No início da doença ela ficou mal, internou para tratar um derrame pleural. Logo se recuperou com as primeiras quimioterapias. No Natal do ano passado, ela estava ótima, deu uma grande festa em casa. 

Em março desse ano, o câncer voltou com mais força e metástase cerebral. Ela perdeu os movimentos e ficou dependente de O2 e de mim. Durante todo esse tempo, eu (com 22 anos) fiquei o tempo todo do lado dela. Parei de trabalhar e tive muitas faltas na faculdade, pois ela me queria sempre do lado. Me chamava e ficava triste quando eu saía de casa. Tive muitos dias horríveis, onde a vontade de chorar era grande, mas eu não podia demonstrar.

Além de contar com pessoas especiais, que me davam força, sempre tive muita fé e acredito na vida além-tumulo, acredito que estamos aqui apenas de passagem, que um dia todo esse sofrimento termina e que vamos, com certeza, nos reencontrar. Que Deus sabe exatamente tudo que faz. 

Ela foi um exemplo pra mim, foi honesta, digna, batalhadora e sonhadora a vida toda. Sofreu muito, mas nunca deixou se abalar. Era um exemplo de ser humano. 

Nunca me revoltei com a doença dela. Sempre procurei entender que aquilo era uma prova pela qual teríamos que passar e enfrentar da melhor maneira possível. Sempre dei muita força pra ela, até o último minuto. Quando o desespero se fazia presente nos olhos dela, eu imediatamente procurava animá-la. E acho que conseguia. 

Nunca pensei que ela fosse partir. Todas as minhas orações e orações de toda família, muito católica, ajudaram muito. A médica que atestou o óbito falou que, nos últimos dias, o câncer se espalhou... garganta, intestino... E ela nada sentiu. Nenhuma dor. Nenhuma queixa. Essa foi a recompensa por ela ter sido uma pessoa tão boa, tão brilhante. 

Temos o livre arbítrio de que caminhos queremos seguir aqui na Terra. O que fazemos com o nosso corpo e a nossa mente nos traz conseqüências. Mas existem coisas que fogem do nosso controle e é nesse momento que conseguimos crescer e evoluir. 

O câncer é, sem dúvida, um importante fator no nosso desenvolvimento espiritual. O modo como lidamos com ele e o sofrimento que passamos, nos fazem ver a vida com outros olhos. Dar valor às coisas pequenas. Dar valor à vida. A tudo que temos. A cuidar hoje do nosso corpo e da nossa mente, antes que seja tarde. 

Tenho certeza que ela está num mundo melhor agora, se recuperando, evoluindo e um dia nos reencontraremos. Porque os laços de amor e carinho que aqui criamos, são eternos. 

O câncer muitas vezes tem cura, graças a Deus e à medicina, mas, quando não tem, temos que tirar as melhores lições possíveis dele. Não desanimem. Tenham fé, se apeguem em algo que lhes dê força. Há um amanhã melhor nos esperando.