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  • Maria Angélica de Barros - Câncer de Pulmão - Não Especificado
    Eu fiquei cinquenta dias internada com meu marido, e foram dias difíceis, alguns dias até conseguimos rir, outros, choramos juntos ...
Este ano ficará marcado para sempre, em 23/02/13 recebi a notícia em um Hospital Público que meu marido estava com câncer avançado. Foi um baque, dá uma impressão de que se leva um soco na boca do estômago, a partir deste momento tudo mudou em nossas vidas. Meu marido sempre foi independente, eloquente, uma pessoa intensa e de repente se viu em uma cama de hospital. Eu demorei um pouco a autorizar os médicos contarem uma verdade sutil, pois no quarto dia de hospital foi confirmado metástase cerebral, e não deram esperanças. Acredito que esta é a pior parte, pois jamais se tira a esperança do ser humano, então ao meu marido alimentei a esperança até o fim, após dezessete dias aguardando uma possível biópsia, fomos transferidos para outro hospital público, para melhorar o possível tratamento. E então após quinze dias neste outro hospital, recebi de forma dura, que nada mais seria feito, pois a doença estava avançada, e para tentar uma radioterapia seria necessário uma biópsia, que infelizmente, acreditavam que meu marido não resistiria. Eu fiquei cinquenta dias internada com meu marido, e foram dias difíceis, alguns dias até conseguimos rir, outros, choramos juntos, outros, ele só dormia, passei a Páscoa velando seu sono profundo de três dias, cuidei para ele, estive conectado ao meu amor, falei ao seu ouvido o tempo todo, cuidei para que não exagerassem nos remédios, enfim, até mesmo de sua aparência, e faria tudo de novo. E tive a recompensa pois na segunda-feira após a Páscoa ele acordou, foi a chance que pedi a DEUS para ficar mais um pouquinho, a chance do meu marido ver nossas filhas, falar com os resistentes a hospitais e a situações de difíceis. A luta continuou, até os dias que meu marido não pode mais falar, sei que nos comunicávamos. No dia final 13/04/13, não consegui mais acordar meu marido, tentei o dia todo, falei, abracei, mas as 21:31 após ver seu coração tentar continuar, meu marido se foi nos meus braços. A dor é imensa, a impotência é terrível, após cinquenta dias a impressão é que nada adiantou, mas jamais poderia ser egoísta e mantê-lo entubado.
Realizar este depoimento dá uma impressão de desabafo, e ao mesmo tempo espero contribuir com o próximo para que se cuidem, a dor de quem fica é sempre maior.