[CÂNCER COLORRETAL] Graça Chaves Moraes

Descobri que estava com câncer em outubro de 2007, depois de ter uma crise de dor muito forte na região anal irradiando para o abdômen e evacuações em fita. Isto ocorreu dia 9 de outubro, fiquei pensado em procurar um serviço de urgência, mas não o fiz porque sabia que não há proctologista de Plantão. Tomei buscopan e fui trabalhar, lá conversei com um procto (Ricardo) relatei meus sintomas, ele se dispôs a me examinar na mesma hora, porém eu optei por voltar no outro dia, após fazer o preparo adequado ao exame. No dia seguinte, após tomar 10 comprimidos de buscopan para suportar a dor pela manhã voltei e me submeti retossigmoidoscopia. Pela reação do meu colega de trabalho (que disse poder ser esquistossomose) e pelos sintomas eu já sabia, porém preferi esperar o resultado da biópsia para só depois me preocupar. Viajei no fim de semana para acompanhar minha filha caçula em uma competição de duathlon em Juiz de Fora, o buscopan foi meu companheiro de viagem. Voltamos na segunda-feira, dia 15. Durante o trajeto de volta eu já estava evacuando sangue...

Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico? O que sentiu? Qual era a sua maior preocupação neste momento? Você tem ou teve alguém na família com câncer?

Graça Moraes - No dia seguinte fui trabalhar, meu colega me chamou e me deu a notícia que eu já sabia, mas estava esperando ser oficializada. Confesso que não me abalei muito. Primeiro agradeci a Deus por meu pai já ter falecido, pois ele sofreria muito a me ver passar por esta situação. Nós éramos muito ligados ele já estava meio deprimido e não iria aguentar ver-me sofrer. Depois pensei em minha mãe, com 79 anos... Meu irmão havia operado em agosto, dois meses antes, e imaginei o baque que seria para ela. Em terceiro lugar tornei agradecer a Deus por minhas filhas já serem adultas e eu ter podido criá-las, passar meus valores e saber que se eu faltasse faria falta... Mas nem tanto. Por último pensei em meu marido, ele vivia implicando com o fato de que eu evacuava várias vezes ao dia. Por ele só vai uma vez ao banheiro, pois o intestino tem que ser educado.

Junto com todo este filme que passou na minha cabeça em minutos, veio à necessidade de agendar uma colonoscopia e o Ricardo me ajudou conversando com um colega para ele fazer o exame mais rápido, pois pelo convênio só conseguiria para semana seguinte. Era terça feira, agendei o exame par 5ª feira. Saí do serviço, passei no consultório do médico para pegar o preparo para o exame e voltei para casa pensando em como contar para meu marido e minhas filhas. Planejei reunir todos e dar a notícia com muita calma. Só que quando João chegou em casa eu estava no banheiro e ele foi logo implicando. Aí não teve jeito, comecei a chorar e falei tudo....depois contei às meninas e foi um chororô só. Eu pedi a elas para serem fortes para me ajudar. Dois dias depois fui fazer a colonoscopia, mas meu intestino estava obstruído e não deu pra visualizar nada. No sábado, dia 20 de outubro eu operei.

Instituto Oncoguia - O que você sentiu e ou pensou quando lhe falaram que você estava com câncer ?

Graça Moraes - Descobri que eu tinha de ser forte, pois só assim as pessoas que estavam a minha volta ficariam bem. Foram 5 horas de cirurgia, um dia no CTI e mais cinco dias internada. O pós operatório foi difícil, principalmente a alimentação, mas deu pra superar. Menos de um mês depois iniciei a quimio – esquema Fol Fox. Em janeiro, três meses depois da primeira cirurgia, quando fazia os exames para operar o fígado, descobrimos que havia uma lesão em atividade atrás da anastomose do intestino, voltei à quimio para tentar regredir esta lesão. Em maio deste ano, depois de muito espera por vaga em CTI, operei. A surpresa veio como um sinal de Deus de que eu não tinha mais nada. A lesão que apareceu no exame PET CT não era metástase e sim uma reação aos pontos cirúrgicos (granuloma de corpo estranho); sou muito alérgica e nunca fiquei tão feliz em ter uma reação alérgica assim. Foram mais dois dias de CTI e três de hospital e outro pós operatório difícil, mas faz parte e levamos bem. Afinal depois deste sinal de DEUS todos nós ficamos mais confiantes.

Instituto Oncoguia - Qual foi o tratamento mais difícil? Por quê?

Graça Moraes - Talvez por esperar pelo pior ou por aceitar e entender o processo, os efeitos colaterais não me incomodaram tanto, mas levei muita bomba nos exames de sangue, fato que atrasou bastante o tratamento. Acredito que além deste atraso, uma das coisas que mais me incomodou foi depender das pessoas para me levar à clínica e ficar comigo nos dias de aplicação. Eu sempre fui muito independente e ninguém me deixava fazer nada sozinha. Não adiantava conversar com meu marido e minhas filhas, não tinha jeito, tive babá por 10 meses.

Instituto Oncoguia - Como era a relação com o seu médico?

Graça Moraes - Minha relação com o oncologista era bastante cordial, comecei com um "bam bam bam” e depois fiquei com o "assistente”, pois ele estava sempre mais acessível e tão capacitado quanto o outro. Fui uma boa paciente, incomodei pouco.

Instituto Oncoguia - Com que outro profissional você se relacionou?

Graça Moraes - Consultei com uma nutróloga, mas minha filha que faz nutrição é que me ajudou muito; acredito que para as pessoas leigas uma nutricionista atenciosa e competente vale mais que mil consultas vagas com uma nutróloga. Durante o tratamento percebi que muitos pacientes tinham muita dificuldade de saber quais os alimentos adequados para fortalecer nosso sistema imunológico, quais os mais indicados para os dias de tratamento, etc. Infelizmente não precisei de psicóloga, acho que eu poderia ser um pouco mais fraca, pelo menos todos achariam normal, mas não sou e passei por tudo numa boa, ou quase. Acho que exagerei na força.

Instituto Oncoguia - Como você está agora que tudo já passou?

Graça Moraes - Acredito que câncer é uma doença como outra qualquer, você tem que seguir o tratamento a risca, bem direitinho: tem que alimentar mesmo que sem fome, evitar se expor a doenças oportunistas, é quase igual às outras, só que mais chatinha e assusta muito mais às pessoas do que a você mesma. Sei que pessoas morrem de câncer, como sei que morrem de chagas, tuberculose, acidentes, e tantas outras doenças, mas também sei que somente morreremos ser for a nossa hora. E enquanto estivermos vivos temos de nos cuidar e encarar todas as dificuldades com naturalidade.

Instituto Oncoguia - Você sente que tudo voltou ao normal? Como está a sua vida hoje?

Graça Moraes - Agora voltei às atividades profissionais, está sendo muito mais difícil este retorno do que foi o tratamento. Minha visão ficou comprometida, pois o tratamento agravou uma catarata que eu já tinha... O local em que trabalho está em obras (serviço público não se preocupa com a saúde dos funcionários nem dos pacientes) e estamos trabalhando em meio à poeira, barulho e bagunça. Somente agora voltei á academia de ginástica, pois havia optado por parar assim que comecei a levar bomba nos exames de sangue. Durante 10 meses a prioridade era estar bem para suportar o tratamento. De atividade física somente a bicicleta ergométrica nos dias em que eu estava me sentindo melhor.

Instituto Oncoguia - Você procurou se informar durante o tratamento?

Graça Moraes - No início até que tentei aprofundar sobre o câncer, mas depois resolvi ser só paciente e desisti de ficar lendo, pesquisando na internet, etc. Achei melhor deixar os médicos cuidarem de mim, pedi a todos que rezam para interceder por mim junto a DEUS. Acredito que ele ouviu as preces dos meus amigos e hoje me sinto bem. Já voltei ao oncologista e em um mês farei tomografia para controle, estou preparada para tudo, mas acredito que nunca mais terei nada desta doença. Já tive síndrome nefrótica, reação anafilática, sarampo, catapora, sinusite, mioma uterino, amigdalite, etc.; muitas podem ter novamente, mas câncer...chega, venci.

Instituto Oncoguia - Que sugestões ou orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje?

Graça Moraes - Li pouco durante meu tratamento devido a minha visão não estar boa, mas gostei muito e recomendo a todos os pacientes: "Sala de espera", acho que de Cecília Barreto, muito bom, mas fiquei triste, pois descobri que a autora não sobreviveu muito tempo. "De volta a vida, de Lance Armstrong, que achei sensacional, um ciclista que depois do câncer foi campeão seis vezes do tour de France. Não consegui ler nenhum livro de auto-ajuda, acho que não deve ser indicada a ninguém a situação em que vivi ninguém merece.

Em nenhum momento me senti penalizada, sempre pedi a Deus que fosse feita Sua vontade e agora, mesmo que eu lhe agradeça todos os dias, ainda agradecerei pouco.