Efeitos da radioterapia e quimioterapia no tratamento do câncer de boca
O câncer de boca, que pode atingir toda a cavidade oral, incluindo lábios, língua, céu da boca e gengiva, é um dos cinco tumores mais comuns, principalmente nos homens. A doença é detectada em cerca de 15 mil pessoas todos os anos, uma incidência considerada alta para os padrões brasileiros.
A causa está diretamente relacionada ao uso de cigarros e do álcool, além do vírus HPV. Assim como grande parte dos tumores, a maioria dos casos é diagnosticada já em estágios avançados.
Por isso, quando a doença está em progressão, além da técnica cirúrgica, não há outra alternativa, senão entrar com tratamento radioterápico, a fim de eliminar as células cancerígenas. Em alguns casos, a quimioterapia também pode ser necessária, como tratamento adjuvante.
Normalmente são de cinco a sete semanas de tratamento, envolvendo altas doses de radiação local que acabam lesando dentes e gengiva, alterando paladar e olfato, dificultando a deglutição e a salivação e provocando mucosites, o que prejudica muito a qualidade de vida do paciente. Além disso, há os outros efeitos sistêmicos da quimio, como queda de cabelo, náuseas, etc.
Atenção nas feridas
O dentista Artur Cerri, membro da Câmara Técnica de Estomatologia do Conselho Regional de Odontologia do Estado de São Paulo (Crosp), explica que esse cenário de incidência e tratamento já em estágio avançado poderia ser revertido se tanto o paciente quanto o cirurgião-dentista se atentassem a um sinal crucial que evidencia esse tipo de tumor: o surgimento de feridas na boca. São lesões ulceradas, que simplesmente não cicatrizam e não desaparecem num intervalo de 15 dias e que nem sempre causam dor.
“Notou algo estranho na boca, lesões, sangramentos, hálito ruim, procura um dentista, porque ele está apto a pedir uma biópsia, que ele mesmo ou um estomatologista podem fazer, e o material já é encaminhado para análise patológica para a confirmação do diagnóstico. Se for confirmado, ele já removeu parte daquele tumor e pode encaminhar para um oncologista, que irá pedir exames mais minuciosos, para saber a real extensão do problema”, reforça Cerri.
Em pacientes que têm diagnóstico precoce com tumores iniciais na região orofacial, a chance de cura é acima de 95%. À medida que as lesões vão evoluindo, e o paciente começa a apresentar quadros de dor ou dificuldade de mexer a língua, a chance de cura cai para 45%.
Outro sinal de alerta são placas esbranquiçadas, que ficam aderidas em qualquer região da cavidade bucal. “Se você tentar tirar com um cotonete e não sair, tem algo errado”, complementa o especialista.
Antes do tratamento
Quando a cirurgia para a extração do tumor não é mais indicada e o paciente precisa passar por sessões de quimioterapia e radioterapia, novamente, o papel do dentista se torna fundamental, a fim de preservar os dentes, a gengiva e, assim, melhorar a qualidade de vida do paciente.
“É preciso intensificar os cuidados antes do tratamento radioterápico começar, porque depois fica inviável mexer, por conta do risco de inflamações e infecções. Então, fazemos a limpeza dos dentes, extraímos aqueles que estão moles e frágeis, a fim de preservar os outros, tratamos cáries, para reduzir o risco de infecções, e se for necessário, tratamento de canal”, explica Cerri.
Durante o tratamento
É de extrema importância o paciente continuar sendo avaliado por um dentista, pois a partir da segunda aplicação, os sintomas indesejáveis da radioterapia já começam a aparecer.
Durante a radioterapia é importante manter a higiene bucal, realizar bochechos com flúor para evitar as lesões de cárie, manter a boca hidratada, ingerindo muita água, e fazer uso de lubrificantes bucais e protetores labiais à base de lanolina.
“A aplicação de laser em toda cavidade bucal também acaba amenizando os desconfortos da radio, porque o laser tem um efeito anti-inflamatório e ajuda na recuperação das células e estimula a produção de saliva”, reforça o dentista.
Após o tratamento
Os efeitos colaterais tardios podem ocorrer tempos depois do término do tratamento oncológico. O paciente pode ter dificuldade de sentir o gosto dos alimentos, dor ou desconforto na região orofacial, e esses sintomas podem surgir meses ou anos depois da quimioterapia ou radioterapia.
“Por mais que seja feito todo um trabalho preventivo e com equipes multidisciplinares, esses efeitos tardios podem ocorrer. Por isso é importante manter a rotina médica e odontológica em dia, para que seja possível amenizar esses sintomas”, finaliza dr. Artur Cerri.
Fonte: Drauzio Varella
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