Contar para as pessoas
que você está com câncer pode ser tão difícil quanto receber o diagnóstico. Você
pode ter receio em perturbar a família e os amigos, além de se preocupar com a
reação deles. Mesmo depois de já ter dado a notícia, você pode se sentir
inseguro para falar abertamente sobre a doença, pedir ajuda ou até mesmo
responder as perguntas que te fazem e prefira dar um tempo a si mesmo.
Como, quando e para quem
falar, depende de você, separamos aqui algumas dicas para ajudá-lo a
compartilhar a doença:
Conversando com seu Parceiro
Se você é casado, ou
está em um relacionamento, o seu parceiro é quem vai sofrer o maior impacto com
a notícia da sua doença. É natural que o seu parceiro tema pela sua saúde e se
preocupe com o que possa acontecer a longo prazo. Provavelmente a doença vai te
impossibilitar de fazer algumas atividades do dia a dia, pelo menos durante o
tratamento, mas provavelmente seu parceiro irá entender e fazer o máximo para
ajudá-la.
Se você e o seu parceiro
estão acostumados a conversar abertamente sobre tudo, não será muito difícil
para ambos falarem sobre a sua doença. Se a comunicação não for o ponto forte
da relação, vocês podem buscar ajuda para conseguirem dialogar abertamente
sobre isso.
Confira algumas dicas que podem
ajudar:
- Leve seu parceiro nas consultas - Faça com que o seu parceiro participe das suas
consultas médicas, assim ele já fica sabendo junto com você sobre as opções de
tratamentos, possíveis efeitos colaterais, e já esclarece as possíveis dúvidas.
- Seja claro - Diga
ao seu parceiro exatamente o que você precisa. Não espere que ele pergunte o
que você tem ou como se sente. Fale o que está pensando e avise se precisar de
sua ajuda para alguma tarefa do dia a dia.
- Pergunte como seu parceiro está - Quem está doente é você, mas seu parceiro também
pode precisar de alguma ajuda. Assim como você, seu parceiro, familiares e
amigos também estão focados no seu tratamento e sua recuperação. E, assim como você,
também podem se sentir cansados ou desgastados. Pergunte ao seu parceiro como
ele se sente e o encoraje a fazer atividades prazerosas para aliviar um pouco a
tensão.
- Separe um tempo para vocês - Isso pode ser difícil, caso vocês tenham filhos,
mas tente arrumar um tempo a sós para os dois. Saiam para jantar, conversem,
não só sobre o câncer, mas sobre qualquer coisa que julguem necessário,
inclusive sobre o que estão pensando e sentindo com tudo isso.
- Cada um é cada um - Aceite o fato que cada pessoa reage ao diagnóstico de um jeito diferente.
Você pode querer pesquisar sobre a doença enquanto seu parceiro possa preferir
ouvir só o que o médico diz. Um pode ser mais otimista enquanto o outro pode
precisar pedir a opinião de outros. Converse com o seu parceiro e veja o que é
melhor para você.
- Veja o que precisa mudar - Converse com o seu parceiro sobre o que será
necessário mudar ou adaptar à rotina de vocês. Veja quais tarefas domésticas
você não poderá mais fazer e procure ajuda. Se você não puder mais cuidar da
sua casa, procure alguém para ajudá-la. Afastamento do trabalho também pode
acontecer. Conversem e decidam juntos o que precisará mudar na rotina e a quem
vão recorrer.
- Prepare-se para mudanças na vida sexual - Cirurgia, quimioterapia e outros tratamentos
para o câncer podem afetá-los física e emocionalmente. Seu corpo pode mudar, e
às vezes você pode se sentir mais fraco, enjoado ou até mesmo mais cansado. Mulheres
perto da menopausa podem ter os sintomas adiantados por conta da quimioterapia.
O desejo sexual pode diminuir. Converse honestamente com o seu parceiro sobre
essas alterações que você possa vir a perceber.
- Se necessário, procure ajuda - Um diagnóstico de câncer pode abalar até mesmo
os relacionamentos mais fortes. Um psicólogo ou psiquiatra podem ajudar a
orientá-los sobre como lidar com tudo isso. Se julgar necessário, pergunte
indicações de profissionais ao seu médico.
Conversando com as
Crianças
Se você tem crianças pequenas na
família, é provável que tente evitar que eles saibam sobre a sua doença, embora
essa não seja uma boa ideia, pois as crianças acabam percebendo que algo não
vai bem. Eles irão notar mudanças em sua aparência, cansaço e até mesmo podem
perceber a mudança da rotina,
Sem saber o que está
acontecendo, as crianças podem acabar pensando em várias hipóteses – algumas
até piores do que a realidade. A honestidade demonstra confiança, podendo
ajudar a criança não só a encarar o câncer de um familiar, como a encarar
outros desafios durante a vida.
- Planeje a conversa - Decida como irá dar a notícia e o
que vai falar. Falem juntos, você e seu parceiro ou algum outro adulto em quem
a criança confie.
- Seja direto - O mais importante é se referir à doença.
Deixe claro que se trata de um câncer. Diga como a doença se desenvolve o porquê
dos sintomas e possíveis sequelas, como, por exemplo, a mastectomia. Deixe
claro que é uma doença não transmissível e que seus filhos não foram os
responsáveis pela sua doença.
- Adiante os possíveis efeitos colaterais - Prepare as crianças para os possíveis efeitos
colaterais da doença. Conte que seu cabelo pode cair e que seu humor pode mudar
repentinamente. Explique que os remédios podem ser fortes e os tratamentos muito
agressivos, provocando inúmeros efeitos colaterais, não só em seu corpo, como
também na sua mente. Seja honesto e não esconda nada deles, conte até mesmo
quando precisar se ausentar para ir ao médico ou hospital.
- Tranquilize as crianças - Deixe claro que vocês farão o
possível para não bagunçar a rotina da família, que mesmo que você não possa
fazer tudo como antes, irá dar um jeito para tudo ser feito. E que enquanto
você não se recuperar do tratamento, outras pessoas irão ajudá-los na
manutenção dessa rotina.
- Mantenha os limites - Não se sintam culpados. Ninguém fica
doente porque quer e não tente compensar a doença e as possíveis mudanças na
rotina com guloseimas, brinquedos extras ou televisão fora de hora. Mantenha a
rotina e os limites sempre que possível.
- Incentive a informação - Faça com que as crianças se
interessem pela doença. Responda suas dúvidas, e, se possível, leve-os em
alguma consulta ou deixe que acompanhem alguma etapa do tratamento.
- Dê atenção - Por mais que você possa não se
sentir bem, tente reservar um tempo para eles. Algo simples como ler um livro
ou assistir um filme juntos pode ajudar as crianças a perceberem que você ainda
se importa com eles.
- Seja otimista - Mesmo se você estiver triste, desapontada ou até mesmo assustada,
tente manter certo positivismo durante suas conversas com as crianças. Tudo que
os pais sentem acaba passando para as crianças. Deixe claro que os médicos
estão fazendo o melhor por sua saúde. Tranquilize-os, mas sem fazer promessas
sobre o futuro.
- Conte para as pessoas que convivem com o seu filho -
Professores, médicos e outros
adultos que convivem com o seu filho precisam saber sobre o diagnóstico.
Mudanças em casa acabam refletindo no comportamento das crianças em outros
ambientes, por isso é importante que outros adultos que convivam com seus
filhos saibam o que está acontecendo na sua casa.
Conversando com Crianças Maiores
e Adolescentes
Embora muitos conselhos
sobre como falar com crianças também sirvam para ajudar a falar com os mais
velhos, essa faixa etária (10 a 18 anos) necessita de cuidados especiais. Mais
informados sobre a doença, pela televisão e outros meios, essas crianças
maiores tendem a ser conscientes sobre a gravidade da doença e podem precisar
de mais informações do que as crianças menores:
- Seja sincero - Esconder os fatos pode levar a uma perda de confiança por parte das
crianças. Mesmo que você não queira deixá-los preocupados, você precisa
deixá-los a par do que está acontecendo.
- Faça reuniões de família - Deixe as crianças mais velhas
participarem das reuniões de família e possíveis negociações sobre assumir
tarefas domésticas que você não estará apta para realizar durante o tratamento.
Peça-lhes ajuda nessa redistribuição das tarefas.
- Antecipe as dúvidas - Por já ter ouvido falar sobre a doença, as crianças
mais velhas podem ter mais medos e preocupações. Podem ficar com medo do
futuro, caso os pais venham a faltar. Mostre a eles que o câncer tem cura e que
muita gente vive bem com a doença, por anos. Deixe claro que, não importa o que
aconteça, eles estarão sempre seguros. Além disso, eles podem ter medo de
desenvolver a doença também. Aproveite para incentivá-los a ter uma vida mais
saudável e fazer regularmente exames de rotina.
- Não mude a rotina das crianças - Mesmo que os mais velhos possam se preocupar
mais e até mesmo ajudar nas coisas da casa, não esqueça que eles ainda são
apenas crianças. E, como crianças, precisam continuar com a sua rotina, ir à
escola, fazer suas atividades e encontrar com os amigos.
- Atenção especial com adolescentes - Se os seus filhos forem adolescentes, a reação
deles pode ser um pouco mais complicada. Podem acabar ficando com raiva ou até
mesmo com vergonha de sua aparência durante o tratamento. Apesar dessas reações
incomodarem os pais, lembre-se que são adolescentes e, mais do que nunca, estão
preocupados com a aparência e com o que os outros vão pensar. Tente aceitar a
sua nova aparência, isso ajuda a fazer com que eles aceitem mais facilmente.
- Livros e outros meios de informação - Falar sobre o câncer pode ser
difícil. Se achar necessário, procure livros que falem sobre o assunto ou até
mesmo procure pessoas de fora para ajudar na comunicação. Amigos, parentes ou
até mesmo profissionais podem ajudar a fazer seu filho entender certas coisas
da doença.
Conversando com Parentes
e Amigos
- Decida: para quem e como você vai
contar? Planeje a
conversa. Decida quais pessoas você pode contar por telefone e quais você
precisará contar pessoalmente. As reações são as mais variadas possíveis.
Esteja preparado para isso e para as perguntas que podem ser feitas.
- Peça e aceite ajuda - Diante da notícia do diagnóstico, muitos amigos
e familiares podem te perguntar se há algo que possam fazer para ajudar. Faça
uma lista das tarefas que precisarão ser redistribuídas e converse com cada um
sobre as possibilidades, mesmo que seja apenas para dar uma atenção extra para
seus filhos.
- Mantenha-os atualizados - Por mais que você não possa ligar ou visitar
cada um com tanta frequência, dê um jeito de deixar os amigos e familiares
sempre a par do seu tratamento e suas evoluções, mesmo que seja pela internet.
- Estabeleça limites - Apesar das boas intenções, o carinho e a
preocupação dos amigos e familiares podem acabar lhe cansando. Se sentir que
está sendo muito para você, converse com eles e estabeleça dias e horários para
visitas e telefonemas.
- Não se aborreça - Mesmo com boas intenções, alguns
amigos e familiares podem falar coisas que você prefere não ouvir, contar
histórias sobre outras pessoas que tiveram câncer que você não quer escutar, ou
até mesmo dar dicas e conselhos clichês. Saiba que não é por mal, as intenções
provavelmente são as melhores. Não se aborreça, apenas tente deixar de lado e
foque naqueles que fazem com que você se sinta melhor.
- Lembre-se: você não precisa contar
para todo mundo - Apesar
de ser importante contar para os mais chegados, você não precisa falar da sua
doença para qualquer pessoa. E, mesmo que acabe contando, não precisa mantê-los
sempre atualizados.
Procure
apoio
Além dos
amigos e familiares, você pode sentir a necessidade de procurar alguém "de fora”
para conversar. Um padre, médico, enfermeiro, psicólogos, ONGs ou até mesmo
outros pacientes.
Não importa quem. O
importante é ter alguém que você possa contar e se sinta seguro para falar
abertamente sobre a doença.