[CÂNCER DE MAMA] Cláudia Yoshida

Cláudia YoshidaInstituto Oncoguia - Você poderia se apresentar?

Cláudia Yoshida - Meu nome é Cláudia Yoshida, tenho 37 anos, moro no Rio Grande do Sul, gosto muito de ler, de andar e bicicleta e de escrever. Sou casada, meu marido foi meu super companheiro em todas as etapas do tratamento, tenho um filho lindo de 12 anos. Sou professora de Língua Portuguesa em uma escola de Ensino Fundamental e adoro meu trabalho.

Instituto Oncoguia - Como foi que você descobriu que estava com câncer de mama?

Cláudia Yoshida - Descobri o câncer em um exame de rotina. Fui fazer meu preventivo anual e meu ginecologista solicitou uma mamografia e ecografia mamária, aos 35 anos, porque eu tive um caso de câncer de mama na família.

Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico? O que sentiu?

Cláudia Yoshida - Fiz os exames solicitados com naturalidade, e quando o ecografista disse ter encontrado um nódulo sólido que seria necessário meu ginecologista decidir o que fazer, fiquei já sob alerta, mas ainda não sabia que tinha câncer. Meu ginecologista me encaminhou para uma mastoncologista que disse ser importante retirar esse nódulo, mas acreditávamos ser benigno. Depois dessa cirurgia, que foi bem simples, recebi o diagnóstico junto à minha médica, ela leu o laudo que dizia que o nódulo era maligno, com alto grau de malignidade e que ainda tinha mais um segmento de células malignas que ultrapassava os limites cirúrgicos, portanto, teríamos de fazer outra cirurgia.

Instituto Oncoguia - Qual foi a sua maior preocupação neste momento?

Cláudia Yoshida - Eu sempre fui muito prática, levei um susto, mas pensei que não poderia me ausentar do trabalho naquele momento, eu não poderia operar de novo em quatro dias como a médica queria. Quando ela me disse: "Você não está entendendo, você tem câncer". É importante fazer a cirurgia o mais rápido possível. Foi que me dei conta da real situação, acho que nesse momento caiu a ficha e agendamos a cirurgia para os quatro dias em que ela tinha disponibilidade. Saí da sala de consulta sem chão, meio atordoada. Sentei no primeiro banco que encontrei e tentei reorganizar meus pensamentos, foi quando meu telefone tocou e contei para minha amiga o que acabava de acontecer. Não lembro de detalhes da conversa, apenas que foi bom ela ter ligado.

Instituto Oncoguia - O que aconteceu depois disso?

Cláudia Yoshida - Depois disso operei e quando veio o resultado do exame do material retirado, mais uma vez tinha outro segmento de câncer que ultrapassava os limites cirúrgicos, foi difícil, mas decidimos pela mastectomia, eu tinha tido três focos de câncer na mesma mama. Depois da primeira consulta minha sogra não deixou mais que eu fosse sozinha, estava sempre comigo. Eu não estava acostumada com isso, mas gostei do cuidado. Além da mastectomia, fiz o esvaziamento axilar, no momento da cirurgia o resultado do exame do sentinela deu negativo, comemoramos não ter de fazer as quimioterapias, mas outro exame, que serve para confirmar esse primeiro detectou micrometástase, fazendo necessário o tratamento quimioterápico.

Instituto Oncoguia - Você já começou o tratamento?

Cláudia Yoshida - Fiz oito sessões de quimioterapia, uma a cada 28 dias, assim que cicatrizei da mastectomia. Terminei em janeiro de 2012. Terminadas as quimioterapias, decidi passar um ano longe da rotina de hospital, vivendo sem dor pelo menos. 2012 foi um ano de recuperação, recuperei o fôlego para começar a próxima etapa, a da reconstrução e trabalhei, e vivi um pouco as coisas que gosto. Eliminei 12 dos muitos quilos que o tratamento me trouxe, voltei à academia, corri, pedalei, passeei, curti meu filhote, namorei, trabalhei, comecei a fazer pós-graduação, passei no concurso e fui nomeada, criei coragem e procurei o médico indicado pela minha mastoncologista e iniciei a reconstrução, em janeiro de 2013.

Essa primeira etapa da reconstrução foi bem difícil, tive de fazer TRAM porque não tinha pele suficiente para usar expansor. A cirurgia foi dia 9 de janeiro de 2013 e levei quatro meses para concluir a cicatrização. A Dr. Virgínia disse que isso foi somente por causa das quimioterapias, a cicatrização fica prejudicada. Mas pude, mesmo assim, começar o ano letivo na ativa, ainda com o ferimento aberto, com bastante cuidado, assumi meus compromissos com a responsabilidade de sempre.A segunda etapa foi em 10 de julho, também planejada para não atrapalhar minha rotina no trabalho, ausentei-me dois dias e depois foi período de recesso escolar. Precisamos desse tempo até a segunda etapa porque era necessário esperar quatro meses para que o tecido retirado do abdômen acomodasse, só agora fizemos os contornos da mama reconstruída, a simetrização da mama oposta e a correção dos extensos ferimentos e cicatrizes que ficaram na barriga por conta da retirada da pele para fazer a mama. Aproveitei o ensejo para uma lipoaspiração nas costas e meu médico disse ter tirado dois litros e meio de gordura de lá, é muita coisa! E que coisa boa! Mas também resta no pós-operatório muita dor. Eu ainda tinha duas cicatrizes, uma em cada nádega, de injeções mal dadas quando era criança que ele enxertou gordura para suavizar: mais uma parte do corpo dolorida agora, não vejo a hora de ver os resultados! Ainda estou inchada, então eles não aparecem.

Instituto Oncoguia - Em sua opinião, qual é o tratamento mais difícil? Por quê?

Cláudia Yoshida - As quimioterapias, sem dúvida.

Em tratamentos de outras doenças, começamos mal e o tratamento vai surtindo efeito aos poucos e vamos melhorando. Com a quimioterapia é diferente, cada vez ficamos mais debilitados. Mas minha médica sempre dizia que eu ia ficar bem, e eu acreditei todas às vezes.

Instituto Oncoguia - Você teve efeitos colaterais? Qual o pior?

Cláudia Yoshida - Engordei muito com o tratamento, isso me deixou bastante chateada, mas os enjoos, e as dores no corpoforam piores.

Instituto Oncoguia - Como foi a relação com o seu médico?

Cláudia Yoshida - Até agora tive três médicos durante o tratamento, meu ginecologista, Dr. Carlos de Menezes Castro, a mastoncologista, Dr. Virgínia Ribas, e meu cirurgião plástico Dr. Vitor Vieira Orsi. Um foi indicação do outro a começar pelo Dr. Carlos, sempre tive total confiança em todas as orientações deles, são profissionais de excelência, e eu uma paciente de sorte por tê-los no meu tratamento.

Instituto Oncoguia - Com que outro profissional você se relacionou?

Cláudia Yoshida - As enfermeiras da clínica de quimioterapia, mais uma vez estive com profissionais que fizeram a diferença no meu tratamento. A Cléo e a Paola, sempre muito cuidadosas e carinhosas, e sempre, em todas as sessões, fui atendida por elas.

Instituto Oncoguia - Você fez acompanhamento psicológico?

Cláudia Yoshida - Decidi por não parar de trabalhar, então tinha de conciliar os poucos dias de licença mensais com os compromissos de trabalho. Gosto muito do meu trabalho e tenho certeza de que isso me ajudou muito no tratamento. Se tivesse parado, teria vivido mais a doença, talvez tivesse buscado ajuda profissional para lidar com ela. Ao invés disso, o carinho dos meus alunos me ajudou a enfrentá-la. Eu tinha, nesse ano, turmas de sexto a nono ano do ensino fundamental.

Instituto Oncoguia - E com nutricionista?

Cláudia Yoshida - Não fiz acompanhamento com nutricionista durante meu tratamento.

Instituto Oncoguia - Você está em tratamento ou já finalizou?

Cláudia Yoshida - Estou naqueles cinco anos em que faço exames a cada seis meses para verificar que a doença não voltou, e tomo uma medicação diária, o tamoxifeno, também por cinco anos. Ele inibe a produção do hormônio feminino que é o responsável pela divisão das células mamárias. Minha médica disse que devo tê-lo como uma espécie de vacina, porque ele fará com que não tenha câncer de mama novamente.

Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje?

Cláudia Yoshida - Hoje posso dizer que encaro a vida de uma forma diferente, que nada me faria ver o mundo com os olhos que vejo hoje se não tivesse passado pelo que passei. Minha rotina continua com os afazeres de casa, o trabalho, mas com outro olhar, que só quem passou pelo que passa um paciente de câncer pode ter.

Instituto Oncoguia - Conte-nos sobre seu trabalho e planos para o futuro.

Cláudia Yoshida - Continuo lecionando Língua Portuguesa em uma escola de Ensino Fundamental, faço pós-graduação em Educação para a Diversidade, com conclusão em julho de 2014. Estou me preparando para o concurso de Porto Alegre, quero muito entrar para o quadro do Magistério dessa cidade, então, tenho estudado muito, sábados e domingos. Ainda não saiu o edital para esse concurso, mas sairá em breve, espero estar preparada.

Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje?

Cláudia Yoshida - Que encare como um desafio, que acredite que vai ser difícil, mas vai passar e apesar de dolorido e sofrido, o tratamento é necessário. Dele não restamos só saudáveis ao fim, mas com outra visão da vida, das pessoas e de nós mesmos. A cura é um processo que vai além do tratamento da doença por si só, nos transforma.

Instituto Oncoguia - Qual a importância da informação durante o tratamento de um câncer?

Cláudia Yoshida - Eu tive muita necessidade de entender tudo o que acontecia, e o que aconteceria comigo depois do diagnóstico. Acredito que isso aconteça com todos os pacientes. Entender o que está acontecendo conosco nos tranquiliza.

Instituto Oncoguia - Você buscou se informar?De que maneira?

Cláudia Yoshida - Sempre perguntava para minha médica e para a minha enfermeira tudo o que queria saber, e elas me explicavam. Quanto mais eu entendia mais dúvidas surgiam.

Instituto Oncoguia - Como você conheceu o Oncoguia?

Cláudia Yoshida - Conheci o Oncoguiaatravés de busca pela internet de respostas que me faltaram. Hoje tenho mais conhecimento e relacionamento com pacientes com câncer e sobre o tratamento do que enquanto fazia as quimioterapias.

Instituto Oncoguia - Você tem alguma sugestão a nos dar?

Cláudia Yoshida - Tenho sim, que continuem esse trabalho tão importante que fazem, espero poder ajudar de alguma forma.

Instituto Oncoguia - Você sabia que possuímos um trabalho focado na melhoria da situação do Câncer no Brasil? Estamos sempre em contato com políticos e gestores que podem ajudar a melhorar as políticas públicas brasileiras relacionadas ao câncer. Se você fosse mandar um recado para um político, o que você gostaria que mudasse ou melhorasse considerando tudo o que você passou?

Cláudia Yoshida - As leis são feitas, é fácil fazer leis, decidir e colocar no papel. Mas não são cumpridas. Temos o direito da cirurgia de reconstrução e da simetrização da mama oposta. Em que condições? Eu gostaria que essa parte do meu tratamento tivesse sido bem diferente.

Antes de fazer minha cirurgia de reconstrução com um cirurgião plástico particular passei por consulta com três outros, do meu convênio, que ouviram todo meu relato do tratamento, que me examinaram e fizeram o roteiro do tratamento indicado, os três, tiraram fotos de mim de todos os ângulos para análise, ao término da consulta, disseram que teríamos um probleminha burocrático, que o convênio não paga os honorários suficientes para uma cirurgia desse porte, e que eu teria de arcar com todas as despesas, exceto a internação que sairia pelo convênio. Ao retornar em consulta com minha médica disse que me senti muito mal procurando um cirurgião plástico, que durante todo o tratamento contra o câncer isso não tinha me acontecido. Ela disse que eu tinha falado com médicos que não lidam com a doença, que são médicos da revista Caras, comerciais. Ela estava certa. E me indicou um cirurgião plástico da sua equipe, que também achava que o meu convênio não pagava os honorários suficientes para o seu trabalho, mas teve a dignidade de se descredenciar. Então consultei com ele e tive a certeza de falar com um profissional que se importa com o bem estar do seu paciente. Fiquei feliz e procurei não pensar mais na frustração das três primeiras experiências.
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