[ARTIGO] O paciente idoso deve saber se ele estiver com câncer?

Caro leitor, em relação à pergunta acima, acho que o grande segredo é admitir que não existe uma resposta absoluta que valha para todo mundo. 

Porém, podemos manter algumas premissas básicas:
 
  • Todo adulto que quer saber algo sobre si mesmo tem o direito de perguntar e o médico tem o dever moral e ético de responder a pergunta.
  • Todo adulto que de uma forma ou de outra solicita não ser informado sobre algo que lhe diz respeito tem o direito de não ter de ouvir o médico impor-lhe a informação indesejada.

O princípio que deve orientar ao médico é o de dar a informação solicitada pelo paciente, e cumprir aquilo que considera como de interesse maior para o paciente.

Um fator de extraordinária importância é o fator cultural, que faz, por exemplo, com que o latino (brasileiros, descendentes de espanhóis, italianos) raramente peça detalhes sobre sua doença, e faz com que a família tente evitar que o paciente saiba informações ruins sobre sua doença (às vezes ao ponto de familiares não quererem que se pronuncie o nome da doença). Embora este instinto de proteção seja baseado na melhor das intenções, na maioria das vezes esconde o fato de que o paciente não só sabe de toda sua doença e gravidade, mas ele próprio não quer falar sobre a doença em frente a familiares, para poupá-los de informações ruins. Assim, tanto o paciente quanto seus familiares sabem de tudo, mas cada um finge que está tudo bem na presença do outro. Obviamente esta situação não ajuda em nada nem ao paciente nem a seus familiares a enfrentarem a situação.

Pacientes orientais quase nunca perguntam detalhes sobre sua condição, e grande parte das decisões é tomada pelos filhos, muitas vezes a pedido do próprio paciente; já pacientes anglo-saxões quase sempre querem saber tudo sobre sua doença, mesmo que seus descendentes (geralmente nascidos e criados no Brasil) tenham uma postura mais latina e protetora.

Cabe ao médico oncologista pensar no melhor para o paciente, respeitando seus valores culturais.

Embora isto pareça óbvio, muitas vezes é extraordinariamente difícil, especialmente quando existe discordância entre filhos quanto ao grau de informação a ser passado ao paciente.

Por último, existem situações raras em que familiares propõe sonegar informações dos pacientes mesmo que estes as procurem. Nestes casos, é perfeitamente possível que o médico não se sinta confortável em continuar como responsável pelos cuidados ao paciente, por considerar que os direitos deste não estão sendo respeitados.  Neste caso, o melhor a fazer é procurar um outro médico que possa lidar com este conflito de maneira melhor, evitando assim um conflito entre familiares e médico, este sim, com consequências graves para os cuidados ao paciente.

Sugiro sempre aos parentes de meus pacientes que pensem no que o paciente teria respondido se lhe fosse perguntado o quanto ele quer saber sobre sua doença. Quando os parentes ainda assim não conseguem imaginar quanto o paciente quer saber, eu próprio faço a pergunta diretamente ao paciente.

Surpreendentemente, esta pergunta diminui a ansiedade (e não o contrário), pois faz com que o paciente confie que você de fato está do lado dele, trabalhando pelo seu bem independente da resposta. 

Em última instância acredito no que meus pacientes idosos me dizem: ver os familiares com frequência e sentir o amor deles e o esforço em ajudar lhes é mais importante que saber se irão viver três meses ou três anos.

Rafael Kaliks
Oncologista Clínico
Diretor Científico do Instituto Oncoguia
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