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  • Gislaine Satyko Kogure - Câncer de Mama
    "A cura é a verdade, a presença e o deixar fluir - a aceitação."

Em dezembro de 2021, através do autoexame, descobri um nódulo na mama esquerda. Assim, com a alta densidade mamária, o diagnóstico divergia entre os exames de ultrassonografia e mamografia, contudo era uma lesão suspeita de malignidade. 


Não me recordo da pior frase: isso não é bom, é preciso verificar os marcadores tumorais; em outras palavras, você está com câncer. Perdi o chão, os sentimentos foram os mais diversos: angústia, solidão, culpa e medo. O caos absoluto. 


A fragilidade humana edificada nas representações simbólicas do câncer, de sofrimento e finitude. Em meio a desordem, o divino me convidava para um encontro. A unidade do coração. As experiências com as medicinas da floresta são singulares. A vivência que descortinou o véu de Maya. 


Efemeridade. Esse tumor não me pertencia, era um visitante inóspito de passagem em meu corpo físico. Conforme o divino que habita em mim agradecia e perdoava, a serenidade e a consciência se expandiram; e em outra dimensão um procedimento cirúrgico acontecia. Uma miração! Mas, como explicar o que você encontra ao olhar com tanta profundidade para dentro de si? Tão somente, a conexão plena com o momento presente? Dias depois, a malignidade do tumor foi confirmada.


 Estava imersa (Ilha Grande – RJ) na natureza e em sua força, no firmamento. Mochila, trilhas, mar, cachoeira, chuva, sol e vento, e minha filha - o amor singelo. Fortalecia- me . Era a certeza da extensão do tratamento com as medicinas da floresta. Era Natal, data crítica e simbólica da cura e com presença e aceitação, confiei e deixei fluir. Com os elementos presentes como exames, pesquisas e relatos, a estrutura simbólica do câncer perdeu força. 


O diagnóstico não significava um fim. Deixei-me guiar com o coração agradecido, em verdade com relação a tudo que estava por vir. As decisões foram frutos de partilhas, tanto em relação à cirurgia quanto a protocolos de tratamento, permitindo- me investigar e estar ciente de cada etapa do processo. Inclusive, podendo declinar da quimioterapia. A cirurgia foi excelente! Semana passada, finalizei as sessões de radioterapia, porém a hormônio terapia continua por 10 anos. E a vigília até quando me for permitido. 


Em meus dias, lido com um pouco de fadiga, os efeitos de uma menopausa antecipada, uma função debilitada do braço com perda de sensibilidade, e uma cicatriz. É o novo corpo / metabolismo que o câncer me proporcionou. Um novo ciclo se apresenta. Acredito que além do diagnóstico precoce, ser fisicamente ativa, o vegetarianismo, as noites bem dormidas e as práticas meditativas possam ter contribuído para o prognóstico favorável. Entendi que não tenho trabalho ou qualquer outro compromisso que mereça mais atenção do que os cuidados comigo mesma. Nesta jornada, oportunidades passaram. Pessoas caminharam comigo e outras apenas disseram, vá em frente. Não existe julgamentos, prossigo com aqueles que desejam ser. Estar, não basta! Mas em contrapartida, o câncer trouxe-me novas relações. Anjos que velam por mim, e pessoas que passam por angústia semelhante ou mais difícil, e que humildemente choram, sorriem e agradecem. Um sorriso que alimenta a alma. 


Assim, tomei decisões significativas em um processo de autoconhecimento com um novo olhar para a vida. A cura é a verdade, a presença e o deixar fluir. Cada etapa a seu tempo. Confiei na ciência e na medicina convencional. Confiei na medicina integrada que nutriu minha essência e manteve a minha frequência elevada, e sobretudo confiei no sagrado em mim. 


Quando a mente se aquieta é que a gente ouve o coração. Sinto - me agraciada! Compartilho as bênçãos com os cúmplices dessa jornada - médicos, profissionais da saúde, alunos, amigos e familiares de perto e de longe, em especial a Akemi – "linda luz”, assim é o seu nome - filha amada. 


Agradeço a cada vela acesa e invocação. Agradeço o rezo e a oração, a prece e a benzedura, e o firmamento e a magia. As múltiplas pertenças e as diversidades, que prosperam a fé. É o religar, o amor. Seria injusta ao citar nomes. Estou cheia de vida. A sobrevida e a castração não me cabem. Apenas creio que a mudança é a única constante nessa vida e que somos luz e sombra na mesma proporção. O câncer de mama é uma dura realidade, mas tem solução. Quanto mais cedo é descoberto, mais altas são as taxas de sucesso do tratamento.