[CÂNCER DE MAMA] Helena Conserva

Instituto Oncoguia - Você poderia se apresentar?
 
Helena Conserva - No meu entorno sempre estiveram pessoas ligadas às artes, seja literária (a minha preferida), cênicas, dança, cinema (a menos preferida por mim), plásticas.
Um dia, em casa de Solange Durães, fim de tarde, conversando sobre artes ela disse: vamos comprar o pão da tarde na padaria aqui ao lado e tomar um café com pão, manteiga e queijo. Eu informei que, para mim, pão só integral, queijo só branco e açúcar não refinado. Ela sorriu e comentou: você nunca terá câncer, não tem estresse com trabalho, é muito extrovertida, faz academia e o principal, cuida da alimentação.
 
Eu concordei feliz, mas o que nós duas não sabíamos era que eu já estava com câncer na época que ela fez esse comentário, diagnosticado pouco tempo depois. Isso foi em 2005. Lembramos, eu e ela, desse episódio.
 
O que a ciência diz sobre o câncer são suposições nem sempre plausíveis Hoje eu tenho 48 anos e metástase óssea. Antes quase nunca fui ao médico porque tinha uma excelente saúde e também quase nunca trabalhei porque as coisas quase sempre foram fáceis pra mim, mas agora parece que o círculo se fechou. Formei-me já bem tarde, em 2005. Sou graduada em Letras com Francês pela Universidade Estadual de Feira de Santana – Bahia, especialista em Língua e Literatura e agora na eminência do mestrado em Desenho, interatividade e arte.
 
Além da literatura eu gosto de jornalismo e pesquisa. Assumo colunas literárias em jornais há 15 anos.Também tenho alguns livrinhos publicados. Atualmente dou aulas de redação particular. A rotina de médicos tem atrapalhado muito o meu trabalho, pois agora eu preciso de verdade trabalhar. Sou divorciada, nunca tive emprego federal, estadual ou municipal. Meu curso de redação é em casa, mas já esteve no centro da cidade. Tive que fechar para cuidar da saúde.
 
Instituto Oncoguia - Como você descobriu que estava com câncer?  
 
Helena Conserva - Fazendo exames de rotina em agosto de 2005. No natal desse mesmo ano eu levei uma pancada muito forte no peito. No dia seguinte havia um nódulo grande e duro. Coçava muito, mas a médica estava de férias, não havia médicos em lugar nenhum a não ser na emergência. Eu aguardeio retorno da médica no dia 4 de janeiro de 2006.
 
Ela examinou e me mandou procurar uma oncologista. A onco que eu procurei prescreveu um remédio para inflamação porque eu disse que o peito inflamou da pancada. Tomei o remédio por 3 meses e o nódulo só crescia, coçava e ficava vermelho o peito e muito quente. Então a ginecologista disse que a oncologista que eu procurei era sua amiga e não era oncologista de verdade, era ginecologista com um mini-curso de oncologia. Fiquei revoltada.
 
Procurei outro oncologista que fez os procedimentos e constatou-se após pulsão e biopsia, que de verdade era câncer e me encaminhou para a cirurgia. Eu reuni todos os exames que tinha numa pasta classificador, arrumados por ordem e levei no dia da cirurgia. Nesse dia, já na sala, quando os técnicos e enfermeiros me preparavam, ouvi o médico comentar com muitos residentes que o nódulo foi detectado pelo ultra-som e confirmada na mamografia de agosto de 2005, mas a médica não tomou os devidos cuidados comigo.
 
O médico comentou com o residente que a cirurgia seria menos agressiva se a médica tivesse cuidado daquele nódulo em 2005 quando foi visualizado pelo ultra som. A cirurgia foi muito grande, retirou toda a musculatura peitoral. O oncologista cirurgião retirou a mama lesionada, retirou os linfonodos (havia metástase para seis), depois outro médico cirurgião plástico refez a mama (TRAM) e na mama lateral retirou e implantou silicone como medida profilática. Mas fui eu quem quis assim, o oncologista queria apenas tratar a mama lesionada e a CASSI só queria pagar a mama lesionada. Eu que ameacei o médico que iria publicar máteria jornalística sobre suas atitudes nos jornais, daí, sob essa ameaça, ele me encaminhou para tratar a mama lateral.
 
Quanto ao plano de saúde eu dei entrada numa petição e o juiz obrigou a CASSI a autorizar o procedimento. A cirurgia foi realizada no Hospital São Rafael, em Salvador. Reuni todas as provas contra a médica ginecologista, porém tive dezenas de outros aborrecimentos, fui processando um a um, e o dela foi ficando pequeno diante dos outros casos. Nem quero mais processá-la. Processei e denunciei quase todos os médicos que cruzaram o meu caminho com seus erros grosseiros.

Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico? O que sentiu?

Helena Conserva - Senti pena de mim mesma.

Instituto Oncoguia - Quais foram os passos tomados após o recebimento do diagnóstico?

Helena Conserva - Saí do consultório em lágrimas, fui ao carro (eu estava sozinha) peguei o celular e liguei pra minha mãe em outro estado. Depois, enxuguei as lágrimas, entrei novamente no consultório e disse ao médico: então dr. qual é o próximo passo? Ele disse: a biopsia e eu pedi que me encaminhasse. Saí dali e já fui fazer os exames pré-cirurgicos e no dia seguinte o de sangue e a tarde dei entrada no hospital para a biopsia.
Instituto Oncoguia - Em que momento do tratamento você se encontra agora? Quais tratamentos você já realizou?
 
Helena Conserva - Em 2009 tive recidiva óssea, parei o tamoxifeno e tive intuito de processar o laboratório, a ANVISA, a clínica, mas não tinha tempo. Fui encaminhada para a radioterapia e depois para a quimio, havia um nódulo localizado entre a C7 e T1. Primeiro fiz 9sessões de radio, seriam 10. Decidi não terminar, abandonei e não fiz a quimio. Peguei outro caminho: adotei tomar o látex do avelós diluído em água.
 
Convenci uma médica amiga a prescrever para mim o zoladex e o zometa. Fortalecer a coluna e inibir o aromatase. Então faço esse tratamento hormonal desde 2010. Uma vez por ano tomo juntos esses dois medicamentos. O tumor foi erradicado por causado avelós e os exames nos dois últimos anos dizem que todos os órgãos estão trabalhando em perfeita harmonia sem sombra de recidiva.
 
Porém, em dezembro senti que os fogachos acabaram e já era ora de retornar ao médico para fazer o zometa, o zoladex e os exames de acompanhamento, como mudei de estado (de Pernambuco para a Bahia), não os fiz e estou fazendo agora, mas apreensiva com uma dor estranha na articulação do joelho esquerdo.
 
Os exames de 2012 foram prescritos ontem em visita a médica, podem vir a ser diferente esse ano os resultados, não sei, Deus que sabe. Corremos sempre esse risco. Mas eu estou preparada.

Instituto Oncoguia - Em suao pinião, qual foi o tratamento mais difícil? Por quê?

Helena Conserva - O mais difícil é lidar com as pessoas que nos atende com má vontade, palavras ásperas, informações pela metade; pessoas que se preparam para cuidar de doente e não têm paciência, negligenciam desde uma palavra de coragem até uma ajuda para tomarmos um remédio numa melhor posição; e principalmente os médicos que tomam decisões sozinhos em seus consultórios sobre nossa saúde visando unicamente seus lucros.
 
Depois vem as instituições que contratam técnicos que estudam 6 meses e são habilitados para cuidar de vidas humanas e nos matam até sufocados por falta de habilidade em ministrar um medicamento ou um alimento, como a mãe da amiga da minha filha que morreu sufocada com sopa que uma técnica lhe dava. Ontem a técnica pegou meu braço mastectomomizado para aferir a pressão sem perguntar e chegou a iniciar quando eu lembrei e dei um grito.
 
Depois vem os planos de saúde. Eles são mesmo planos DE SAÚDE e quando adoecemos eles nos negam tudo. Só prestam enquanto temos saúde e não precisamos deles a não ser para um preventivo anual. Depois, o mais difícil é lhe é lhe dar com os fármacos. Não sabemos o que ingerimos. Os médicos em conchavo com os laboratórios nos prescrevem as pílulas da morte e nós, às vezes pegamos o dinheiro que compraria alimentos para nossos filho e compramos nossa piora ou nossa morte.
 
O câncer até agora não fez nada comigo diretamente mas, por causa dele conheço essas verdades. Por causa dele, agora eu sei como me comportar diante de um médico, um enfermeiro ou um técnico, uma instituição seja ela um hospital ou clínica ou plano de saúde e acima de tudo, com uma prescrição médica de uma droga letal. Meus filhos também aprendem e meus netos provavelmente absorverão minhas verdades através de meus filhos.

Instituto Oncoguia - Você teve efeitos colaterais?

Helena Conserva- Da quimio e da rádio. Atualmente tenho seqüelas no braço por causa de um procedimento errado do médico, que continua fazendo o mesmo procedimento com todas as suas pacientes e dizendo que é certo, muito embora a literatura médica diga o contrário.

Instituto Oncoguia - Como é a sua relação com o seu médico?

Helena Conserva - Atualmente aprenderam a lidar comigo. Fazem o que eu quero porque o que eu quero é certo. Eles não fariam se fossem me prejudicar. Mas fariam diferente porque o que eu quero é medida profilática e eles querem que eu adoeça para tratar. Medico não adota medida profilática. Têm medo de mim porque não só vou aos jornais como também os processo.

Instituto Oncoguia - Você fez acompanhamento com equipe multiprofissional?

Helena Conserva - Não. Mas acho que vou iniciar um tratamento com psicólogo. Preciso superar esse ódio dos médicos, da anvisa, da cassi, das clínicas, dos hospitais, dos técnicos e dos enfermeiros. Porém, poucos médicos orientam-nos a buscar esses profissionais. Ele são desvalorizados. Os médicos se acham suficientes. Não prescrevem, não indicam a equipe multiprofissional.
Instituto Oncoguia - Na sua opinião, o que é mais difícil de enfrentar durante o tratamento e por quê?
 
Helena Conserva - A nossa ignorância nos deixa suscetível a ser enganados pelos médicos porque nós achamos que eles querem o nosso bem. Prescrevem um medicamento em conchavo com laboratório quev ai favorecer para ele um passeio e pra nós uma grande complicação nonosso quadro.
 
Por exemplo, o médico prescreveu ARMAZIM para mim. Muito caro, 600,00 reais. Eu pedi um relatório ao médico dizendo o quanto aquele remédio era importante para o restabelecimento da minha saúde. O próprio médico disse, ao me entregar um cartão, que comprando naquele endereço eu teria 50% de desconto.
 
Com o relatório que ela me deu eu fiz petição ao juiz que obrigou o plano a custear. Com o cartão eu fiz uma denuncia da médica no CRM. Antes de eu tomar a droga, li a bula que orientava que aquela droga só poderia ser ministrada para mulheres pós menopausa. Mas eu não sou uma mulher na pós menopausa atualmente, que estou inibindo oaromatase, imagine naquela época. Perguntei a médica que ficou sem ter o que me dizer. Eu peguei a caixa de remédio na frente dela, joguei no chão e pisei em cima esmagando todos os comprimidos. Mas eu ainda fui vitima dela de outra forma.

Instituto Oncoguia - O que foi fundamental e lhe ajudou a enfrentar o câncer?

Helena Conserva - Eu dediquei muito tempo em leituras e em ouvir o tratamento de outras mulheres. As suas experiências, reações e dificuldades com as drogas. E me limitei a ouvir as asneiras, as crendices de quem não tinha câncer.

Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje? Nos conte sobre seu trabalho e planos para o futuro.

Helena Conserva - Estou me preparando para o mestrado e fazendo planos para o doutorado daqui a três anos. Estou concluindo mais um livro sobre a memória da minha cidadezinha no interior de Pernambuco, Serra Talhada, e pretendendo lançar em 2013.

Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje?

Helena Conserva - Leia, leia, leia a literatura na internet em sites confiáveis, converse nas comunidades de câncer com pessoas que tem câncer e evite o máximo vizinhos e curiosos que não tiveram ainda, a doença e nada tem a acrescentar. A leitura funciona como qualidade de vida ou cura, se assim preferir.                     

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