[PERFIL] A Menina e sua Aptidão à Vida

Na página do Facebook da menina, de cabelos que despontam como uma moldura para o rosto suave, dezenas de mensagens de carinho e fotos revelando olhos de desejos.

E que cor são seus olhos, Evelin?”, perguntou a repórter na conversa da padaria que durou uma hora (mas podia ter durado um dia). "Cor de burro quando foge!”, respondeu de imediato no prenúncio da gargalhada.

Evelin Scarelli, 24 anos, estudante do último ano de fisioterapia, goleou o câncer de mama com fineza. Recebeu o adversário em casa, conheceu-o com profundidade e desenhou cada jogada com maestria.

No ano passado o caroço na mama incomodou e a menina visitou o médico em Atibaia, cidade onde passou a infância em um sítio com os pais, avós, irmãos, primos... "tudo junto-misturado!”. O ultrassom encontrou um nódulo (do tamanho de um caroço de pêssego) com características benignas, e o médico aconselhou Evelin a deixá-lo onde estava, considerando que voltaria outras vezes no decorrer da sua vida.

"Mas eu falei. Olha, sabe o que é? Eu quero tirar. Estou na fila do pão e fico apertando o caroço. Tem um carocinho lá, poxa, e gente fica colocando a mão! Então operei lá mesmo em Atibaia”.

Com a sua voz de menina Evelin pronuncia a palavra câncer em alto e bom tom. É certa, como dois e dois são 4, de que a doença mostrou-lhe ‘Evelins’ que ela antes não conhecia. Permitiu-lhe repensar a forma como se relacionava com o mundo e, acima de tudo, consigo mesma.

"É somente isso que vejo do câncer. A pessoa que me tornei. Mais serena, atenta a aquilo que me faz sentido e a aquilo que sempre vivi sem que fizesse sentido”.

Deve de ser por isso que quando encontrou a repórter a menina vestia-se de branco, já que acabava de sair do estágio em comunidade de São Paulo.

"Ai Gi, que meu médico não me escute, mas eu estou fazendo estágio. Ela disse que é melhor que eu não faça, por causa da minha imunidade. Mas não consigo ficar parada... e ajudar as pessoas me faz tão bem”, confessou.

"Eeeevelin...”

Ela lembra que foi um pouquinho desobediente também durante a quimioterapia. Que saía da clínica lá em Atibaia, onde realizou todo o tratamento junto da família e no colo acolhedor da avó ("A melhor avó do mundo”), e ia direto para o Mc Donald´s!

"Ele que não me ouça. É sempre tão cuidadoso comigo. Mas eu não sentia nada. Nunca vomitei. Saia disposta da sessão. Falava com to-do mun-do nos quatro cantos da clínica e comia no Mac na saída!”, disse com outra de muitas risadas.

Foi na clínica mesmo que lhe recomendaram criar um blog, para que dividisse com outras pacientes a vitalidade da juventude e a aptidão sem limites à vida. A taurina amante dos abraços apertados e do sorvete chocomenta, criou o Blog Laço Cor de Rosa (Um blog Amigo do Oncoguia!) e, respeitosamente, chama as suas leitoras e leitores de "Meus Companheiros de Jornada” e diz a eles que são seus bens mais preciosos.

"Todos vocês, mais do que tudo, são meu presente e o meu bem mais valioso, pois sem todo esse carinho recebido, jamais teria a motivação necessária para permanecer. Hoje, por vocês e graças a vocês, eu desejo permanecer. Eu me permiti”.

A descoberta (da doença e dela mesma)

Passou-se um mês até que o médico ligasse com o resultado da biópsia. A menina conta que o mastologista enviou o material para quatro patologistas, para certificar-se de que o carcinoma pudera mesmo atingir uma mulher tão jovem. O pai de Evelin, de quem ela fala com brilho saliente nos olhos grandes, estava com ela no consultório. A mãe não estava. Ela lembra que o Sr. Altair, cuidadosamente, levou a esposa a um terapeuta familiar para lhe contar sobre o câncer da filha, entendendo que ela não teria estrutura para ouvir o diagnóstico de sua criança (criança que todo filho para uma mãe é). Ainda assim, lembra Evelin, que terminou o tratamento e está em fase de controle, a Sra. Célia não lhe falou por dois dias. Não podia olhar nos olhos da filha sem evitar as lágrimas.

Compreendida e assimilada a notícia, a mãe cuidou da menina como um gavião.

"Os braços de uma mãe são feitos de ternura
e os filhos dormem profundamente neles” (Victor Hugo)

Embora com argumentos naturais à resiliência, Evelin tem seus momentos de fraqueza, como é natural e justo. Naquele dia, no consultório, em que o mastologista engasgou para dar o diagnóstico à menina e ao pai, ela pensou que estivesse sonhando. No sonho triste real, ela abraçou o progenitor e pediu-lhe desculpas pela tristeza e preocupação que causara.

"Não acreditei de pronto. E quando fui fazer a mamografia após o diagnóstico, a enfermeira curiosa perguntou o porquê de uma mulher tão menina realizá-lo. Queria contar, mas não conseguia. A palavra câncer não me saia da boca”.

Dentre os inúmeros presentes que a menina diz que o câncer lhe deu, alguns são memoráveis. O primeiro foi a visita que recebeu da família e dos amigos em um retiro espiritual em que ela esteve no seu aniversário de 24 anos. Em pleno tratamento, o médico permitiu que ela fosse ao retiro, desde que não passasse por fortes emoções. "Olha Gi, se eu não morri naquele dia, não morro mais desse tal de câncer. Foi um momento único, especial. O mais lindo que já vivi. Ver minha família e meus amigos reunidos para festejar a minha vida”, recorda emocionada.

"E tem mais presentes memoráveis, Evelin?”, cutucou a jornalista.

"Tem sim. Os meus peitos! Nunca tive peitos e olhe só agora”, e estufou o busto mostrando a prótese. "Já que ia mesmo colocar, pedi para o médico que desse uma caprichada” – declarou orgulhosa.

(Em tom de confissão, a repórter diz que sonhava com um par daqueles também!).

E Evelin está por aí, com sua pinta desenhada acima do lábio, seu cabelo recém-nascido e sua vida embalada pelo ritmo que escolheu para si.

Tão Menina. Tão Madura.

Nesse mês de setembro uma ressonância apontou para uma alteração dos linfonodos na região axilar do lado da mama não operada. Ela aguarda pelo final dessa história, e diz segura:

"Felizmente, posso dizer o quanto a minha vida continua maravilhosa, mesmo diante desse novo elemento”.
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