[CÂNCER DE MAMA] Maria Aparecida R. Netto

Instituto Oncoguia - Você poderia se apresentar?

Maria Aparecida R. Netto - Meu nome é Maria Aparecida R. Netto e tenho 50 anos, sou casada com Claudio L. Netto, meu verdadeiro Anjo da Guarda, tenho dois filhos, Guilherme 24 anos e Gustavo 20 anos e a maior de todas as minhas alegrias que é o meu netinho Gabriel de 3 anos.

Instituto Oncoguia - Como foi que você descobriu que estava com câncer de mama?

Maria Aparecida R. Netto - Em uma consulta de rotina com minha ginecologista, onde após analise de todos os exames solicitados por ela (mamografia, ultrassom, etc.) que nada apresentaram de anormal e também depois de muita conversa sobre assuntos relacionados à família. Praticamente no final da consulta ela resolveu examinar meus seios, onde apalpando a mama direita sentiu um nódulo, porém me tranquilizou dizendo que não deveria ser nada, mas que iria solicitar novos exames. Realizei novo ultrassom onde foi sugerida uma punção com agulha fina, que ficaria a critério da minha ginecologista solicitar ou não. Ela de imediato solicitou.

Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico?

Maria Aparecida R. Netto - Quando eu e meu marido fomos buscar o resultado da punção, passamos direto na ginecologista para que ela mesma o abrisse e me desse o resultado. Entreguei a ela no corredor assim que a vi, entrou com meus exames na sala e disse que logo me chamaria. Mas isso para mim durou uma eternidade, parecia que alguma coisa estava errada, demorou muito para me chamar e assim que entrei no consultório me deu aquela notícia que eu jamais poderia esperar, carcinoma ductal invasivo, lembro que deitei minha cabeça em cima da sua mesa e chorava desesperadamente, ela deu a volta e me abraçou, me disse que já havia entrado em contato com um mastologista amigo e que ele iria me receber dentro de algumas horas e por isso havia demorado em me atender. Ela e meu marido tentavam me acalmar de todas as maneiras, mas estava muito difícil, a sensação era muito estranha, sentia um vazio e a culpa por aquele resultado.

Instituto Oncoguia - Qual foi a sua maior preocupação neste momento?

Maria Aparecida R. Netto - Como iria chegar em casa e dizer aos meus filhos que eu estava com câncer , como seria a reação deles? Naquele momento não conseguia raciocinar, só pensava nos meus filhos.

Instituto Oncoguia - O que aconteceu depois disso?

Maria Aparecida R. Netto - Ao conhecer meu mastologista passei a sentir mais tranquilidade em relação à doença, era grave sim, mas com tratamento adequado teria chances de sobreviver. Precisava lutar e vencer muitos obstáculos, precisava ser forte o suficiente para todos os desafios que estavam por vir. Com muita confiança no que ele dizia, resolvi enfrentar toda aquela situação, porque queria muito viver.

Depois de fazer todos os exames solicitados pelo mastologista, foi descoberto que o câncer era super agressivo para mulheres da minha idade (44 anos) e que a melhor opção de tratamento seria a mastectomia e ele era favorável à reconstrução imediata se fosse possível. Fiz a mastectomia com a reconstrução (TRAN), onde é utilizado o músculo do abdome e a gordura da barriga. Tive uma micro metástase num linfonodo e com este diagnóstico tivemos certeza que faria quimioterapia e radioterapia.

Instituto Oncoguia - Você já começou o tratamento?

Maria Aparecida R. Netto - Depois de um mês da cirurgia conheci meu oncologista, confirmou a necessidade de químio e posteriormente a rádio. Ele disse que iríamos terminar juntos a batalha e iríamos vencer. Aquilo foi animador e em nenhum momento fiquei deprimida, sempre tentava me imaginar já terminando o tratamento, minha fé em Deus aumentou muito, minha família e meus amigos foram incríveis.

Instituto Oncoguia - Em sua opinião, qual é o tratamento mais difícil?

Maria Aparecida R. Netto - A quimioterapia com certeza foi a mais difícil. Sentia-me limitada com os efeitos colaterais, minha imunidade baixou muito, fiquei suscetível a infecções, tomava medicamentos para a imunidade aumentar e isso também tinham efeitos colaterais.

Instituto Oncoguia - Você teve efeitos colaterais? Qual o pior?

Maria Aparecida R. Netto - Fiz seis ciclos de químio e até o 3º ciclo desenvolvi dores de cabeça terríveis onde descobrimos que não podia comer nada que continha açúcar ou farinha. Durante todo o processo não conseguia tomar leite, nada que tivesse cheiro e gosto forte. Água tinha um gosto de metal, só conseguia tomar água de coco. Perfume e sabonete nem pensar, só conseguia usar xampu sem cheiro, eu e toda a família. Todas as pessoas que vinham me visitar não usavam nem desodorante. Meu sonho de consumo era tomar café com leite e comer pão com manteiga, coisas simples tinham muita importância naquele momento. Chorei quando fiquei sabendo que ficaria careca, perdi os cílios e as sobrancelhas, mas diante de todo sofrimento esse era o menor. Meu marido foi super solidário, ficou careca comigo o tempo todo.

Instituto Oncoguia - Como foi a relação com o seu médico?

Maria Aparecida R. Netto - Todos eles foram muito mais que profissionais, foram meus amigos, também são meus anjos. Devo minha vida a eles. Sempre os coloco em minhas orações.

Instituto Oncoguia - Com que outro profissional você se relacionou?

Maria Aparecida R. Netto - Meu cirurgião plástico foi simplesmente sensacional, um ser humano incrível, seus olhos encheram de lágrimas no primeiro dia que passou no hospital para me visitar, dizendo que tinha dado o melhor de si. Ficou perfeito.

Instituto Oncoguia - Você fez acompanhamento psicológico?

Maria Aparecida R. Netto - Logo após ter feito a radioterapia, conheci a Associação Ciranda Viva com a pisco-oncologista Maria Lucia, que me ajudou muito em outra decisão muito importante, pois logo ao terminar todo meu tratamento, que teve a duração de um ano, descobri na minha primeira revisão de mamografia da mama esquerda, micro-calcificações por atipia que poderia num futuro desenvolver novamente um câncer. Perdi o chão novamente, mas agora estava mais fortalecida e novamente meu mastologista me deu algumas alternativas, e entre elas a retirada da mama esquerda por prevenção. Não tive dúvidas e decidimos fazer uma cirurgia para retirar esta mama também e após quinze dias lá estava eu no centro cirúrgico retirando toda a mama e colocando silicone.

Instituto Oncoguia - E com nutricionista?

Maria Aparecida R. Netto - Passei apenas uma vez, pois sempre tive hábitos saudáveis com minha alimentação.

Instituto Oncoguia - Você está em tratamento ou já finalizou?

Maria Aparecida R. Netto - Todo meu tratamento já foi finalizado, inclusive já tive alta do meu oncologista por ter completado os 5 anos e meus exames estarem normais. Mas até hoje participo da terapia de grupo Ciranda Viva, onde tenho ajuda de vários profissionais na área da saúde, como Psicólogos, Terapia Floral, Toque Quântico, Yoga, Acupuntura, Eutonia, Arteterapia e Musicoterapia.

Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje?

Maria Aparecida R. Netto - Exatamente na data de hoje (23/05/2013), está fazendo 6 anos que fiz minha primeira cirurgia e por isso quis compartilhar com todos a minha história de vida e vitória – ESTOU MUITO FELIZ.

Instituto Oncoguia - Conte-nos sobre seu trabalho e planos para o futuro.

Maria Aparecida R. Netto - Cuido da minha casa e da minha família, penso muito no presente, no hoje. Quero viver um dia de cada vez e da melhor maneira possível.

Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje?

Maria Aparecida R. Netto - Que busque informações corretas, profissionais competentes, que nunca desistam de lutar pela vida. Que tenham muita fé e que procurem sempre estar próxima de pessoas que a amem, isso é fundamental.

Instituto Oncoguia - Qual a importância da informação durante o tratamento de um câncer?

Maria Aparecida R. Netto - Em minha opinião, o paciente e os seus cuidadores devem procurar se informar através de fontes confiáveis, sobre tudo que se relaciona à sua doença. Nessas situações o que mais temos são dúvidas e nem sempre é bom ouvi-las de pessoas leigas. Pergunte sempre para seu médico.

Instituto Oncoguia - Você buscou se informar?De que maneira?

Maria Aparecida R. Netto - Busquei muitas informações primeiramente na internet e depois tirava minhas dúvidas com meus médicos.

Instituto Oncoguia - Como você conheceu o Oncoguia?

Maria Aparecida R. Netto - Eu acho que foi através da minha terapia de grupo.

Instituto Oncoguia - Você tem alguma sugestão a nos dar?

Maria Aparecida R. Netto - Todas as matérias que leio de vocês são de extrema importância para as pessoas que necessitam de informações sérias, corretas e completas. Obrigada por ajudar a quem tanto precisa neste momento.

Instituto Oncoguia - Você sabia que possuímos um trabalho focado na melhoria da situação do Câncer no Brasil? Estamos sempre em contato com políticos e gestores que podem ajudar a melhorar as políticas públicas brasileiras relacionadas ao câncer. Se você fosse mandar um recado para um político, o que você gostaria que mudasse ou melhorasse considerando tudo o que você passou?

Maria Aparecida R. Netto - Gostaria que tudo na rede pública fosse mais acessível e com rapidez, o relógio corre contra o tempo, principalmente para um paciente com câncer. Tive muita sorte, meu tratamento foi todo feito pelo convênio ou particular, mas convivi e até ajudei algumas pessoas carentes que infelizmente não tiveram um tratamento adequado e rápido pelo SUS e acabaram falecendo.