Confira aqui os depoimentos

  • Fernanda Santos Rocha - Câncer de Pâncreas
    Tenha esperança e viva um dia de cada vez!
Decidi escrever depois te ter lido todos os depoimentos de câncer no Pâncreas que vi aqui.
 
Casei em setembro de 2015 e em março de 2016 meu pai foi diagnosticado com câncer no pâncreas, ele mesmo descobriu. O médico estava fazendo tratamento para pré-diabetes desde antes do meu casamento, mas já era o câncer e ninguém sabia.
 
O médico pediu um exame de sangue e deu alteração no fígado. Minha tia, que é aposentada da Fundação de Saúde do DF, disse pra fazer uma tomografia de abdômen total e levar para o médico juntamente com o de sangue. O resultado, vários cistos no fígado.
 
O oncologista, que foi uma benção nas nossas vidas, deu o resultado: câncer de pâncreas em estágio IV com metástase. Meu pai estava se sentindo indisposto, sem muita vontade de comer... começou a emagrecer. O médico começou imediatamente com a quimioterapia, tratou o meu pai super bem em todas as consultas, nos deu o whatsapp para nos ajudar com os sintomas que são muitos e aparecem do nada.
 
A clínica tratava meu pai de uma forma que nunca vi, foram sinceros, disseram que o caso era grave e que fariam tudo de melhor para o meu pai. Fiquei feliz por ter encontrado esta clínica, afinal o plano de saúde era do trabalho da minha mãe e não era um plano bom, não atendia quase em nenhum lugar, mas Deus cuidou destes detalhes.
 
Não digo que com quem não aconteceu desta forma, Deus não cuidou, mas acredito que a forma com que vemos a situação ajuda a entender os planos de Deus. Enfim... meu pai tinha o jeitinho dele, era nervoso, gostava de falar mal de político e tinha suas qualidades, amava cozinhar, receber as pessoas em sua casa e ir para o mato pescar.
 
Uma semana antes de sabermos o resultado do exame ele tinha ido pescar com minha mãe na fazenda de um primo, em Minas. Aproveitou até onde deu, a quimio é muito agressiva tanto para o câncer quanto para o resto do corpo. Meu pai começou a sentir muita dor na lateral da barriga, o médico passou um remédio similar a morfina e meu pai, com 10 dias de tratamento, parou de sentir as dores e parou de tomar o remédio.
 
Tomava remédio para enjoo, para dor e outro diurético, depois parou com todos. Isso foi bom porque como havia metástase para o fígado, não teria como filtrar tanto remédio assim.
 
Meu pai, sem dizer, foi se despedindo aos poucos, arrumou suas coisas, disse o quanto nos amava e que o casamento com minha mãe, 34 anos juntos, tinha sido maravilhoso. Dizia que se Deus o quisesse levar que só se preocupava com minha mãe, que se fosse pra Deus curá-lo seria para continuar cuidando dela.
 
Meu pai enfrentou a morte de frente! Nunca pensei que aprenderia sobre a morte com meu pai, por ele ser pessimista. Eu o via com os olhos serenos diante da situação, claro que tinha dias que meu pai estava mais agoniado e chatinho do que nem sei o quê. É normal, não é fácil essa doença, tanto pra quem tá passando quanto para a família.
 
Peguei licença do meu serviço e cuidei do meu pai. Minha mãe não podia se ausentar do trabalho, pois o plano de saúde era do trabalho dela, logo não podia perder o emprego naquele momento.
 
Meu pai foi ficando mais fraco, mas continuava falando. Começou a usar fraldas, pois não conseguia ir toda hora no banheiro, por estar fraquinho. Ele emagreceu muito e ao mesmo tempo começou a inchar bastante. Eu fazia massagem nas pernas e pés para melhorar essa situação. O cabelo do meu papis não caiu, mas ficou tão branquinho... Tinha 66 anos de idade.
 
Sempre nos abraçamos lá em casa e não saíamos ou entrávamos sem dar um beijo - minha mãe, meu pai e eu. E assim ficou durante o tratamento, porém intensificamos esse carinho.
 
Meu pai começou a ter disenteria no dia 05 de maio de 2016, a nutricionista oncológica e o médico oncologista, decidiram que teria que colocar uma sonda pelo nariz direto ao intestino para se alimentar e ganhar peso para fazer a próxima quimioterapia. Ele foi internado num hospital e a intenção era que ficasse até se acostumar com a sonda. O tratamento era paliativo, isso significa que não visava a cura, e sim proporcionar conforto e ajudar neste momento difícil, tirando todos ou pelo menos amenizando, os desconfortos do meu paizinho.
 
Fizeram um exame de sangue no hospital e os médicos falaram que meu pai seria encaminhado para UTI por estar com uma infecção. Eu pirei e disse que não, que não adiantaria, que meu pai ficaria distante da gente e o que queríamos era que ele ficasse perto.
 
Liguei para o oncologista dele e expliquei a situação, tinha uma médica que iria lá em casa. Tentávamos conseguir um Home Care pelo plano, o que não deu certo, mas a médica ligou no hospital e explicou toda a situação. Graças a Deus o hospital liberou o tratamento paliativo e meu pai voltou para o quarto. Ficou 2 dias na UTI, voltou mais fraquinho que antes, mas ainda falava.
 
Começou a tomar banho na maca, a voz começou a ficar fraca e ele tentou escrever, mas não conseguíamos ler porque estava tão fraco que não conseguia ter força pra escrever. Começamos a nos comunicar por gestos, eu dizia: "Pai, o senhor está com dor, se sim levante o dedo da mão." Ele não levantava, dai eu dizia: o senhor está com calor, se sim levante o dedo, ele levantava.
 
O meu pai não sentiu dor, isso foi incrível! Ele só sentiu nos primeiros dias, depois parou de se mexer mesmo, só respirava profundo. Eu não sentia mais o meu pai ali... Teve muitos outros detalhes que não consegui contar aqui, mas o que queria dizer era que essa história é triste, mas ao mesmo tempo, feliz por podermos cuidar do meu pai. Por termos conhecido pessoas totalmente humanas, por termos tido fé que tudo daria certo.
 
Infelizmente não saiu como queríamos que era tê-lo aqui hoje, mas isso não aconteceu. No dia 17 de Maio de 2016 meu pai se foi, a dor que já estava em nós teve fim e começou outra que foi a de não ter mais meu pai conosco.
 
Perdi meu pai e minha mãe, o amor da vida dela. Foi difícil e é difícil. O que nos conforta é que toda a vida que tivemos com meu pai foi vivida. Tivemos nossas brigas, tivemos nossas diferenças, tivemos nossas viagens e pescaria juntos, tivemos momentos de doenças e momentos de alegria por ter passado por elas, e no finzinho desta jornada tivemos a oportunidade única de nos despedirmos, isso sim, nunca tinha sido feito antes.
 
O amor sempre existiu e continuará a existir. Se o seu familiar está como meu pai, nunca desista da cura, mas não deixe ela atrapalhar seus momentos com ele, pois o dia da nossa ida pertence a Deus e não aos nossos planos.
 
Minha mãe e meu pai tinham lindos planos, pois meu pai já era aposentado e minha mãe faltava um ano para se aposentar, mas essa parte só ficou no papel. Por isso, viva o hoje, aproveite com ou sem doença. Não tente achar culpados onde não existe, o amor é a melhor coisa nesses momentos. Viva intensamente e se for a hora de nosso ente querido e amado ir, que vá com amor, com a certeza de que a vida aqui valeu a pena.
 
Que Deus os abençoe!