O câncer tem alto impacto emocional também nos cônjuges dos pacientes

Um diagnóstico de câncer pode ter grande impacto emocional no cônjuge de um paciente, mesmo anos após a identificação da doença, mostra uma nova pesquisa.

Em um estudo com mais de 3 milhões de dinamarqueses e suecos, os cônjuges de pacientes oncológicos tiveram maior risco de apresentar distúrbios psiquiátricos, como  transtornos por uso de substâncias, transtornos depressivos, transtornos de ansiedade e transtornos relacionados ao estresse, em comparação com pessoas cujo cônjuge não tinha câncer. O risco foi maior para cônjuges do sexo masculino, para indivíduos com transtornos psiquiátricos preexistentes e no primeiro ano após o diagnóstico.

“O ponto principal é que a doença psiquiátrica é exacerbada pelo diagnóstico de câncer do cônjuge”, disse a Dra. Holly G. Prigerson, Ph.D., diretora no Cornell Center for Research on End-of-Life Care da Weill Cornell Medical College nos Estados Unidos, que não participou da pesquisa.

O estudo foi publicado on-line em 5 de janeiro no periódico JAMA Network Open.

Pesquisas anteriores mostraram que os cônjuges de pacientes com câncer tinham maior risco de apresentar transtornos depressivos, transtornos de ansiedade e outras doenças psiquiátricas, mas há poucos estudos de base populacional feitos com este grupo. Os autores do estudo, liderados pela Dra. Kejia Hu, médica afiliada ao Karolinska Institutet na Suécia, buscavam entender o espectro de transtornos psiquiátricos e fatores de risco que poderiam existir em nível populacional.

Os achados são procedentes de 546.321 cônjuges de pacientes oncológicos da Dinamarca e da Suécia acompanhados por uma mediana de 8,4 anos e cerca de 2,7 milhões de cônjuges de pessoas sem câncer acompanhadas por uma mediana de 7,6 anos. Os autores identificaram os primeiros diagnósticos clínicos de transtornos psiquiátricos com necessidade de atendimento hospitalar ou ambulatorial nessas populações usando o Registro Nacional de Pacientes Dinamarquês, o Registro Central de Pesquisa Psiquiátrica Dinamarquês, o Registro Nacional de Pacientes Sueco e outros registros.

Durante o período do estudo, os autores relataram 37.830 casos (6,9%) de transtornos psiquiátricos iniciais entre cônjuges de pacientes com câncer, com taxa de incidência de 6,8 por 1.000 pessoas-ano, em comparação com 153.607 casos (5,6%) entre cônjuges de pessoas sem câncer (taxa de incidência de 5,9 por 1.000 pessoas-ano).

Embora a diferença entre os grupos — 6,9% versus 5,6% — pareça “pequena, esses resultados são realmente impressionantes”, disse a Dra. Holly. O motivo, ela acrescentou, é que essas taxas refletem novos casos, excluindo pacientes com doença mental preexistente e casos extremos o suficiente para resultar em hospitalização psiquiátrica ou em tratamento psiquiátrico ambulatorial.

No primeiro ano após o diagnóstico de câncer, os pesquisadores constataram que o risco de transtornos psiquiátricos iniciais entre os cônjuges aumentou em 30% (razão de risco ajustada [RRa] de 1,30), especialmente transtornos depressivos (RRa de 1,38) e transtornos relacionados ao estresse (RRa de 2,04).

Fonte: Medscape