O II Fórum Regional de Discussão de Políticas de Saúde em Oncologia foi realizado no último dia 14, no Rio de Janeiro, gerando importantes debates sobre a atenção oncológica no Estado.
Organizado pelo Instituto Oncoguia para plateia de mais de 120 pessoas, o Fórum contou com palestras de diversos agentes no universo do câncer no Rio de Janeiro, como diretores de hospitais públicos, do INCA e da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica, representante da Federação dos Hospitais Filantrópicos do RJ e gerente da Agência Nacional de Saúde Suplementar, entre outros, que revelaram muitos dados alarmantes sobre as políticas públicas do câncer no estado.
Entre as discussões pautadas no eixo SUS, a relacionada à Regulação da Assistência ao Paciente com Câncer aclarou que o Estado do Rio de Janeiro não tem uma metodologia formal, organizada, para mediar o caminho do paciente dentro Sistema Único de Saúde entre o cuidado da saúde, o diagnóstico do câncer e o início do tratamento.
Sem um sistema informatizado que permite identificar e direcionar o paciente em cada uma das etapas, a capacitação dos profissionais que operam as centrais e o ‘diálogo’ entre o Estado e os Municípios para agilizar os processos, a fragilidade da regulação no Rio de Janeiro foi vista pelos palestrantes da mesa como motivo de muita preocupação e até de constrangimento.
"Embora o INCA esteja fazendo o seu trabalho, é vergonhosa a situação do Rio de Janeiro. Não conseguimos fazer os nossos registros. Eu trouxe a planilha da regulação do município, mas não vou mostrá-la, para não mostrar a nossa fragilidade”, declarou o Diretor Médico Assistencial do Hospital Federal dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro, Dr. Plínio Tostes Berardo.
Regular a Assistência é organizar o caminho que o paciente faz para conseguir acionar o Sistema Único de Saúde em todos os seus graus de complexidade, desde o acesso a uma consulta e exame, até o final do tratamento. Gestores de hospitais do Rio de Janeiro deixaram clara a grande dificuldade para o acesso a simples exames, como a mamografia, e para os exames mais complexos, como colonoscopias e biópsias.
A mastologista Thereza Cypreste, fundadora e diretora técnica da ADAMA (Associação dos Amigos da Mama de Niterói), falou sobre a gravidade da situação na instituição onde atua. "Eu tenho um pedido de mamografia de um médico da família parado desde novembro de 2012. De que adianta iniciarmos o tratamento em até 2 meses, como preconiza a nova lei, se a paciente está estancada antes do diagnóstico, por causa da ineficiência da regulação?”, questiona.
Dra. Thereza acrescentou que além dos problemas decorrentes da ineficiência das centrais de regulação, há ainda a urgência na contratação de médicos especialistas. "No serviço que dirijo faltam patologistas. Estou com um exame desde o final do ano passado ainda sem biópsia. Porque? Pois dois médicos se aposentaram e não foi aberto concurso público até agora”.
O representante da FEMERJ – Federação dos Hospitais Filantrópicos do Rio de Janeiro – Dr. Marcelo Prelló, citou como problema maior a escassez de recursos e de serviços. "Não adianta a regulação enviar o paciente para fazer um exame se o hospital não é capaz de atendê-lo. Nós estamos aqui falando em gestão da saúde, mas deveríamos falar de gestão do subfinanciamento da saúde”.
Release publicado no site da Revista Hospitais Brasil no dia 19/03/2013