[ESCLARECIMENTO] A controvérsia sobre os excessos no rastreamento do câncer

Algumas vezes ao ano, são publicados artigos científicos médicos que questionam o real benefício de se fazer rastreamento para algum tipo de câncer na população. E a pergunta automática é: podemos parar de nos preocupar em fazer o rastreamento, então?

Não, lamentavelmente não.

O último destes artigos, publicado há uma semana na revista Annals of Internal Medicine (Ann Intern Med. 2012;156:491-499), afirma que ao fazer mamografia a nivel populacional estamos diagnosticando um grande número de casos de câncer que nunca iriam causar a morte destas mulheres, ou seja casos de diagnóstico excessivo. Antes de entrar nestes dados, peço ao leitor que acompanhe este raciocínio: imagine que ao longo de duas décadas sejam descobertos medicamentos infinitamente eficazes contra o câncer, mesmo que este seja diagnosticado em fases avançadas. E imagine agora, que em determinada região haja médicos bem treinados à disposição para examinar cuidadosamente qualquer mulher que tenha uma queixa, se necessário na mesma semana, e que todas as mulheres passam periódicamente por um bom exame físico mesmo que não têm queixas. Pois bem, este é o cenário que temos em alguns países do mundo: médicos bem treinados, mulheres bem orientadas e conscientes, e tratamentos sofisticados e cada vez mais eficazes. Em um contexto como este, é de se esperar que fazer rastreamento para câncer de mama em todas as mulheres possa não ser tão necessário.

Agora, ao artigo

Na Noruega, o programa de mamografia para todas as mulheres foi implementado em momentos diferentes nas diversas regiões, ao longo de uma década (de 1996 até 2005), permitindo comparar a incidência do câncer e a mortalidade pela doença entre áreas aonde já havia rastreamento e áreas aonde ainda não havia rastreamento. Com base em uma complicada metodologia matemática, observou-se que de fato o rastreamento diagnosticava mais casos, mas parte destes casos provavelmente nunca teriam levado à morte das pacientes. De acordo com os autores, entre 18 e 25% dos casos diagnosticados caiam nesta categoria de diagnósticos exagerados. Assim, na Noruega, para cada 2500 mamografias realizadas, 20 cânceres significativos seriam diagnosticados, mas entre 6 e 10 casos possivelmente sem consequências futuras também seriam diagnosticados. Além disso, como esperado, a introdução do rastreamento acabava inicialmente elevando a incidência (casos novos diagnosticados) de maneira muito significativa.

Na nossa função de informar a população e tentar ajudar em tudo aquilo que possa diminuir as mortes pelo câncer em nosso país, ao Instituto Oncoguia comentar alguns aspectos destas publicações polêmicas, para que interpretações tendenciosas não levem a mudanças nas nossas diretrizes atuais, prejudicando a população.

Quando dizemos que 18 a 25% dos casos diagnosticados são diagnósticos excessivos, isto quer dizer que os outros 75 a 82% dos diagnósticos com base no rastreamento foram importantes.

O artigo de fato gera perguntas científicas interessantes. Em um futuro não muito distante, o rastreamento será irrelevante se houver uma pílula mágica que cure o câncer em qualquer estágio. Até que isto ocorra, todo nosso esforço deve ser direcionado para que as mulheres neste país façam o rastreamento mamográfico a partir dos 40 anos, e para que tenham o tratamento adequado disponível de maneira imediata caso tenham um diagnóstico de câncer. Se olharmos o mapa da distribuição de médicos pelo país, veremos que é impossível esperar que cada mulher seja examinada assim que notar uma nodulação na mama. Neste contexto, rastreamento é absolutamente indispensável.

Rafael Kaliks
Oncologista Clínico
Diretor Científico do Instituto Oncoguia
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