[CÂNCER DE MAMA] Déborah Viana

Instituto Oncoguia - Você poderia se apresentar? 
 
Déborah - Meu nome é Déborah, mas gosto que me chamem de Debs, moro em São Paulo - capital, tenho 38 anos. Amo correr, sou maratonista amadora, gosto de esportes em geral e agora estou adorando pintar mandalas e ser mãe full time!
 
Instituto Oncoguia - Qual seu tipo de câncer ? 
 
Déborah - Tive câncer de mama. Em abril de 2013 eu senti um nódulo em auto-exame mesmo, na mama esquerda, próximo à costela. Fiquei apavorada, liguei pro meu ginecologista e fiz a mamografia e o ultrassom. Esses exames acusaram 4 nódulos, mas todos com aspecto de benigdade. Eu pedi para meu GO para fazer uma biópsia. Sou muito ansiosa e lá no fundo, já tinha alguma coisa que me dizia que tinha alguma coisa. Sabe tipo grávida, quando sente que está grávida? Apesar de ter dado birads 3, ele pediu a biópsia. Só que no dia do procedimento foi feita uma biópsia por punção. Nesses casos, o material colhido são apenas células e não fragmentos do tumor. E um tumor maligno pode ter células beningnas. O pedido foi de uma CORE, que tira fragmentos do Tumor, mas como eu tinha prótese e no laboratório ficaram com medo de perfurá-la, foi feita a punção. O resultado veio como ausência de células malignas. Fiquei bem, mas ainda meio encanada porque queria tirar o nódulo. Meu médico explicou que em casos de tumores benignos e fibroadenomas, você pode tirar e ele voltar. Então, optamos por acompanhar. Em agosto eu sentia latejar o mesmo nódulo e comecei a sentir mais 2 na auréola. Procurei um mastologista - que não foi o Dr Waldemir Rezende que foi quem me operou, ele pediu uma Ressonância Magnética e de 4 eu já tinha 8 nódulos, birads 3. Fiquei apavorada com essa multiplicação mas esse mastologista insistiu na benignidade. Eu estava nas vésperas da maratona, de viagem de lua-de-mel, acabei desencanando um pouco. Quando voltei de Berlim, meu treinador me deu um período de descanso e foi quando aproveitei para fazer todo meu check up. Pedi ao meu médico, o Dr Ronaldo Arkader, que é endócrino, mas médico de família sabe?, que me indicasse outro masto. Falei para ele: "Quero o melhor de São Paulo, tenho certeza que tenho alguma coisa!". O Dr. Wlademir não é o melhor de São Paulo porque é caro. Ele trabalha no HC, foi o primeiro a tratar grávidas com câncer, sem precisar abortar o feto. É uma das pessoas mais humanas que conheci. Fui até ele, ele olhou todos os meus exames, quase duas horas de consulta e me disse: "Você esta com cancerofobia! Todos os seus nódulos são redondos, têm aspecto de benignidade. Vamos fazer assim: Para você não ficar desesperada, vamos repetir a Ressonância em fevereiro". Eu não sei explicar para você o porquê, mas quando fui fazer meu check up, pedi ao Ronaldo que me desse um novo pedido de Ressonância das mamas. Todo mundo me chamando de neurótica, louca, mas fiz. E deu birads 4. E de 8 nódulos em agosto, agora, em novembro, eu tinha 12!! Eu sabia que tinha algo errado! E precisei de uma biópsia! Liguei pro Dr Waldemir e expliquei, ele riu e disse: "Você é teimosa! Vamos fazer a biópsia, mas não vai dar nada, seu nódulo é muito redondinho!" Foi quando fiz a CORE do MESMO nódulo onde tinha sido feita a punção de abril e veio o diagnóstico: Carcinoma Invasivo. Eu tinha câncer! Voltei no Dr Waldemir e fiz tudo com ele. Ele sempre diz que meu caso, para ele, vai ser inesquecível. Ele só faz isso, quando me operou e pegou meu tumor na mão, disse que era um fibroadenoma sem dúvida, pela cara dele. 
 
Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico? 
 
Déborah - Eu só tive coragem de ler o meu laudo depois da minha cirurgia. Quem me deu a notícia foi o Dr. Ronaldo. Ele me ligou e disse: "Preciso que venha aqui na clínica ao meio-dia". Eu falei: "Estou com câncer, né?". Silêncio do outro lado. Ele disse depois de uns minutos: "Está. Mas calma, já falei com o Waldemir, vai ficar tudo bem. Vem pra cá!" A partir daí eu anestesiei. Eu lembro que estava na sala de espera da minha dermatologista sozinha com a Duda. Dia 18/12/13, o Fabio viajando a trabalho. Ela olhava pra mim e dizia: "Mamaezinha, não chola!" (estou parada aqui na frente do pc me acabando de chorar).Sabe a primeira coisa que me veio à cabeça? Quanto tempo eu deixei de passar com ela, quantas vezes ela me chamou pra brincar e eu falava "espera um pouquinho que a mamãe está respondendo uma coisa", e estava em whats up, instagram, email... Quantas vezes ela me pediu para ir no parquinho, para vir na janela ver uma estrela e eu queria ver um programa na TV? E agora estava ali, sem saber realmente o que eu tinha, se todos os outros nódulos eram malignos, se tinha quimio, se tinha metástase... Se eu ia vê-la crescer, se ia ver ela aprender a ler e escrever, se ia vê-la ficar mocinha, enfim… não é piegas, gente... é isso, você vê a morte ali na tua frente. Até porque as pessoas fazem questão de associar o câncer à morte. Não tive coragem de contar para o Fabio. O Dr. Ronaldo ligou para ele e pediu para ele voltar para São Paulo. Só liguei para minha mãe e para Priscila, uma das minhas melhores amigas. Quanto ao Instagram, ia desativar minha conta. Não estava dando conta daquilo comigo mesma. Eu sempre fui muito transparente lá. Sou o que sou e ponto. O Fabio fala que me exponho demais, mas essa é minha verdade! Essa sou eu! Sumi 4 dias e resolvi contar. E dali, recebo as MAIORES demonstrações de carinho e força que eu jamais imaginei receber.
 
Instituto Oncoguia - Qual foi a sua maior preocupação neste momento? 
 
Déborah - Minha preocupação: como eu ia fazer uma adenomastectomia, ficaria mutilada. Sou casada, nova, fiquei com medo especificamente disso. Quando cheguei em casa da consulta com meu mastologista, fui pro google (coisa que ninguém deve fazer!) e coloquei: adenomastectomia bilateral -  imagens. Aí me desesperei! Porque no google só aparecem as coisas bizarras.
 
Instituto Oncoguia - O que aconteceu depois disso? 
 
Déborah - Fui a 5 cirurgiões plásticos aqui em São Paulo até chegar no Dr. Marcelo Sampaio. Eu já cheguei chorando na sala de espera e ele me disse: "Vamos fazer assim: eu te mostro uns 40 casos de reconstrução. Se você achar que vai ficar como viu no google, pode ir embora, certo?". E foi lá que vi que ia poder ser mulher sim, depois de um câncer de mama. 
 
Instituto Oncoguia - Você já começou o tratamento? 
 
Déborah - Já. Eu operei dia 28/12 e comecei a quimio dia 27/01.
 
Instituto Oncoguia - Em sua opinião, qual é o tratamento mais difícil? 
 
Déborah - A quimioterapia da série vermelha para mim foi muito ruim. As duas primeiras eu passei tranquila, indo para a academia, mas na terceira caí de cama por 3 dias e só conseguia tomar suco de maracujá. Fiquei trancada num quarto escuro. Foi horrível mesmo. Sou muito ativa, aquilo para mim foi um sinal: "PARA, VC ESTÁ FAZENDO QUIMIO" Porque estava levando uma vida normal, no sentido de correr, enfim...
 
Instituto Oncoguia - Você teve efeitos colaterais? 
Déborah - O pior, como disse, foram os enjôos e as enxaquecas. Tomei emendra intra venoso, mas mesmo assim passei muito mal. Emagreci em cada quimio vermelha 2 kg. Aí na semana "boa" recuperava...
Instituto Oncoguia - Como foi a relação com o seu médico? 
Déborah - MARAVILHOSA. A partir do momento que conheci o Dr. Wlademir e o Dr. Marcelo eu me tranquilizei. Tudo que eu queria saber eles me respondiam. A partir daí não me faltou mais informação. Idem com o meu oncologista, o Dr. Marcelo Tanaka. Eu falo pra eles que 60% do meu otimismo e da minha tranquilidade vem deles.
 
Instituto Oncoguia - Com que outro profissional você se relacionou? 
Déborah - Com minha terapeuta e meu endócrino que me acompanha em todo esse processo.
 
Instituto Oncoguia - Você fez acompanhamento psicológico?
 
Déborah - Sim.
Instituto Oncoguia - E com nutricionista?
 
Déborah - Também.
 
Instituto Oncoguia - Você está em tratamento ou já finalizou? 
 
Déborah - Só faltam 9 sessões das brancas. Meu tratamento são 16.
 
Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje? 
 
Déborah - Com as brancas praticamente normal! Eu falo que estou no céu com o Taxol! rs Voltei pra academia 3x por semana , nadando e fazendo musculação. Estou trabalhando com meu blog, o que me dá flexibilidade para ficar com a minha filha, coisa que eu não tinha tempo. Mudei minha alimentação em algumas coisas. Aliás, a alimentação da casa! O frango agora é sem hormônio, verduras e frutas orgânicas e cortei a carne vermelha. Açúcar eu já não era muito fã, mas o Taxol me dá muita vontade, então acrescentei a gelatina.
 
Instituto Oncoguia - Conte-nos sobre seu trabalho e planos para o futuro. 
 
Déborah - Eu tenho um blog que era sobre corrida, hoje virou sobre bem estar e a minha vida. Não quero viver do câncer. Quero ajudar, me tornei parceira do Oncoguia, acho que posso usar minhas mídias sociais para levar informação, isso é o que falta paras pessoas. Por isso elas se desesperam tanto! Porque associa-se câncer à morte. As pessoas tem pena, ou, quando você está fazendo a quimio dizem: eu não sabia que você está doente. Eu não estou mais doente!, estou em processo de tratamento e cura! Então falta informação tanto para os pacientes, quanto pros leigos.
 
Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje? 
 
Déborah - Pensamento positivo sempre! Ajuda na recuperação da quimio, da cirurgia. Tem a parte física? Tem, mas eu sempre digo que quem manda é a cabeça. Cabeça ruim não vai te ajudar! Exercícios!, nem que seja uma caminhada! É um processo de auto-conhecimento muito intenso, porque você muda todos os seus valores, muda a sua vida e é um processo solitário por mais que você tenha pessoas te apoiando. É você com você mesmo, se conhecendo, se transformando. Eu sempre comparo com o processo da borboleta. No momento estou num casulo, mas quando isso acabar, vai sair uma lindaaa borboleta.
 
Instituto Oncoguia - Qual a importância da informação durante o tratamento de um câncer? 
 
Déborah - É importante demais ter informações de boa qualidade! Google só tem bizarrice. Procure ONGs, converse com seus médicos. Blog é bom, mas nem sempre tem a informação correta. A pessoa de um blog mistura muito o emocional nos posts. Eu li até artigos no pubmed.  
 
Instituto Oncoguia - Você buscou se informar? 
Déborah - Com meus médicos, com artigos e livros recomendados por eles e por alguns sites confiávies.
 
Instituto Oncoguia - Como você conheceu o Oncoguia?  
Déborah - Através do meu oncologista.
 
Instituto Oncoguia - Você tem alguma sugestão a nos dar? 
Déborah - Acho que o Oncoguia é a Instituição mais séria que conheci desde o início do processo. Vocês são realmente atuantes na causa, não é pura e simplesmente a informação. Acho que precisa ser mais divulgado, as pessoas precisam conhecer vocês!
 
Instituto Oncoguia - Você sabia que possuímos um trabalho focado na melhoria da situação do Câncer no Brasil? Estamos sempre em contato com políticos e gestores que podem ajudar a melhorar as políticas públicas brasileiras relacionadas ao câncer. Se você fosse mandar um recado para um político, o que você gostaria que mudasse ou melhorasse considerando tudo o que você passou? 
 
Déborah - Hoje, os exames pelo SUS ainda são muito precários. Precários no sentido de tempo pra realizar, de idade - o câncer de mama por exemplo, tem aparecido em mulheres com menos de 40 anos com muita frequência. Acho que falta um atendimento digno. Se a pessoa quer um tratamento melhor, tem que ir para grandes centros. E o Brasil é um país muito grande para ter essa infra-estrutura em cidades maiores apenas. Fica tudo sobrecarregado e o atendimento acaba deixando a desejar. 
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