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  • Tatiane - Câncer de Fígado
    "Pai, você se foi mas a sua lembrança em nossas vidas é eterna."
Vivemos uma vida tranquila e normal... Pensamos em sonhos, realizações e em crescer, mas a vida às vezes nos prega peças que nós nunca esperamos.
 
Meu nome é Tatiane e estou aqui para desabafar sobre como a morte do meu pai mudou para sempre a minha vida. Meu pai era um homem corajoso,  trabalhador, agricultor, sempre lutou por uma vida melhor para sua família. Ele tinha hepatite B, acredito que todos conheçam essa doença, ele a adquiriu no seu nascimento. Ele sempre se cuidou e fez exames para controlar, mas esses exames não mostraram aquilo que seria o fim para ele e para nós.
 
Em um dia de trabalho, meu pai estava plantando soja no sítio quando pegou um saco de sementes e sentiu algo estranho em seu abdômen. Ele não era de ir ao médico sem motivo, mas quando sentiu isso ele foi. O médico pediu um exame de ultrassom do abdômen e, para o nosso desespero, foram descobertos vários nódulos em seu fígado (o maior medindo 10 cm). Apesar disso, tínhamos a esperança de que poderia não ser maligno. Foi ai que a espera mais angustiante da minha vida se iniciou... Meu pai fez uma cirurgia para remover praticamente metade do seu fígado, realizando também a biópsia. Eu nunca na minha vida havia chorado tanto e desde que ele tinha descoberto os nódulos eu chorava sem parar. Até que caiu algo sobre minha cabeça que me mudaria para sempre: a biópsia mostrou que os nódulos eram malignos e não só isso, mas também que a doença já tinha passado para o abdômen e peritônio.
 
Aquele foi um dia triste e escuro pra todos nós. Meu coração chorou... Eu olhava pra ele e chorava... Queria ser forte, mas não conseguia. Foi então que eu adquiri uma coisa que me acompanha infelizmente até hoje, as crises fortes de ansiedade. Para alguns a ansiedade pode parecer bobeira, mas aquela notícia havia me destruído por dentro. Eu não tinha psicológico para enfrentar a situação e não estava preparada para aceitar que meu pai ia morrer. Eu vesti uma armadura de confiança e pensava fielmente que ele iria vencer o câncer.
 
Meu pai passou por sessões de quimioterapia que sugaram a sua vitalidade e seu peso. Ele perdeu muitos quilos e ganhou mais cabelos brancos. Sentia vergonha pelo seu peso. Eu o amava, paparicava, acariciava sua mão e dizia pra ele que ele iria vencer essa doença.
 
Em um dia de consulta foi pedido uma ressonância para ver como ele estava, no dia do resultado meu pai foi ao hospital do câncer e tinha uma consulta marcada com o médico paliativo (essa palavra me faz chorar escrevendo isso). Nesse dia que eles desenganaram meu pai, o meu herói, minha segurança, a pessoa que eu mais amava. O tumor no fígado havia voltado. Ele estava com tumores pequenos no pâncreas, no peritônio, no abdômen, estava na pele também... Que dia triste... Ali nossas esperanças foram jogadas ao vento, mas mesmo assim eu ainda acreditava em um milagre.
 
Meu pai lutou por 1 ano e meio contra o câncer e nós lutamos ao lado dele. Em um domingo, pouco tempo antes dele partir, ele acordou se sentindo muito bem e sem dores. A morfina estava fazendo efeito, ele almoçou muito bem (coisa que ele não fazia mais), deu risada, brincou com os netos, conversou, dirigiu o trator, fez a plantação que ele tanto amava e estava confiante dizendo que iria viver. Dizem (eu até então não acreditava), que existe a melhora da morte. É um dia que a pessoa fica bem, se sente ótima e vive como se não existisse doença. Esse foi o dia dele.
 
No dia 25 de outubro de 2016 eu estava no meu trabalho e às 19:15 recebi a pior ligação da minha vida. Minha irmã me ligou falando que meu pai tinha ido para o hospital e que não estava bem. Eu, na mesma hora e muito nervosa, tive uma crise de ansiedade. Chorava e implorava para Deus me ajudar. Creio que tudo tem a hora para acontecer e, mesmo eu não acreditando, tinha chegado a hora do meu pai partir.
 
Chegando no hospital já me desesperei, pois queria ver ele. Infelizmente ele já estava em coma. Ah Deus... como doeu ver ele daquele jeito... Eu sabia que não tinha mais oque fazer e, por incrível que pareça, eu tive força de chegar perto dele, abraça-lo, beijá-lo e dizer a ele "Pai, eu cheguei tá... eu tô aqui e eu te amo muito. O Arthur tá lá fora ele te ama muito". Foi quando eu vi uma lágrima descendo do olho dele. Ele tinha me escutado e ouviu que eu estava lá. Eu falei pra ele com muita dor no coração "Pai, pode descansar... fica tranquilo que nós vamos ficar bem". Ele pôde receber seus irmãos para se despedir e então, às 23:50 da noite, o médico falou com minha mãe e disse que ele estava encaminhando pra óbito.

Só quem vive esse momento sabe a dor que é você ouvir isso... Eu senti no meu coração quando ouvi isso ao entrar mais uma vez e ficar com ele o tempo que ainda tinha. Entrei no quarto e a respiração dele já estava mais tranquila. O  seu rosto parecia como se estivesse dormindo tranquilo. Cheguei ao lado dele, deitei minha cabeça em seu peito e, sem demonstrar a ele que eu estava desesperada, dei o abraço mais forte que pude. Eu falei no ouvido dele "Pai, eu te amo" muitas vezes... Falei tudo que queria falar. Então, exatamente às 00:15, enquanto eu acariciava a cabeça e rosto dele, Deus levou o meu pai para seu descanso. Ele partiu na minha frente e eu vi seu último suspiro e ouvi o último batimento do seu coração. Eu entrei em choque e chamei o médico. Ele confirmou o falecimento e eu fui tirada de dentro do quarto por uma enfermeira e uma mulher que estava próxima.
 
Estava em choque... O meu pai, meu herói e exemplo havia partido. Eu não sei explicar o tamanho da dor. Hoje, dia 26 de outubro de 2020, vai fazer 4 anos que ele partiu... Esses anos sem ele não foram fáceis e não vai ser fácil no futuro. A saudade dói demais. Tenho até hoje problemas com o trauma que foi a morte dele. Tenho síndrome do pânico, crises de ansiedade e um medo absurdo da doença. A morte dele me marcou... ficou uma ferida.

Eu não sei dizer se um dia tudo isso vai sumir da minha vida, só sei que tive um pai incrível e a saudade dele será eterna. Sempre sentirei saudade dele,  das coisas boas que me ensinou, dos momentos que passamos juntos, das vezes que trabalhamos juntos na roça e de quando eu, ele e minha irmã apostávamos corrida no meio do café...

Pai, você se foi mas a sua lembrança em nossas vidas é eterna.