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  • Marina Ferreira - Tumores Cerebrais / Sistema Nervoso Central
    "Minha mãe foi uma guerreira!"

Foram ao todo quase dois anos desde a primeira convulsão. Em março de 2020, início da pandemia, descobrimos um tumor cerebral que aparentava ser maligno por suas características e que surgiu e cresceu de repente, pois ela nunca se queixou de nada. 


Com sorte conseguimos o melhor tratamento da região e foi bem rápido até a cirurgia. O tumor foi todo retirado sem deixar sequelas. Ela saiu da cirurgia tão bem que ficamos impressionados mas a biópsia, uns dias depois, confirmou as suspeitas, era um tumor maligno com o maior grau de agressividade. Ele tinha sido todo retirado, porém suas raízes ainda poderiam renascer. 


Foram 10 sessões de radioterapia e alguns meses de quimioterapia oral. Alguns sustos no meio do caminho, umas corridas ao hospital e ainda tendo que lidar com um vírus altamente perigoso no nosso meio. O tratamento oral não estava fazendo o efeito esperado então ela começou a químio venosa, e vocês se enganam quando pensam que ela estava triste, sofrendo (não nessa época), não tinha corona que segurasse aquela mulher em casa, não era injeção na veia que fizesse ela ficar assistindo televisão quietinha protegida do vírus. Saiu, passeou onde não podia, aproveitou as amizades até que pegou covid, mas ali naquele corpo ele não conseguiu nada. Passou ilesa. 


Quando a química venosa se iniciou era um chute no escuro. Em nenhum momento foi dito que daria certo, a briga era de gente grande, mas seguimos sempre confiantes que funcionaria. Foram só umas duas sessões até tudo começar a acontecer rápido demais. 


De julho de 2021 em diante, 1 ano após a cirurgia, uma simples tarefa de casa era esquecida, uma caminhada que falhava, uma frustração por não saber mais mexer no celular, era como se estivéssemos ensinando uma criança a começar do zero, até o dia em que não conseguia mais se equilibrar, andar, comer sozinha… após uma crise convulsiva ela precisou ser internada e o médico depois de ouvir os relatos não precisou nem confirmar sua suspeita através de ressonância, de que o tumor tinha voltado (crescido um novo no mesmo lugar). 


Ele já sabia, ele que passou por tantas situações como essa, estava nos dizendo que não haveria mais a cura. Um choque de realidade, o que seria feito agora era tratamento paliativo, melhorar a qualidade de vida dela nos meses que ainda lhe restavam de vida. O que ela precisava agora era da família e o melhor cuidado e amor que poderíamos dar. É isso foi feito, minha mãe voltou pra casa já acamada, movemos céus e terra para ser feito o melhor para ela. 


Foram os 7 meses mais difíceis da minha vida, ver ela que era tão cheia de vida, independente, ali prostrada, necessitando de cuidados, era de partir o coração. Até o dia do meu entendimento eu questionava muito Deus do motivo das pessoas terem que passar por esse sofrimento para que seja feito algo novo. Não foi uma semana, um mês, foram 7 meses de luta, dia após dia algo novo aparece. Intensificamos nossas orações e ali se fortalecia nossos laços, nossa fé. 


Nos momentos em que estávamos todos juntos Deus agia sobre nós. Eu tinha esperanças de que um dia eu iria acordar com uma notícia grande, um milagre! O meu Deus é o Deus de milagres, não aconteceu com ela, mas não é por isso que deixarei de acreditar. Uma coisa é certa, somos melhores agora que antes, o aprendizado nos fez fortes e eu não estaria aqui escrevendo isso se não estivesse em paz comigo mesma de que o melhor, o que estava ao meu alcance eu fiz e estaria fazendo se ela ainda estivesse aqui! Foi sim uma grande perda, minha mãe tinha 58 anos, viveu muito como ela sempre quis VIVER, mas foi precocemente para nós humanos. Faltou vivenciar momentos, desfrutar dos netos, conhecer outros … Ela foi uma guerreira, nós fomos guerreiros e a vida segue seu ritmo. Onde era tensão, medo e ansiedade, hoje serão lembranças, saudade e mansidão pois sei que o melhor lugar é onde ela está! Minha mãe não morreu, ela descansou de uma luta contra um câncer! Ela está nos braços do Pai, onde não há mais dor nem aflição!