[CÂNCER DE INTESTINO] José Walter da Costa

Instituto Oncoguia - Você poderia se apresentar?
 
José Walter da Costa - José Walter da Costa, 60 anos, casado, apesar de aposentado trabalho com contabilidade e seguro. Como hobby gosto de ler muito e escrever, escrever, escrever. Costumo me intitular "J.W.Costa – Um passageiro no trem da vida.” Sou neto de imigrantes italianos e portugueses vindos de Udine, Treviso, na Itália e Lisboa e Ilha de São Miguel nos açores de Portugal, filho de brasileiros, sou filho da terra nasci em Vila Munhos, nos idos de 1954 mudei-me para o bairro do Ferreira onde passei minha infância e juventude, encontrei minha cara metade, casei no ano do Tri, tive três filhos que me deram cinco lindos netos, atualmente moro em Taboão da Serra/SP.

Instituto Oncoguia - Como foi que você descobriu que estava com câncer? Quantos anos você tinha?

José Walter da Costa - Contava com 57 anos, tudo se iniciou com fortes dores no abdome, tomei remédios para ver se acalmava mais tudo em vão, resolvi procurar um especialista, fui a um gastroclínico que após verificar os exames solicitados me disse sem nenhum rodeio, você esta com um adenocarcinoma e no reto um pólipo hiperplásico, em resumo um tumor em seu intestino grosso.

Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico? O que sentiu? Qual era a sua maior preocupação neste momento? Você tem ou teve alguém na família com câncer?

José Walter da Costa - Quando recebi o diagnóstico foi como um soco. Fui a lona, meu chão sumiu, desci ao primeiro degrau da escada da vida e perdi as forças para me levantar. Minha maior preocupação era a Família, sentia que tinha que deixar um legado para meus filhos e netos. Minha esposa teve um câncer de pele, na família não sei precisar, sei que meus tios e tias irmãos de minha mãe moravam em Rancharia e ás vezes vinham passar uns dias em nossa casa após cirurgia para retirada de úlcera do estômago, era assim que se dizia antigamente.

Instituto Oncoguia - O que aconteceu depois disso? Você já começou o tratamento?

José Walter da Costa - Como as dores no abdome ainda continuavam, internei-me no Incor "Instituto do Coração” e lá fiquei sabendo que meu plano de saúde não cobria tal procedimento naquela entidade, de lá mesmo liguei para o Dr. Ricardo César Pinto Antunes, cirurgião do Instituto Paulista de Cancerologia (IPC), pois ele havia operado com sucesso um câncer de pele de minha esposa. Muito atencioso ao telefone esperou pelo meu relato, então me disse venha imediatamente para cá, pois quero examiná-lo e ver seus exames. E foi o que fiz. Ao ver os exames pediu que conversasse com sua secretária Fabiana e adotasse todo o procedimento para fazermos a cirurgia o mais rápido possível.

Instituto Oncoguia - Qual foi o tratamento mais difícil? Por quê?

José Walter da Costa - Acredito que todos foram difíceis, cada um no seu grau de dificuldades, os exames por vezes vexatórios. As veias que insistiam em se esconder, no meu caso o mais difícil foram às quimioterapias por eu sofrer de uma cardiopatia grave, os fortes medicamentos faziam com que meu coração acumulasse líquido nos pulmões, muitas das vezes saí da sala de quimioterapia do IPC de ambulância direto para o Incor, ali ministravam injeções de furoseminada, ficava por lá internado e acabava indo e vindo de ambulância fazer minha quimioterapia, normalmente ia no IPC na terça feira, injetava a droga através do port-a-cath, um cateter para receber as doze sessões de quimioterapias e ficava por lá de 3 a 4 horas, vinha para casa com a bombinha injetando medicamentos e na quinta-feira voltava para sua retirada.

Instituto Oncoguia - Você teve efeitos colaterais? Você continuou trabalhando ou não? Por quê?

José Walter da Costa - Tive efeitos colaterais terríveis, o pior deles foi a apneia, que por vezes me fazia suar a ponto de molhar toda a roupa e pingar suor pelo chão, sentia náuseas, dores por todo o corpo, sensibilidade nas pontas dos dedos das mãos e dos pés, fortes ferroadas e um frio intenso que me obrigava a usar luvas de lã em pleno verão. E o apetite nenhum (costumava dizer que havia aderido ao programa do Lula o "Fome Zero”) – Continuei meu trabalho não no mesmo ritmo de antes, as vezes quando as reações eram extremas passava até 15 dias sem comparecer ao trabalho.

Instituto Oncoguia - Como era a relação com o seu médico?

José Walter da Costa - Desde o primeiro contato tudo foi muito claro, não encontrei ali somente um profissional mais uma pessoa que se tornou meu amigo e que hoje quando vou me consultar não considero uma consulta e sim uma visita a um velho e querido amigo.

Instituto Oncoguia - Com que outro profissional você se relacionou?

José Walter da Costa - Foram tantos, tive o apoio da Nutricionista, da Dentista, do pessoal da equipe de quimioterapia, a pouco tempo da fisioterapeuta. Mas quem emprestou seu ombro para que eu pudesse derramar minhas lágrimas de dor e angústia que sentia naquele momento de sofrimento ímpar em que percebi ser um simples mortal, foi minha psicóloga hoje minha grande e terna amiga Dra. Vera Anita Bifulco.

Instituto Oncoguia - Como você está agora que tudo já passou?

José Walter da Costa - Uma nova pessoa, o pseudo mal causado pelo câncer me fez dar um novo sentido a vida. Aprendi a arte da contemplação, a arte da meditação, tirei a venda dos olhos e passei a enxergar a vida sob um novo prisma, voltei a acreditar que no fim do arco-iris há sempre um pote de ouro a nossa espera e espero confiante um dia poder retornar a "Terra do Nunca”.

Instituto Oncoguia - Conte-nos sobre sua participação no livro Câncer: Uma visão multiprofissional da Psico-Oncologista Vera Bifulco. Como foi o convite? Você já escrevia? Como foi para você escrever sobre sua história frente ao câncer?

José Walter da Costa - Quando me via frágil, ali sentado na cadeira a espera pelo término da quimioterapia, por vezes me soltava, era como se minha alma se desprendesse do meu corpo e viajava pelo meu passado e vinham a mim as lembranças de meus pais e avós com os quais convivi e de minha infância querida da qual jamais me esqueci e assim envolto por esse sentimento comecei a transcrever para um caderno que carregava comigo os primeiros rascunhos do que um dia se tornaria meu primeiro livro: Trajetória. Quando chegava a minha casa pegava meu computador e a suavidade ao teclar iam enchendo páginas e mais páginas, terminei o ajuntado de fatos resumidos de minha vida e estava prestes a engavetá-lo quando a Dra. Vera ao ler alguns trechos, deixou-me emocionado com suas palavras, incandescendo a brasa quase extinta dentro de mim e me dando coragem para transformá-lo em um livro, daí surgiu a oportunidade de fazer um capítulo para o livro Câncer: Uma visão multiprofissional, quando recebi o convite para participar do projeto, perdi o chão, só que desta vez o perdi de alegria e com as lágrimas rolando pela minha face e o coração querendo saltar pela boca aceitei aquele que depois do sim dito à minha esposa perante o altar foi o melhor sim já dito em minha vida.

Instituto Oncoguia - Comente sobre o seu livro Trajetória. Fale um pouco sobre isso.

José Walter da Costa - Sempre tive como meta de vida casar, ter filhos e esperar pelos netos, plantar uma árvore e escrever um livro. Vivi a vida intensamente, minha infância foi marcada por traços fortes e pinceladas alegres. Meu primeiro livro Trajetória foi se enraizando dentro de meus pensamentos desde muito tempo, sempre quis escrever minhas memórias e ao ser acometido pelo câncer achei que havia chegado a hora de deixar um legado a meus filhos e netos, então ao teclar em meu computador passando para o processador de textos as lembranças que fervilhavam em minha cabeça, foi aos poucos saindo o livro Trajetória, que teve o apoio do IPC (Instituto Paulista de Cancerologia) e da empresa que trabalho Etesco Escritório Técnico Contábil. 

Instituto Oncoguia - Você sente que tudo voltou ao normal? Como está a sua vida hoje?

José Walter da Costa - Minha vida hoje esta cheia de surpresas, poderia dizer que vivo nas nuvens pisando entre elas sem medo de cair, pois não importa onde esteja sempre verei o horizonte e o por do sol a minha frente. Já publiquei pela Editora Multifoco localizada na Lapa – Rio de Janeiro meu mais novo livro, uma ficção intitulada: "Onirismo Fragmentos de Memória”, que se encontra a venda no site da editora.

Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje?

José Walter da Costa - Seu chão vai cair com certeza, mas olhe para seu lado e verá anjos saídos do céu prontos a te ajudar. Hoje existem os profissionais na área de cuidados paliativos, profissionais que sentem dificuldade em vestir seus jalecos brancos pois eles não possuem aberturas nas costas para que as asas possam passar. Acredite em Deus, na família e acima de tudo ame a vida, vou usar aqui um trecho extraído do livro Sêneca: Aprendendo a Viver - tradução Sá Rabelo, Ellen Itanajara Neves Vranas. Porto Alegre L&PM Pocket 2008. Sobre a brevidade da vida - tradução Lúcia Sá Rabelo, Ellen Itanajara Neves Vranas, Gabriel Nocchi Macedo. Porto Alegre: L&PM, 2006:

"É triste, porém, ter a morte diante dos olhos”, dizes. Em primeiro lugar, tanto os velhos a têm diante dos olhos quanto os jovens. Não somos chamados de acordo com a idade e, além disso, ninguém é tão velho que não possa esperar mais um único dia. Um único dia é o tamanho da vida. A existência inteira é feita de tantas partes como círculos, em que os grandes contêm os pequenos e há um que os abraça e encerra todos, que vai do nascimento à morte. Há um circulo que separa os anos da adolescência, outro que tem dentro de si toda a infância; depois chega o ano que reúne em si todos os instantes, cuja multiplicação forma a completude da vida. Um círculo mais estreito contém o mês, uma curva mais reduzida ainda encerra o dia, que também vai de um início a um fim, da aurora ao poente."

Em sua carta à paulino sobre a brevidade da vida, Sêneca diz: "não temos exatamente uma vida curta, mas desperdiçamos uma grande parte dela. A vida, se bem empregada, é suficientemente longa e nos foi dada com muita generosidade para a realização de importantes tarefas. Não julgues que alguém viveu muito por causa de suas rugas e cabelos brancos: ele não viveu muito, apenas existiu por muito tempo!

Assim é a vida: não interessa pelo que dura, mas por quão bem foi vivida. não importa onde irás parar. Onde quiseres, pára; apenas lhe impõe um bom desfecho.

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