Estudo associa consumo de ultraprocessados a risco de desenvolver 25 tipos de câncer

Uma pesquisa demonstrou uma associação do consumo de alimentos ultraprocessados com o maior risco de aparecimento de câncer em 25 partes distintas do organismo.

O estudo foi feito pelo Nupens (Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde) da USP e publicado no último dia 6 na revista científica The Lancet Planetary Health.

Segundo o trabalho, uma dieta composta de alimentos processados ou ultraprocessados esteve associada ao maior risco de desenvolver câncer de todos os tipos e os mais específicos: cabeça e pescoço, de esôfago, colorretal, fígado e câncer de mama pós-menopausa.

No entanto, a substituição de 10% do consumo diário alimentar de ultraprocessados ou processados pela mesma quantidade de produtos in natura e não processados (como frutas, verduras e legumes) esteve associada à redução do risco de desenvolvimento de câncer.

A classificação Nova agrupa alimentos de acordo com o nível de processamento: in natura, minimamente processados, ingredientes culinários, processados e ultraprocessados, sendo os últimos aqueles mais associados a riscos na saúde.

A pesquisa, chamada Epic, acompanhou por uma década (de março de 1991 a julho de 2001) 521.324 indivíduos em 23 centros em dez países europeus: Alemanha, Dinamarca, França, Grécia, Itália, Holanda, Noruega, Reino Unido, Espanha e Suécia.

Os cientistas dividiram os participantes em quatro grupos distintos de acordo com a média diária de consumo de cada categoria de alimento: no primeiro grupo, a dieta era quase 77% composta de alimentos in natura e menos de 5% de alimentos ultraprocessados; no segundo e terceiro grupos as proporções de alimentos in natura caíam e de alimentos ultraprocessados aumentavam de tal forma que, no quarto grupo, a proporção de alimentos in natura era de 63% e mais de um quarto (25,3%) do consumo diário era de alimentos ultraprocessados.

Os quatro tipos de dieta foram comparados para avaliar o risco de desenvolvimento de 25 tipos de câncer. São eles: cabeça e pescoço, esôfago (adenocarcinoma e esquamoso), estômago (dois tipos), cólon, reto, fígado, vesícula, pâncreas, pulmão, rins, bexiga, glioma (medula e cérebro), tireóide, mieloma múltiplo, leucemia, linfoma não-Hodgkin, melanoma, cervical, endometrial, ovário, próstata e mama.

Do total de participantes, 450.111 foram incluídos na análise final e 47.573 tiveram algum diagnóstico de câncer e foram acompanhados até 2013.

A pesquisa tem a vantagem sobre ensaios clínicos randomizados por ter esse longo tempo de duração, diz Fernanda Rauber, pesquisadora do Nupens e uma das autoras.

"Estudos prospectivos populacionais possibilitam avaliar algum tipo de associação do consumo com o maior risco de doenças. Em contrapartida, é mais difícil, para não dizer impossível, medir a associação quando avaliamos indivíduos expostos àquela variável em um ensaio randomizado com o desfecho provável de câncer", explica.

De acordo com Nathalie Kliemann, primeira autora do estudo e pesquisadora da Agência Internacional de Pesquisa em Câncer da OMS (Organização Mundial da Saúde), os resultados apontam não só para a relação de maior risco do consumo de ultraprocessados com o aparecimento tardio de câncer, algo que já era conhecido, mas como esse risco pode ser revertido com a mudança nos hábitos.

"A substituição de 10% do consumo diário de ultraprocessados ou processados, segundo a classificação da Nova [de 2009], pela mesma quantidade de alimentos in natura ou minimamente processados provocou uma redução do risco. E isso tem ação direta no desenvolvimento de políticas públicas de promoção de saúde", afirma.

Kliemann ressalta, porém, que é preciso mudar o olhar individualizado das alternativas nutricionais, como se fosse simplesmente uma questão de escolha, para um olhar coletivo de saúde pública. "Não podemos culpar só o indivíduo, existe todo um sistema por trás", diz.

Segundo as pesquisadoras, o Brasil é um país que apresentou avanços significativos no que diz respeito às políticas de alimentação, com o lançamento, em 2006, do Guia Alimentar para a População Brasileira, e posteriormente, em 2009, com a classificação Nova, mas o consumo de ultraprocessados vem aumentando nos últimos anos.

"À época do início do estudo Epic, o consumo diário de ultraprocessados estava em torno de 30% em alguns países desenvolvidos. Esse índice chegou a 60% em países como Canadá e Estados Unidos. No Brasil, está na faixa dos 20%, mas vem crescendo gradativamente nos últimos anos", afirma Kliemann.

Para Rauber, a pesquisa Epic, apesar de não ter incluído dados do Brasil, pode ser extrapolada para diversos países justamente por ter concentrado participantes de dez países europeus com culturas e sociedades diferentes.

Fonte: Folha de S.Paulo

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