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  • Patricia - Tumores Cerebrais / Sistema Nervoso Central
    "Minha mãe foi maravilhosa, foi a melhor mãe do mundo, seremos eternamente gratas por tudo que ela fez pela gente!"
No dia 29 de Janeiro de 2020, estava em casa , quando minha mãe me chamou apavorada e estava tendo uma convulsão. Entrei em desespero, chamei socorro e seguimos para o hospital. Fez uma bateria de exames e perceberam uma lesão cerebral, então fizeram uma ressonância e foi descoberto um Glioblastoma Multiforme Grau 4.  Lembro- me de pesquisar do Google e entrar em desespero ao saber de um tumor tão agressivo. 
Era necessária uma cirurgia o mais rápido possível e lá fomos nós cheias de esperança. O prognóstico não era bom, mas tínhamos muita fé. Após a cirurgia, cheguei para ver minha mãe e ela com um lado paralisado, uma grande cicatriz na cabeça, minha pressão baixou e comecei a passar mal. Não foi fácil ver isso... Dias depois houve uma complicação, ela teve um edema que precisou ser drenado em outra cirurgia. Nesse dia, eu e minhas duas irmãs chorávamos ao esperar ela sair de mais um procedimento.
Bem, seguimos... Ela iniciou fisioterapia, começou a voltar a dar uns passos e nos seguimos muito otimistas.  Então iniciou a radioterapia. Nesse momento, minhas irmãs participaram de todo processo, como sou de outra cidade não pude estar presente em todo tempo, e iniciaram mais lutas. Com pânico, minha mãe não conseguia fazer a sessão sem ser sedada, em uma das ocasiões convulsionou por conta de nervoso. Estava muito difícil pra ela, todo dia nos perguntava " hoje vai ter sessão?",  ela tinha muito medo. Como era o início do tratamento , seguimos insistindo para que ela continuasse, pensamos em formas de amenizar seu medo... Não foi fácil, mas se fazia necessário naquele momento de muita esperança. 
Passadas algumas sessões, o médico avaliou que não faríamos todas as sessões, acho que ele percebeu o quanto estava sendo difícil e sabia que não teria tanta diferença. Minha mãe continuou com a quimioterapia via oral. Exames de sangue de 2 em 2 dias, plaquetas baixas, hospital para repor.... Seguimos assim , muitas e muitas vezes...ela estava cansada, não tinha mais onde furar em seu braço, o braço estava todo roxo.... 
As sessões de fisioterapia já estavam complicadas também, ela não queria mais fazer, se tornava um tormento para ela. Ela queria ficar no cantinho dela, sem ficar fazendo esforços... Pensamos em aceitar essa decisão e não " forçamos" mais... Ela ficou acamada, foi perdendo os movimentos, dependendo cada vez mais... Procuramos trazer um pouco de conforto pra ela através das comidas que ela gostava. Dava gosto ver ela comendo, sendo uma das poucas coisas que conseguia fazer. Nesses dias que se seguiram demos muito amor, tentando tornar as coisas um pouco melhores. Aí veio um surto, percebendo essa condição, ela teve alucinações e um surto psicótico. Corremos para o hospital, foram dias muito difíceis, ela não dormia, tinha agressividade e chorava. Saindo do hospital o médico ia seguir com o tratamento e pensamos se valia a pena tanto sofrimento... Buscamos uma médica de cuidados paliativos e por aí seguimos. Sem exames de sangue e hospital toda hora. Ela ficou em casa, passou momentos bons com a família, sem mil intervenções. Dormia, comia, falava algumas palavras , ganhava muitos abraços dos netos. Estava em paz, recebia visitas de parentes... O tratamento paliativo possibilitou isso, que ela ficasse em casa.
Passado um tempo a situação voltou a ficar difícil, o corpo já estava " largado", usando fraldas e tomando banho no leito. Iniciaram as demências... Foi a hora de voltar para o hospital. E ali seguiu, teve que fazer uma gastrostomia pois já não conseguia engolir mais... Foram os dias mais difíceis, ver sua mãe impossibilitada de comer que era a coisa que ela mais gostava...  E assim os dias foram passando, tomando morfina para dor e muitos outros remédios... No dia 26/11 ela partiu, sem dor, abraçada em duas das filhas, no dia do aniversário de seu irmão. Eu que escrevo, não pude estar lá pois peguei covid, mas acredito que tudo isso aconteceu pois ela queria me poupar, ela sempre quis nos poupar de sofrimentos, talvez pelo fato de estar mais longe, ela quis assim. E os planos de Deus são maiores que os nossos. A dor é imensa, a saudade corrói, mas a certeza de que ela está sem dor e em paz acalenta um pouco nosso coração. Minha mãe foi maravilhosa, foi a melhor mãe do mundo, seremos eternamente gratas por tudo que ela fez pela gente!