[CÂNCER DE OVÁRIO] Ângela

Angela

Instituto Oncoguia - Você poderia se apresentar?

Ângela - Eu sou Ângela, tenho 61 anos, uma família muito querida e especial, como quase todo mundo. Estou com Elias há 42 anos, sendo 36 de casada. Tenho três filhos: Andrea, casada com Arturo, Rodrigo, casado com a Clecia, e João Paulo, casado com a Priscila, que trouxeram as amadas e abençoadas netas, Tereza, Lya e Clara, sendo que aguardamos para julho a vinda de um neto.

Dediquei-me aos filhos com intensidade, e aos poucos fui me dividindo para dar conta da minha vida familiar e profissional.

Tenho o privilégio de ter ao meu lado amigos de uma vida toda, companheiros de jornada, que me dão, cada um a seu modo, apoio em todas as situações.

A minha vida profissional sempre foi focada em princípios de ética, educação, comprometimento e na troca de experiências, o que me proporcionou muitas alegrias, conhecimento e reciprocidade por parte dos envolvidos.

Aprendi desde cedo que, para ser feliz, era preciso dividir e me dedicar aos outros de forma integral, mas aí errei a mão, abdicando de meus sentimentos, do cuidado pessoal, do olhar com ternura e calma para comigo. Fui levando a vida, levava os tombos como qualquer ser humano e levantava, pois tinha comigo o gene de neta de paraibana e árabe, não me rendia facilmente. A minha ancestralidade provocava em mim um sentimento de vitória sempre, e recomeçar várias vezes não me perturbava.

Com relação à saúde, tinha comigo a quase certeza de que, seguindo os meus ascendentes, teria problemas de ordem vascular ou cardíacos, mas o câncer para mim era a hipótese muitíssimo remota.

Então seguia no cuidado integral aos próximos mais próximos, aos não tão próximos, a verdadeira mãe do mundo. Meus retornos e checkups cada vez mais distantes. E aí então fui derrubada de vez, de forma abrupta, inesperada, aguda.

Apesar de ter tido algumas intercorrências de saúde importantes, nada se compara ao que aconteceu desde o momento da minha internação até agora.

Digo com toda a paixão que realmente foi um tsunami que passou, me derrubou e quase me levou, mas que me fez renascer mais forte, confiante, com muitos projetos na cabeça para serem desenvolvidos, mas que sinalizava: primeiro se cuide, depois se cuide, e depois continue se cuidando porque tudo se realizará se você aprender a se respeitar e se cuidar. Não é apenas um chavão batido, mas sim uma realidade muito difícil que tive que encarar.

Como foi tudo muito intenso, fui digerindo aos poucos o que me acontecera e o que estava acontecendo. Então quando meu ginecologista me disse: Ângela, está tudo bem, mas era um tumor de ovário de grande extensão contido e escondido, atrás de um mioma antigo e companheiro de longas décadas. Você vai ter que fazer seis sessões de QT, mas confie, pois o pior já passou e você vai ficar boa, não desanime, se entregue ao tratamento e a Deus que tudo vai dar certo! - Aí, eu me lembrei de um vizinho chinês querido e sábio, quando o questionei sobre como ele encarava a doença com tanta tranquilidade, ao que me respondeu: "Uns têm pressão alta, outros são cardíacos, outros têm diabetes e eu tenho câncer... e procuro fazer o que tem que ser feito sem me desesperar, pois não adianta nada a gente se desesperar”. Então respondi ao meu médico: Sim, sim o que temos de fazer agora e quando começamos ?

Tenho como exercício diário o agradecimento a Deus, a tudo e a todos que participaram desta luta, dar boas risadas, chorar quando for necessário, ver bons filmes, ler bons livros, ouvir boas músicas, observar as flores e trabalhar o mais difícil, que é deixar fluir a vida, priorizar e delegar funções e, sobretudo, envolver-me no tratamento sem arrogância e com humildade.

Incorporei o que todos me disseram: Você é uma vencedora! Corajosa! Não desistiu em nenhum momento mesmo nos mais sombrios.

Hoje, sinto que estou vencendo as etapas. Agora tudo o que tenho pela frente é o período de controle periódico: consultas e exames a cada três meses nos primeiros dois anos, depois por seis meses também por dois anos e depois anualmente, que deverão ser observados.

A lição que tomei pra mim:

Dar atenção aos sinais do corpo.
Exercício diário de desapego.
Olhar para a nossa espiritualidade de modo mais maduro para obter cada vez mais serenidade.
Agradecer a generosidade da vida, da família, filhos, marido, netos e dos amigos.
Rir bastante.

Instituto Oncoguia - Como foi que você descobriu que estava com câncer?

Ângela - Em 13 de agosto de 2012, fui internada no Hospital Nove de Julho, São Paulo, com um quadro de abdome agudo, ascite, taquicardia, falta de ar e derrame pleural, cujo prognóstico era sombrio, pois as intercorrências foram acontecendo e cada exame solicitado e feito trazia uma nova batalha a ser vencida.

Passei por duas cirurgias ginecológicas: videolaparoscopia exploratória e histerectomia total, duas cirurgias no pulmão, além de desenvolver um quadro de SEPSE. Tudo isso me levou a 25 dias de UTI. Só comecei a tomar consciência do que tinha ocorrido e da gravidade do caso quando fui para a semintensiva.

E então, o que não se identificava nos exames de US de rotina veio com o resultado do anatomopatológico: Adenocarcinoma de Ovário direito EA . Por graça de Deus, não apresentava metástases e a indicação posterior foi de seis sessões de QT.

Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico?

Ângela - Fiquei serena, pois estava saindo viva após quatro cirurgias, 25 dias de UTI, ao todo 59 dias de internação. Senti uma força enorme. Uma gratidão por estar viva e muita esperança

Instituto Oncoguia - Qual foi sua maior preocupação neste momento?

Ângela - Recuperar-me fisicamente, pois fiquei anêmica, muito fraca e mal conseguia me manter de pé quando saí do hospital para começar a QT .

Instituto Oncoguia - O que aconteceu depois disso?

Ângela - Graças à demora da liberação do convênio para fazer a primeira QT no hospital, o meu foco era voltar para casa, fortalecer um pouco meu estado. Quando cheguei em casa, não subia nem um degrau da escada. Segui um programa de fisioterapia orientada 3 vezes por semana e nos outros dias com meu marido, com meus filhos, netas e minha ajudante, e após 20 e poucos dias de espera, finalmente recebi a autorização para iniciar a QT e aí dar sequência ao tratamento.

Instituto Oncoguia - Você já começou o tratamento?

Ângela - Iniciei o tratamento no final de novembro de 2012 e terminei em 18 de fevereiro de 2013. Foram 6 sessões a cada 21 dias.

Instituto Oncoguia - Em sua opinião, qual é o tratamento mais difícil?

Ângela - Não consigo muito pontuar o que foi mais difícil, pois foi tudo agudo e intenso como já disse. Acredito que o pior momento foi a UTI, pois lá pude experimentar todos os sentimentos: dor, solidão, medo, ansiedade, vazio e exercitar a humildade, o estar comigo mesmo o tempo todo, aprender a confiar sem argumentar, a perceber os sinais de como o meu corpo padeceu e como eu tinha que me resgatar, deixar que me conduzissem sem conduzir, a negociar com Deus, com os meus, com os médicos, com o pessoal da Enfermagem, com a vida...

Instituto Oncoguia - Você teve efeitos colaterais?

Ângela - Tive alguns efeitos colaterais: agitação provocada pela cortisona no 2º dia após a aplicação da QT, cansaço nos primeiros dias e na fase de queda de imunidade, dores nas articulações, formigamento nos pés, um pouco de prisão de ventre e um leve déficit de atenção. O pior para mim foi o acometimento das articulações: joelhos, mãos e pés e dor na mandíbula. Mas, confesso: nada que soluções simples caseiras e analgésicos primários não resolvessem.

Instituto Oncoguia - Como foi à relação com o seu médico?

Ângela - Tive vários médicos quando internada que foram extremamente dedicados, atenciosos e que, em equipe, conseguiram fazer um bom trabalho e com ótimo resultado: tirar a Ângela da situação de risco iminente de morte e poder dar o passo seguinte.

A relação com meu oncologista foi e é especialmente boa: confiança, esperança, prontidão, comprometimento, atenção. Ele esteve e está junto o tempo todo.

Agradeço a Deus todos os dias pela benção de poder contar com pessoas tão humanas, competentes e especiais.

Instituto Oncoguia - Com que outro profissional você se relacionou?

Ângela - Com meu ginecologista e equipe e com o cirurgião de tórax, pessoal da UTI, enfermagem, psicólogas, nutricionista, fisioterapeutas e com suporte espiritual.

Instituto Oncoguia - Você fez acompanhamento psicológico?

Ângela - Ainda faço. Para mim foi e está sendo fundamental para que eu consiga entender tudo o que aconteceu e aprender a priorizar as solicitações cotidianas e a me cuidar observando os sinais do meu corpo e da vida.

Instituto Oncoguia - E com nutricionista?

Ângela - Fiz quando estive hospitalizada e também acompanhamento na clinica onde fiz a QT. Agora que me sinto melhor sinto a necessidade do acompanhamento pela nutricionista para reeducação alimentar e manutenção do peso.

Instituto Oncoguia - Você está em tratamento ou já finalizou?

Ângela - Finalizei as sessões de QT em 18/02/2013. Iniciei a fase de controle em março de 2013, que será periódica: a cada 3 meses nos dois primeiros anos, a cada 6 meses nos outros dois anos e anualmente após os 5 anos. Retirei o Port-a-Cath em 20/05/2013

Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje?

Ângela - Estou começando a retomar minha vida cotidiana, sinto-me mais forte. Ainda não voltei a dirigir devido ao formigamento nos pés, mas vou começar um trabalho de reabilitação física agora em junho.

Procuro estar atenta ao que está acontecendo, leio bastante, faço tricô, faço uns 15 min. de caminhada. Já voltei a cozinhar que tanto me dá prazer.

Quando fico atrapalhada, pois quero retomar o tempo, paro e penso: Take it easy, calma... Então tomo chá de erva cidreira, suco de maracujá e sigo em frente.

Instituto Oncoguia - Conte-nos sobre seu trabalho e planos para o futuro.

Ângela - Sou dentista de formação, mas em 2004 fiz um mestrado e, desde então, fui deixando a clínica. Minha área de trabalho é com Educação Continuada na área de Biossegurança, Treinamento e Formação de Pessoal Auxiliar.

Tenho projetos nesta área, mas quero andar por outras praias que me interessam: música, a escrita, projetos sociais, viagens, entre outras coisas...

Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje?

Ângela - Não se desesperar, confiar e experimentar Deus na sua magnitude, enriquecendo a sua vida espiritual.

Informar-se sobre o tratamento abertamente, abraçar a causa...

Estar bem perto da família, amigos e ter esperança em dias melhores.

Procurar médicos especialistas em Oncologia, que saibam e trabalhem em equipe multidisciplinar, utilizando os centros de referência de acordo com suas possibilidades, pois certamente serão bem atendidos.

É uma guerra que terá de ser vencida passo a passo.

Instituto Oncoguia - Qual a importância da informação durante o tratamento de um câncer?

Ângela - Fundamental, pois nos dá tranquilidade e conhecimento do que está acontecendo e o que vem pela frente.

Instituto Oncoguia - Você buscou se informar? De que maneira?

Ângela - Primeiro com meu médico, leituras, depoimentos, sites, depois passei por um processo de amadurecimento com os profissionais que me acompanhavam pois me informavam também o que cabia a cada um na Oncologia.

Instituto Oncoguia - Como você conheceu o Oncoguia?

Ângela - Pela minha psicóloga

Instituto Oncoguia - Você tem alguma sugestão a nos dar?

Ângela - Procurar trazer cada vez mais informações sobre as questões dos Direitos dos Pacientes de oncologia.

Entrevistas com médicos e profissionais da oncologia para possibilitar o tratamento integral do câncer, quebrando assim o preconceito e o estigma que infelizmente ainda vêm com a palavra câncer: finitude, inutilidade... Assim transpondo os obstáculos para a possibilidade real de uma vida feliz e saudável.

Continuar a luta junto ao Ministério Público para liberação dos medicamentos de alto custo e pelo direito de todos à saúde.

Dar continuidade às ações sociais como esta dos lenços, incentivar os fóruns para discussão dos casos e depoimentos.
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