Check-pulmonar: qual a importância do rastreio para câncer de pulmão?

Desde cedo, mulheres são incentivadas a cuidar da saúde e fazer exames preventivos. Os homens, ainda que relutem, sabem que vão precisar fazer rastreio para câncer de próstata quando chegarem aos 50 anos. Mas, diferente desses exemplos, a investigação para câncer de pulmão parece ser pouco conhecida.

Segundo o Inca (Instituto Nacional de Câncer), o câncer de pulmão é o segundo mais incidente no mundo. No Brasil, estimam-se 32 mil novos casos este ano, sendo o quarto tumor mais frequente nos homens e o quinto nas mulheres.

Edmundo Caboclo, 56, fumou por mais de 30 anos e decidiu recentemente participar do programa Check-up Pulmonar, lançado pela BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo e a farmacêutica Roche. O serviço multidisciplinar oferece exames para o público de maior risco para câncer de pulmão e estrutura para cessar o tabagismo.

"Tenho essa preocupação de fazer prevenção, porque minha mãe faleceu de câncer de pulmão sem nunca ter fumado", diz ele, que parou de fumar há cerca de dez anos."

Edmundo conta que, antes, os médicos sempre recomendavam que ele largasse o cigarro, mas sem instruções práticas de como fazer. Também não havia orientação para exames preventivos.

Fabrício*, que fumou dos 17 aos 31 anos, também nunca foi orientado a realizar exames. Em 2019, aos 41, ele foi diagnosticado com câncer de pulmão em estágio 4, já avançado e, a princípio, sem possibilidade de operar.

"Meu chão desabou. Sou uma pessoa ativa, na época fazia caminhada, corria 4 km e não tinha absolutamente nada de sintoma característico relacionado ao pulmão", relata. Logo, ele começou a fazer quimioterapia, que depois foi combinada com imunoterapia.

Em outubro de 2020, após consultar diferentes médicos, ele optou por remover o pulmão esquerdo, onde o nódulo tinha sido encontrado. Pelas características da doença, o tratamento medicamentoso segue até hoje, com acompanhamento médico e exames a cada três meses.

Rastreio para câncer de pulmão

O diagnóstico precoce acompanhado de tratamento adequado minimiza os impactos do câncer de pulmão. Mas, de acordo com os protocolos, nem Fabrício* nem Edmundo seriam indicados para fazer exames preventivos à época.

É que os casos da doença em pessoas jovens são esporádicos e não há evidência formal sobre o benefício de rastrear indivíduos com menos de 50 anos. O público-alvo, baseado em dois grandes estudos internacionais, inclui:

  • Pessoas entre 50 e 80 anos de idade com histórico de tabagismo;
  • Que tenham carga tabágica de 20 maços-ano (multiplicação dos anos como fumante e o número de maços fumados por dia);
  • Fumantes atuais;
  • Pessoas que pararam de fumar nos últimos 15 anos.

A faixa de idade e a carga tabágica podem mudar de acordo com o estudo usado como referência, podendo eleger pessoas de 55 a 74 anos e consumo de 30 maços-ano.

"O que a gente sabe é que existe eficácia do rastreamento na redução da mortalidade de grupos que têm alto risco", comenta João Batista de Sá Filho, pneumologista do HU-UFMA (Hospital Universitário da Universidade Federal do Maranhão).

Felipe Marques da Costa, pneumologista da BP, afirma que a descoberta em estágio inicial permite que 90% das pessoas vivam pelo menos cinco anos após o diagnóstico, a chamada sobrevida.

Por isso, o rastreamento é importante para o público de maior risco. "O ponto é que a maioria dos diagnósticos no Brasil são incidentais ou de pacientes já com sintomas", diz. A descoberta incidental é quando um nódulo é identificado por acaso ao tratar ou examinar outra questão de saúde.

Barreiras ao rastreio

Há alguns motivos para o rastreio da doença ser pouco falado e divulgado, segundo explica Gustavo Faibischew Prado, coordenador da Comissão Científica de Câncer de Pulmão da SBPT (Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia):

  • As evidências científicas sobre o benefício do rastreamento para câncer de pulmão são recentes e vêm de estudos internacionais;
  • Médicos desconhecem as evidências ou não se sentem apoiados pelos gestores de saúde para a recomendação do rastreamento;
  • O estigma da forte relação da doença com o tabagismo, em que a pessoa que fuma sente culpa --pelo argumento socialmente enganoso de que "fumou porque quis"-- e médicos culpam pacientes.

A estigmatização cria resistência para buscar estratégias de prevenção e diagnóstico precoce. Geralmente, há um medo baseado no ditado "quem procura acha", e ninguém quer se descobrir com uma doença.

Costa explica que a proposta de um programa de check-up pulmonar é driblar as barreiras e contribuir para o diagnóstico precoce. Ao identificar a população-alvo, é realizado exame de tomografia computadorizada de tórax com baixa dose de radiação.

A dosagem é baixa porque a pessoa será submetida ao exame anualmente, e a alta exposição poderia trazer riscos. É por isso também que, até o momento, não se recomenda fazer rastreio em pessoas com menos de 50 anos, uma vez que elas teriam contato com a radiação por mais tempo.

Além disso, exames tomográficos na população de baixo risco poderiam representar alto índice de diagnósticos falsos-positivos, ou seja, imagina-se ser câncer, mas não é.

"Principalmente no Brasil, com uma alta prevalência de doenças infecciosas, existe uma preocupação quanto ao falso-positivo, que possa fazer com que as pessoas sejam submetidas a exames desnecessários."

João Batista de Sá Filho, pneumologista do HU-UFMA

Nesses casos, as complicações relacionadas aos exames seriam maiores do que a lesão identificada.

Prado comenta que, mesmo adotando critérios razoavelmente inclusivos para o rastreio, ainda haverá uma parcela de pacientes que não será rastreada, mesmo em sistema ideal que solicita exame. "Por isso precisa também criar cultura e estrutura que favoreçam o diagnóstico em quem tem sintomas", diz.

Sobre câncer de pulmão

O tabagismo é o principal fator de risco para a doença. "Cerca de 80% das pessoas diagnosticadas com câncer de pulmão são fumantes", diz o pneumologista do HU-UFMA.

No entanto, pessoas que nunca fumaram também podem apresentar a doença. Ele afirma que há, pelo menos, 29 agentes reconhecidos que podem levar a esse tipo de câncer. Outros fatores de risco são:

  • Exposição a amianto, sílica e metais pesados;
  • Águas contaminadas com arsênio;
  • Trabalhar na fabricação de borracha, varredura de chaminés e produção de carvão;
  • Poluição ambiental, seja ambientes internos ou externos;
  • Fumaça de cozinha;
  • Exaustão de motor a diesel.

Sintomas

De modo geral, os sintomas do câncer de pulmão só aparecem quando a doença já está avançada, mas há quem apresente sinais no estágio inicial. As manifestações mais comuns são:

  • Tosse persistente;
  • Escarro com sangue;
  • Dor no peito;
  • Rouquidão;
  • Falta de ar;
  • Perda de peso e de apetite;
  • Infecções pulmonares recorrentes.

*O nome foi trocado para preservar a identidade do entrevistado.

Fonte: Viva Bem - UOL

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