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  • Lucia. - Câncer de Mama
    "Mãe, eu sempre vou te amar."

Em 2009 minha mãe teve o primeiro câncer de mama, fez o tratamento: quimioterapia e radioterapia.


 Um ano antes havíamos perdido a minha avó (mãe dela) para o câncer no fígado, então o medo, a angústia, a incerteza tomavam de conta da minha mãe durante o tratamento, mas ela sempre foi muito forte, ou se fazia de forte, os efeitos colaterais não deixaram ela se abater. 


Seguiu firme o tratamento, lutou contra a doença e ficou curada. Apesar de ser muito vaidosa, a queda de cabelo foi o de menos, ela usou lenço e peruca e não deixou a autoestima cair. Era uma mãe amorosa, cuidadosa, uma mulher elegante, tinha um coração enorme. Sempre preocupada com o bem estar das pessoas e dos seus irmãos. 


Ela era apaixonada pelo meu pai. Eles sempre estavam juntos. Eu imaginava que cuidaria deles até o fim, bem velhinhos. Apesar da cura em 2009, ela nunca deixou de fazer acompanhamento médico. Em novembro de 2015 após as consultas de rotina, descobrimos um novo nódulo na outra mama. Dessa vez ela precisaria fazer uma cirurgia para retirada do nódulo e fazer apenas radioterapia. Ela estava muito confiante que tudo ia dar certo. Teve todo o apoio da nossa família.


 Passamos o natal e o ano novo muito felizes. Principalmente o ano novo, foi inesquecível! Em janeiro de 2016 meu pai adoeceu repentinamente: Encefalite viral herpética, doença rara que levou ele em 13 dias. Meu pai teve convulsões, perda de memória e antes de ir pra UTI presenciei um abraço dele apertado na minha mãe que parecia uma despedida e foi, pois os dias restantes ele foi entubado e não tivemos mais a chance de falar com ele. 


Foram dias de angústia. Ele faleceu em 3 de fevereiro de 2016. Foi o primeiro pior dia da minha vida, uma parte de mim tinha ido. Que dor terrível. Minha mãe estava dilacerada, pois perdera o companheiro de vida dela.. eles eram tão unidos que a minha mãe se tornou uma mulher triste, depressiva…parecia que nada mais fazia sentido e ela precisava reagir, pois iria passar por uma cirurgia e fazer as sessões de radioterapia. Em abril de 2016 ela operou e retirou o nódulo da mama. Teve apoio meu, do meu irmão e da minha tia Lu. 


Nós três estávamos juntos nessa luta, ela fez o tratamento da radioterapia e tudo estava controlado. Mas a falta do meu pai era um buraco no coração da minha mãe. A vida seguia com esse vazio dentro dela. Em novembro de 2017 minha mãe sentia muitas dores na barriga, dores cada vez mais fortes. 


Ela tentou esconder, mas insistimos para ela ir ao médico. Fez uma bateria de exames, e no dia 5/12/2017 o resultado: o câncer da mama havia se espalhado por todo o intestino. Estava tudo tomado. Nesse dia eu fiquei sem chão, senti meus dedos das mãos entortarem como se eu fosse ter um ataque. Eu queria gritar, chorar, eu queria morrer de tanta dor. Eu só tinha a minha mãe e eu não queria perdê-la! Essa doença tira as esperanças da gente. Ficava questionando Deus! Foram 49 dias até o dia que ela se foi. Passamos o natal no hospital, eu e meu irmão. Dormimos com ela. 


Ela dizia que o maior presente era a nossa presença ali juntinho dela. Não sabendo ela, que eu daria a minha vida pra estar no lugar dela. Dia 31/12/2017 ela começou a apresentar dificuldades para respirar e fomos informados que ela subiria pra UTI pra ter um acompanhamento melhor e lá não poderia ter acompanhante. Ela iria ficar sozinha, sem cuidado da família.. aquilo me dilacerou. Saímos do hospital às 17h e minha mãe ficou lá sozinha. 


Fui pra casa chorando com meu irmão e minha tia Lu, que acompanhou tudo junto com a gente. Enquanto todos comemoravam a virada de ano, passei a noite chorando de tanta dor no peito. Ela estava sozinha, eu queria cuidar dela! Quanta crueldade tudo aquilo, saber que eu teria apenas 1h por dia pra ver ela. Todos os dias eu ia visitá-la e a cada dia via a minha mãe que era linda ser destruída por essa doença. Magra, usando sonda nasogástrica no nariz, catéter no pescoço, fraldas. Sentindo dores mas sempre me passando positividade, preocupada comigo e com meu irmão. Ela não aguentava mais ser furada. Eu sempre pedia a Deus nas minhas orações que não queria que a minha mãe sofresse, pois ela não aguentava mais. Um dia, em meio a tantas dores ela disse: "Minha filha, aconteça o que acontecer, eu sempre vou te amar!!!” Aquilo foi a despedida! Eu nunca vou esquecer essa cena! Um dia antes do falecimento, eu dormi no banco das visitas junto com minha tia, com medo de ser aquela noite da sua partida. 


Eu queria estar ali por perto independente do que acontecesse. De manhã fomos pra casa, enquanto fomos pra casa minha mãe faleceu na presença do meu irmão às 11h, do dia 04/02/2018. Um domingo triste e chuvoso. O segundo pior dia da minha vida. Minha mãe se foi, minha outra jóia que fazia tudo por nós. Eu viveria tudo novamente para estar perto dela. Eu queria ter tido mais tempo com ela !! Essa doença é cruel. Deixou um buraco no meu coração. As vezes sofro muito lembrando dos dias dela no hospital, mas me conforta saber que ela está junto com Deus. Que ela não sofre mais! 


Aproveite seus pais, sua vida, diga que você ama hoje! A vida é um sopro. Se você tem um ente querido passando pelo câncer, dê amor, atenção e apoio.