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  • A.A.G.R.N. - Câncer Colorretal
    "Convivo com o câncer desde que nasci."

Tenho 43 anos, casada, com 2 filhos. 


Convivo com o câncer desde que nasci. Meu pai foi diagnosticado aos 30 anos de idade com adenocarcinoma de cólon. Era recém-casado e meu irmão mais velho tinha meses de vida. 


O médico lhe deu essa notícia de forma curta e grossa e lhe deu uma sobrevida de 6 meses. Meu pai sempre me contou do desespero que o tomou ao receber essa notícia e olhar pro seu filho ainda pequeno. 


Com o passar dos anos ele aprendeu a conviver com a doença entre consultas, inúmeras cirurgias e recidivas. Após 6 anos eu nasci e cresci vendo e convivendo com essa luta. Vendo ele ficar frágil após cada cirurgia e se recuperando e ficar forte dia a dia como um verdadeiro herói. Após 4 anos do meu nascimento, foi a vez do nascimento da minha irmã mais nova que também conviveu com essa luta contra essa doença tão destruidora, mas nunca, em nenhum momento vi meu pai reclamando, triste ou entregue, muito pelo contrário, sempre brincando, de bom humor e cheio de ensinamento e histórias que hoje faço questão absoluta de passar para meus filhos.


Em 2003, aos 24 anos, tive meu primeiro filho, que era o xodó de meu pai. Primeiro neto. Foi uma injeção de ânimo para todos nós. Um dia que nunca iria sair da minha cabeça foi quando sentados na sala eu e meu pai conversando e meu filho brincando no chão, meu pai, pela primeira vez, com os olhos cheios de água olhou pro neto e disse: "Uma vida começando e a minha terminando".


 Aquilo foi um choque pra mim, pois nunca tinha ouvido palavras sem esperança vindas dele em nenhum momento da minha vida! Parecia que ele estava sentindo.


Pois perdi meu pai para o câncer 02 meses depois. Parecia o fim! Perdemos o chão! Ele era tudo, nosso alicerce e perdemos a luta! Anos passaram e essa doença voltou a nos assombrar e nos vimos frente a frente com a mesma luta na família. 


Meu irmão, aos 46 anos, foi diagnosticado com o mesmo adenocarcinoma de cólon que nos assombrou por tantos anos. Confesso que desabei, passei um filme de terror na cabeça, lembrando de tudo que sofremos e muito mais, tudo que meu pai sofreu com essa doença terrível. Começamos mais uma luta! Luta pra me manter em pé, luta pra manter minha mãe e minha irmã e principalmente ajudar meu irmão que ficou extremamente abalado. Não era pra menos.. Depois de anos, acompanhamos de perto essa tristeza. Tudo de novo... novas consultas, viagens cansativas, pois ele conseguiu tratamento em Jales/SP (a quase 560 Km de distância), nova cirurgia, sessões de quimioterapia, idas ao pronto socorro para amenizar os sintomas.


Realmente não é fácil, é triste, cansativo, mas nunca deixei transparecer pra ninguém..sempre passei pra eles o otimismo e a força que precisavam. Mesmo destruída por dentro! Foi entre o final de 2019 e começo de 2020. Isso mesmo! No auge de uma pandemia onde ninguém sabia ao certo o que estava acontecendo, só víamos pessoas doentes e morrendo, famílias destruídas! 


E nós com esse medo de contaminação e de mais uma vez perder a luta pra essa doença! No final de 2020, em meio às sessões de quimioterapia do meu irmão, a vida resolveu nos desafiar mais uma vez.. Em agosto de 2020, para nossa surpresa minha mãe foi diagnosticada com adenocarcinoma colorretal. Dessa vez desabei, perdi o chão.. Não achava justo tanto sofrimento! Perdi meu pai, meu irmão lutou pela vida e agora isso! Não podia acreditar! Confesso que precisei de terapia pra poder encarar mais essa luta. Foi uma nova batalha de consultas, cirurgias, sessões de quimio e radioterapia, muitos enjoos e novas corridas ao pronto socorro.. toda aquela rotina triste e estressante que insiste em fazer parte da minha família.

 

Hoje, março de 2022, meu irmão após muitos exames, está curado, mas tendo que fazer acompanhamento de tempo em tempo. Com minha mãe, estamos na luta ainda, pois teve recidiva, e surgimento de novos nódulos, estamos na preparação de uma nova cirurgia e tratamento! Medo? Muito! Muito mesmo! Só quem já passou ou passa por isso vai entender a proporção, mas também com muita fé em Deus e a certeza que teremos a vitória perante esse inimigo que insiste em nos rodear! Teremos boas notícias em breve, eu creio!