaram sobrevida mediana de 8 meses. Já em 2017, com uso de terapia-alvo, essa sobrevida mediana subiu para 89,6 meses.

Com isso, Pedro conclui que a terapia alvo molecular e a imunoterapia são indispensáveis, porém um grande desafio é sua disponibilização para a população em geral tendo como fator limitante o custo.

Quando a recomendação da Conitec não significa acesso: case câncer de pulmão
André Santos, gerente de Dados e RWE do Instituto Oncoguia

André apresentou um estudo realizado em 2019 de uma avaliação realizada sobre a adoção pelo mercado de um novo medicamento para câncer de pulmão aprovado pela Conite e incorporado ao SUS.

Ele explicou um pouco do processo da Conitec, que faz análises das doenças e dos medicamentos para poder recomendar pela incorporação ou não e quais os motivos para sua análise. Desde a solicitação até a incorporação de fato, leva-se 180 dias, que podem ser estendidos por mais 90. E depois, o SUS tem mais 180 dias para disponibilizar a droga incorporada efetivamente.

O estudo realizado por André utilizou dados da base do DataSUS com foco nos medicamentos quimioterápicos Erlotinibe e Gefitinibe em um período de janeiro de 2015 a dezembro de 2018.

Os resultados do estudo mostraram que de 227 mil procedimentos em 38 mil pacientes, o Gefitinibe foi utilizado em 2,4% dos casos e o Erlotinibe em 0,9%, com leve aumento ao longo do tempo. Os dados mostram que o uso efetivo das drogas incorporadas ficou bem abaixo do esperado pelos relatórios da Conitec.

Segundo André, isso mostra que nem sempre uma recomendação positiva da Conitec e a incorporação de um novo tratamento mais inovador significa acesso. Dentre os desafios apontados está a forma de aquisição destes medicamentos que não tiveram compra centralizada e, por APAC acabam não cabendo no orçamento dos Cacons e Unacons. 

Módulo 3. A voz do paciente

Vivendo com câncer de pulmão
Cláudia Lopes, paciente de câncer de pulmão há 6 anos e voluntária Oncoguia

Cláudia começou sua fala contando sua vida antes do câncer: uma vida de hábitos saudáveis e totalmente fora dos tradicionais grupos de risco para câncer de pulmão.

A descoberta da doença foi por acaso ao realizar uma tomografia por causa de dores abdominais que identificou um tumor no intestino e uma lesão suspeita no seu pulmão.

O tumor do intestino revelou-se benigno, mas no pulmão confirmou-se o câncer. Cláudia passou por cirurgia, quimioterapia e optou por não contar a ninguém pelo que estava passando.

Nos exames de rotina anuais pós-tratamento, seus marcadores tumorais subiram e comprovou-se que o câncer estava de volta em ambos pulmões, mas desta vez eram inoperáveis. Prestes a colocar um catéter por causa da quimioterapia que teria que fazer pelo resto da vida, ela então buscou uma segunda opinião médica e foi então que descobriu ser portadora de uma mutação genética chamada EGFR Rad51. Isso permitiu que Cláudia passasse a usar uma terapia-alvo que lhe garantiu mais qualidade de vida e efeitos colaterais menos impactantes.

Ao longo de sua jornada, Cláudia buscou informações, conheceu o Oncoguia e perdeu o receio de falar sobre a doença. Depois de cinco anos do diagnóstico, ela contou para as pessoas que tinha câncer, se tornou voluntária do Oncoguia e passou a ajudar outros pacientes a não se sentirem mais sozinhos.

 

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