[ENTREVISTA] Novidades no mundo do câncer

O que é ASCO?

Rafael Kaliks - ASCO é a associação americana de oncologia clínica, que promove anualmente um congresso onde são apresentadas as mais importantes novidades no tratamento do câncer. Quase todas as grandes novidades são apresentadas nesse congresso, geralmente um ou dois anos antes de poderem de fato ser empregadas no nosso dia-a-dia.

O tema central de discussão da ASCO foi a Personalização do Cuidado / atendimento ao paciente com câncer. O que isso significa na teoria e na prática?

Rafael Kaliks - A oncologia vem se valendo de novas descobertas para individualizar os tratamentos. Assim, enquanto uma determinada paciente com câncer de mama pode se beneficiar imensamente da droga A, uma outra mulher pode não obter nenhum benefício desta mesma droga A, mas pode se beneficiar da droga B. Isto já era conhecido há muitos anos, mas somente agora conseguimos prever com certo grau de certeza quem vai se beneficiar de uma ou outra droga. De fato, esta maior individualização do tratamento já existe em câncer de mama, câncer de cólon, câncer de pulmão, e deverá se estender a vários outros tipos de câncer.

Quais foram os grandes destaques do Congresso?

Rafael Kaliks - O maior destaque ficou por conta de uma nova classe de medicações que parece ser eficaz no tratamento do câncer de mama mais difícil de tratar, o chamado câncer triplo-negativo. Estes resultados positivos apresentados já determinaram a abertura de um grande estudo nos EUA que deverá incluir um grande número de pacientes com câncer de mama triplo-negativo metastático. Uma vez que este grande estudo confirme os achados iniciais apresentados, a droga deverá ser comercializada.

Um segundo destaque ficou por conta da documentação de benefício da continuidade de determinados quimioterápicos por períodos mais prolongados no tratamento do câncer de pulmão metastático.

Um terceiro, a sugestão de benefício de uma droga utilizada em câncer de mama, mas agora sendo utilizada no tratamento do câncer de estômago.

Existem novidades nos tratamentos do câncer?

Rafael Kaliks - Uma novidade é uma nova medicação hormonal no tratamento do câncer de próstata, chamada de abiraterona, e que deverá ter comercialização iniciada possivelmente no próximo ano.

Qual outro tema mais chamou a sua atenção?

Rafael Kaliks - A descoberta de que pacientes que foram tratadas para câncer de ovário não se beneficiam de fazer dosagens seriadas de um marcador, CA125. A prática atual é a dosagem deste marcador a cada 3 meses, e esta prática poderá mudar em função do trabalho apresentado, que mostra que esta dosagem não consegue fazer com que um diagnóstico mais precoce de eventual recidiva faça uma paciente viver mais tempo.

Durante o congresso foi apresentado um estudo mostrando a dificuldade do médico oncologista em abordar temas relacionados a fertilidade e sexualidade em pacientes com câncer. Gostaria que você comentasse sobre esse assunto e se você reconhece esta dificuldade também entre os médicos oncologistas brasileiros. Se sim, como você acredita que esta questão possa ser melhor abordada considerando sua importância na qualidade de vida deste paciente?

Rafael Kaliks - As questões de fertilidade e sexualidade são duas questões que devem ser abordadas separadamente.

De fato, em meio ao diagnóstico de um tumor maligno, muitas vezes o oncologista não dá a atenção devida ao aspecto da sexualidade, em função de a prioridade ser o tratamento curativo do câncer. Frequentemente pedimos auxílio para a psicóloga que atende todos os nossos pacientes para nos ajudar nesta questão. No caso de homens em tratamento hormonal para câncer de próstata, a impotência sexual ocorre na grande maioria dos casos, o que sem dúvida é um grande problema, de solução bastante difícil.

Já em relação a fertilidade, diversos quimioterápicos diminuem sim a fertilidade tanto em homens quanto em mulheres, e esta questão deve sempre ser abordada ao início do tratamento. Existem médicos especializados em fertilidade, e muitos oncologistas estudam esta questão devido a necessidade de tratar pacientes ainda jovens, e sem família constituída. No caso de homens, a criopreservação de espermas praticamente garante a possibilidade de ter filhos no futuro. Já para mulheres, embora exista a possibilidade de interromper os ciclos ovulatórios temporariamente, ou a possibilidade de criopreservar tecido ovariano, a taxa de sucesso subsequente é menor. Embora a criopreservação de embriões esteja sendo amplamente utilizada nos casos de fertilização in-vitro, nos casos de pacientes com câncer, não se dispõe do tempo necessário para fazer a fertilização in-vitro antes do início do tratamento oncológico.

Em relação a prevenção do câncer, gostaria que você comentasse quais foram as principais novidades.

Rafael Kaliks - Existe uma grande discussão sobre a utilidade da dosagem de PSA e do toque retal em prevenir morte por câncer de próstata. De fato, embora este rastreamento leve a um grande número de casos descobertos, muitas vezes este câncer não iria se manifestar ao longo da vida destes pacientes. No entanto, quando diagnosticados, estes pacientes são sim tratados, seja com cirurgia, seja com radioterapia. Eu diria que em vez de abandonar o teste de PSA, nós deveríamos colocar todo o esforço em identificar, dentre os pacientes diagnosticados com o câncer, quais de fato devem ser submetidos a tratamento, e quais podem ser observados ao longo do tempo. Esta é uma área difícil, e idealmente esta decisão deve ser tomada em conjunto pelo urologista, o oncologista e o paciente.

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