[CÂNCER DE MAMA] Valeria Kenchicoski

Instituto Oncoguia - Você poderia se apresentar?

Valeria - Meu nome é Valeria Kenchicoski da Silva, tenho 37 anos (quase 38 – faço aniversário em 30/04), sou separada e tenho um filho de 10 anos que é a luz da minha vida, meu princípio, meio e fim. Sou Administradora de Empresas por profissão – atuo na área de gestão em saúde suplementar e também me considero uma buscadora por intuição. Considero-me uma mulher essencialmente contemporânea.

Instituto Oncoguia - Como foi que você descobriu que estava com câncer?

Valeria - Perdi minha mãe em maio/2008, acometida por um câncer de mama. Por conta disso, passei a fazer meus exames de rotina anualmente (inclusive mamografia) desde os 30 anos de idade. Acredito que o corpo fala e o meu com certeza falou comigo. Os primeiros sintomas se apresentaram em meados de agosto/2010. Basicamente "fisgadas” na mama esquerda, pelo menos uma vez por semana. Em setembro/2010 fui ao meu ginecologista, fiz meu check-up (Papanicolaou, usg de mamas, mamografia, etc). Resultados absolutamente normais. Mas as fisgadas continuaram e a partir de abril/2011 com maior intensidade. Com a correria do dia a dia, ignorei o fato, mas a partir de julho/2011 começaram as coceiras no mamilo. O seio passou a ficar quente, avermelhado e endurecido. Sintoma similar à pré-amamentação. Sentia como se o meu peito estivesse produzindo leite. A partir de então, o bico começou a entrar e uma secreção saiu do mamilo. A esta altura já sentia muitas dores, até o uso do sutiã me incomodava. Foi então que agendei nova consulta com meu ginecologista e os exames desta vez comprovaram o temido diagnóstico: Carcinoma Ductal Grau III. Na época eu tinha 36 anos de idade.

Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico? O que sentiu?

Valeria - Num primeiro momento não acreditei que fosse verdade. E a primeira pergunta que não quer calar apareceu: "DOUTOR, O SENHOR TEM CERTEZA?” Procurei mais de um médico para comprovar o diagnóstico.

Na primeira semana eu não dormia... eu não me alimentava... só chorava. E a segunda pergunta que não quer calar apareceu: "POR QUE COMIGO?”

Nesta fase inicial, com o primeiro impacto, eu só possuía duas certezas:

1) QUERO VIVER;

2) VOU MORRER.

Instituto Oncoguia - Qual era a sua maior preocupação neste momento?

Valeria - Minha maior preocupação era em relação ao meu filho, na época com 8 anos. Passava pela minha cabeça absurdos do tipo: Quem vai criar meu filho? Não vou vê-lo crescer!

Instituto Oncoguia - O que aconteceu depois disso?

Valeria - Se a revolta não me levaria a lugar algum, resolvi lutar pela vida. E foi aí que pensei: SE FOR PARA MORRER, VOU MORRER LUTANDO. SE EU NÃO POSSO IR CONTRA O INIMIGO, VOU JUNTAR-ME À ELE.

Decidi ler, me informar, estudar a respeito do assunto, conhecer minha doença e me preparar para a batalha. Paralelamente, também iniciei um tratamento psico-terapêutico que, indiscutivelmente, foi o que me deu sustentabilidade emocional e racional para lidar com tudo isso.

Instituto Oncoguia - Você já começou o tratamento?

Valeria - Sim. Diagnosticada em outubro/2011, iniciei as quimioterapias imediatamente. Foram 8 ciclos a cada 21 dias. Em março/2012 terminei as quimioterapias e me preparei para a cirurgia (mastectomia parcial – retirada de quadrante e esvaziamento axilar). Fui operada em maio/2012. Meu câncer é HER2 Positivo, motivo pelo qual precisei dar sequência ao tratamento com mais 14 ciclos de quimioterapia com um anticorpo monoclonal chamado Herceptin. Foram seis ciclos iniciais de Herceptin, interrompidos durante 2 meses (novembro e dezembro de 2012). Durante esta interrupção, fui submetida a 30 sessões de radioterapia. Reiniciado os ciclos de Herceptin em janeiro/2013, ainda faltam quatro ciclos para o término desta fase do tratamento.

Instituto Oncoguia - Em sua opinião, qual é o tratamento mais difícil? Por quê?

Valeria - Fiz quatro ciclo iniciais de Adriblastina (quimioterapia vermelha) seguidos de mais quatro ciclos de Taxotere (quimioterapia branca). Passar pelo Taxotere, particularmente, foi a pior experiência de toda a minha vida em termos de efeitos colaterais. Pensei realmente que fosse morrer. Mas, apesar disso, a pior fase do tratamento – na minha opinião – foi a radioterapia. Primeiro porque, diferentemente das quimioterapias que aconteciam a cada 21 dias (ou seja, havia um período de descanso e recuperação para o organismo), a radioterapia acontece diariamente, sem descanso (no meu caso – sempre às 6h30 – primeiro horário do dia).

Instituto Oncoguia - Você teve efeitos colaterais? Qual o pior?

Valeria - Durante as quimioterapias, posso dizer que foi bem tranquilo, apesar do Taxotere. Não sofri com náuseas e nem vômitos. Tive apenas indisposições, fadiga e alopécia, claro! Mas os piores efeitos colaterais foram os da radioterapia, com certeza! Um sono profundo, uma fadiga, me senti como se tivesse corrido uma maratona a cada dia. A partir da primeira quinzena a pele começou a ficar "queimada” e a coisa só piorou. Na verdade, fiquei com a pele muito queimada do lado esquerdo do corpo (costas, pescoço, colo, seio e axila esquerda). Nenhuma novidade, apenas efeito colateral da radioterapia. Já sabia disso, mas não pensei que fosse tão difícil e que mexesse tanto comigo física e emocionalmente. Cada vez que eu tomava banho, a água escorria pelo seio esquerdo e retirava mais um pouquinho de pele, dia após dia. O clima também me prejudicou bastante, verão. Em casa eu ficava sem roupa e quando precisava sair na rua era um verdadeiro tormento. Enfim, a vida segue. Tudo passa e isso também passou. Apesar de tudo, o sentimento agora não poderia ser outro, senão o de GRATIDÃO, AMOR, RESIGNAÇÃO e ALEGRIA.

Instituto Oncoguia - Como foi a relação com o seu médico?

Valeria - Ah, melhor impossível. Meus médicos são verdadeiros anjos em minha vida!

Instituto Oncoguia - Com que outro profissional você se relacionou?

Valeria - Além dos médicos (ginecologista, mastologista, oncologista, cardiologista, vascular), equipe de enfermagem, profissionais simplesmente fantásticos!

Instituto Oncoguia - Você fez acompanhamento psicológico?

Valeria - Com certeza... este acompanhamento tem sido FUNDAMENTAL.

Instituto Oncoguia - E com nutricionista?

Valeria - Sim. Considero que o tripé da eficácia do meu tratamento está no acompanhamento integrado ao qual fui submetida. (quimioterapia, nutrição e psico-terapia).

Instituto Oncoguia - Você está em tratamento ou já finalizou?

Valeria - Ainda estou em tratamento, faltam quatro ciclos de Herceptin.

Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje?

Valeria - Plena. Me tornei uma mulher integrada e segura. Aprendi a valorizar as pequenas coisas da vida e principalmente a viver um dia de cada vez. Mudei meus hábitos e ganhei qualidade de vida.

Instituto Oncoguia - Conte-nos sobre seu trabalho e planos para o futuro.

Valeria - Minha profissão é a minha verdadeira paixão. Porém, infelizmente fui surpreendida com uma atitude nada ética. A empresa em que eu trabalhava me demitiu após meu diagnóstico. Este fato não merece sequer meu comentário, apenas o meu desprezo.

Enquanto durar meu tratamento, estarei afastada pelo INSS. Possuo muitos planos, inclusive a publicação de um livro ao qual já estou me dedicando. A Fan Page no Facebook me fez interagir com um mundo novo e me trouxe gratas surpresas. Hoje, além de trabalhos voluntários no setor de oncologia (como por exemplo o banco de chapéu, lenços e perucas), também dou palestras corporativas e motivacionais, com foco em superação de desafios, como lidar com mudanças e a capacidade de resiliência do ser humano, com base em minha vivência a respeito do assunto. Enfim, sigo aprendendo a cada dia. Tem coisa melhor? Pode parecer ironia, mas o câncer me trouxe muitas alegrias, apesar da dor e do sofrimento causado pelo tratamento.

Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje?

Valeria - Muita calma nessa hora! Informação é TUDO. Cada caso é um caso, portanto, nada de se deixar emprenhar pelos ouvidos com histórias alheias. Disciplina, atividade física (eu pratico Yoga), dormir e se alimentar com qualidade, beber muita água, amar e divertir-se intensamente, afinal a vida continua e você se acostuma, se adapta.

Instituto Oncoguia - Qual a importância da informação durante o tratamento de um câncer?

Valeria - INFORMAÇÃO É FUNDAMENTAL. Jogo limpo sempre! Mais vale uma verdade que dói, do que uma mentira que ilude.

Instituto Oncoguia - Você buscou se informar?De que maneira?

Valeria - Muito! Me cadastrei em vários sites, li muitos livros e conversei incansavelmente com meus médicos. A cada literatura nova eu levo as dúvidas e os questionamentos para o corpo clínico que cuida de mim. O resultado é incrível. Uma relação de confiança e verdade, acima de tudo. Costumo brincar dizendo que já sou PHD em oncologia.

Instituto Oncoguia - Como você conheceu o Oncoguia?

Valeria - Minha médica oncologista me apresentou o Oncoguia já em minha primeira consulta.

Instituto Oncoguia - Você tem alguma sugestão a nos dar?

Valeria - Minha batalha é pela desmistificação. Câncer não pode mais ser associado a uma sentença de morte. Em minhas palestras, quando são abertas às perguntas, as dúvidas são sempre as mesmas. É preciso mudar o olhar do mundo, da sociedade, dos governos, das operadoras de saúde, enfim.

A forma de lidar conosco (pacientes oncológicos) PRECISA mudar.

É por este motivo que eu criei minha página no facebook entitulada TENHO CÂNCER, E DAÍ?

TENHO CÂNCER, E DAÍ? É um apelo contra o preconceito social, contra o estigma de que câncer é sinônimo de morte... Um apelo contra a falta de respeito, principalmente em relação aos nosso inúmeros direitos constitucionais enquanto paciente oncológico.

E daí? A vida continua, os problemas continuam, as contas para pagar continuam a chegar, ou seja, nada muda só porque a pessoa tem um câncer.

E daí? Não perdemos nossa identidade por ter câncer, a sociedade é que possui uma tendência errônea em querer "afastar" do convívio social e profissional uma pessoa portadora de câncer. São atitudes similares a tratativa preconceituosa e burra, adotadas para com pessoas soro-positivas de HIV, por exemplo.

Costumo dizer que a sensação é a de estar no Vale dos Leprosos... Sim, a sociedade tem vergonha, medo, falta de informação. As famílias não sabem lidar com esta situação, então é mais fácil "poupar" a pessoa que tem "aquela doença ruim".

E daí? NÃO VOU ME ESCONDER.

E daí? Não sou a primeira e nem serei a última pessoa do planeta a ter câncer.

Tenho câncer SIM... e daí? Exijo ser respeitada, exijo ter o meu direito de ir e vir preservados, exijo uma saúde pública mais digna, afinal sou uma cidadã e continuo a pagar os meus impostos.

E daí? Exijo o meu direito de desenvolver minha atividade profissional e poder continuar a sustentar meu filho, minha casa, minha vida e até mesmo meus prazeres.

E daí? Abomino empresas e/ou empregadores que EXTERMINAM = DEMITEM funcionários em pleno tratamento quimioterápico. Não, não estou falando de afastamento temporário, auxílio doença, nada disso, falo em DEMISSÃO mesmo, como fez comigo a empresa em que eu trabalhava, por exemplo.

E daí? Eu luto para que as milionárias Operadoras de Saúde cumpram com as devidas coberturas pré-estabelecidas em minuta contratual no ato da contratação de seus serviços. Luto para que o objetivo destas empresas não seja apenas o fechamento de um exercício financeiro positivo, mas acima de tudo humanizado. Não quero nunca mais ter que ouvir do plano de saúde que eu contratei a seguinte afirmação: "sua apólice apresentou um alto índice de sinistralidade, portanto, não temos mais interesse em mantê-la como "cliente".

E daí? Continuo me "virando" física e emocionalmente para conseguir manter meu aluguel pago e garantir o pão de cada dia. Uma verdadeiro desafio de administração financeira e orçamentária do lar, pois manter o mesmo padrão de vida, por mais simples que seja, é algo absolutamente IMPOSSÍVEL. O Instituto Nacional de Seguridade Social - INSS preconiza que eu não posso exercer minhas atividades laborais durante o tratamento e exige que eu me mantenha com a "esmola" que eles me proporcionam como direito, mais conhecido também como AUXÍLIO DOENÇA.

E daí? Alguém, senão eu mesma, tem alguma coisa a ver com tudo isso?

Tenho câncer, e daí? AMO e QUERO SER AMADA, de todas as formas. Quero beijar na boca, fazer compras no shopping, curtir um cineminha no fim de semana, fazer nada em casa vegetando feito uma hortaliça de frente p/ TV, caminhar na praia, ir à Paris, conhecer meus netos, etc.

E daí? Eu vou morrer mesmo! Mas você também vai morrer, aliás, todos nós vamos morrer um dia... Com ou sem câncer. A morte é a única certeza da vida.

E é por estas e outras, muitas outras que eu digo: E DAÍ?

Vou continuar a colocar a boca no trombone SIM, sempre!

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