[] [CÂNCER DE MAMA] Cristina Rezende

Aprendendo com Você
  • Instituto Oncoguia - Olá Cristina, você poderia se apresentar?
     
    Cristina Rezende - Meu nome é Cristina Rezende e tenho 35 anos. Já fui casada. Separei-me com 29 anos e atualmente estou namorando. Não tenho filhos. Sou jornalista e trabalho como assessora de imprensa. Adoro ver filmes, ler, viajar e beber um bom vinho. 
     
    Instituto Oncoguia - Cristina, como foi que você descobriu que estava com câncer?

    Cristina Rezende - Em janeiro/2006 foi a primeira vez que eu senti o nódulo e uma dor desagradável na mama esquerda. Conversei com algumas amigas que me tranquilizaram dizendo que deveria ser uma displasia e depois eu fiquei mais tranquila ainda porque achava que câncer não doía e também eu era muito nova para apresentar a doença, além de nunca ter havido casos de câncer de mama na família. A minha ginecologista da época tinha acabado de sair do meu plano e eu resolvi consultar uma outra. Ela era novinha, parecia um pouco inexperiente, me examinou e disse que não devia ser nada grave, mas de qualquer forma ela me pediu uma mamografia. Dois meses depois fui fazer o exame e quando cheguei à clínica eu precisava ter solicitado uma autorização ao meu plano e não poderia fazer o exame. Fiquei chateada e simplesmente não fiz a mamografia e nunca mais voltei àquela ginecologista. Segui a minha vida normalmente e em julho daquele mesmo ano senti um nódulo na axila esquerda. Ali eu tive o pressentimento que era algo muito grave. Morrendo de medo, procurei uma outra ginecologista que quando me examinou senti no seu semblante uma grande preocupação. Ela fez o pedido de uma mamografia e de uma ultra-sonografia mamária. Fiz os exames e marquei nova consulta. Mas como eu sou muito curiosa, comecei a pesquisar os resultados na internet e vi que não eram bons. Quando levei os exames ela me pediu para fazer uma punção o mais rápido possível. Pelo meu plano eu teria que esperar quase três semanas. Começou a minha angústia, eu não poderia esperar tanto tempo. A minha outra angústia era achar um bom oncologista, mas eu precisava de uma indicação. Meu namorado lembrou da médica que cuidou da mãe dele quando ela teve leucemia e ligou pra ela que indicou um colega de profissão. Lá fui eu na consulta. Ele disse que eu deveria fazer uma biópsia urgente. No dia 1º de agosto de 2006 pela primeira vez na vida eu estava entrando numa sala de cirurgia e tomando anestesia geral. Serei eternamente grata ao meu namorado que pagou todo o procedimento. No dia 05 de agosto tive a certeza que estava com um tumor maligno no seio de mais de 3 centímetros e que já tinha feito metástase na axila, considerado o estadio III da doença. Também foi constatada uma grande inflamação na mama, motivo da dor. 
     
    Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico? O que sentiu? Qual era a sua maior preocupação neste momento?

    Cristina Rezende - Fiquei sem chão, chorei muito sozinha e nos braços do meu namorado. O mais difícil foi contar para a minha família, pois até então só o meu namorado e alguns poucos amigos sabiam o que estava acontecendo. Pela primeira vez na vida senti o que realmente é o medo da morte. Em nenhum momento me revoltei, pois simplesmente achava que isso estava acontecendo comigo como poderia estar acontecendo com qualquer outra pessoa. Uma vez uma amiga me ligou e disse: "Poxa Cris, você não merecia estar passando por isso”. Sei que ela teve a melhor das intenções ao falar isso, mas é errado. Respondi que ninguém merece passar por isso, mas a vida é assim, as pessoas nascem, morrem, adoecem, ficam curadas. É desse jeito e ponto final. 
     
    Instituto Oncoguia - O que aconteceu depois disso? Você já começou o tratamento? 
     
    Cristina Rezende - Eu tinha um problema, o meu plano de saúde era limitado, tanto que a consulta com o oncologista indicado e a biópsia foram pagos. Meu plano até cobria o tratamento, mas em lugares que eu nunca tinha ouvido falar, não tinha referência. Meu pai tem um amigo de infância que é um médico respeitadíssimo do INCA – Instituto Nacional do Câncer. Fui ao encontro dele com os meus exames na mão. Ele me examinou, olhou os resultados e disse que eu deveria me encaminhar ao HCIII, unidade do INCA que atende somente aos casos de câncer de mama. Lá fui eu, passei pela triagem, pela assistência social e a consulta com o oncologista. Um mês mais ou menos até a primeira a primeira dose de quimioterapia. Decidiram que no meu caso eu teria que fazer a quimioterapia antes da cirurgia para diminuir o tumor. Seis sessões antes da cirurgia (mastectomia com esvaziamento axilar) e depois da cirurgia a radioterapia, mas tudo mudou no decorrer do tratamento. Depois de quatro sessões o meu caso foi para a mesa redonda do INCA (os especialistas se reúnem para discutir casos específicos). Por unanimidade chegaram a conclusão que eu já estava pronta para a cirurgia, o tumores da axila e o da mama tinham diminuído. Respondi bem ao tratamento. Depois da cirurgia é feita uma outra análise do material para novo diagnóstico e o resultado foi ótimo. Meu médico disse que as chances para dar aquele resultado era de uns 10% somente. Chorei ... Só que dessa vez de felicidade. Pelo INCA, eu faria somente a quimio, cirurgia e radio, mas o meu médico me aconselhou a fazer novas sessões de quimio depois da mastectomia. Nesse caso seria pelo meu plano na clínica que ele atendia. Depois que saiu o resultado da biópsia pós-cirurgia ele ficou na dúvida se eu realmente precisaria da quimio outra vez e resolveu consultar outros especialistas. As opiniões ficaram divididas e eu tive que decidir se eu faria ou não. Seria uma quimio menos agressiva, mas meus cabelos cairiam de novo e o sistema imunológico ficaria fraco outra vez. Na dúvida do que seria melhor pra mim resolvi voltar a fazer o tratamento. Os efeitos colaterais realmente foram bem menores, mas dessa vez além de perder os cabelos, perdi as sobrancelhas. 
     
    Instituto Oncoguia - Qual foi o tratamento mais difícil? Por quê?

    Cristina Rezende - Antes de começar o tratamento achei que a cirurgia iria ser o mais complicado. Mas agora que eu já passei por todas as etapas, sem dúvida é a quimioterapia. Essa fase do tratamento é a mais difícil pelos efeitos colaterais que ela apresenta e como eu sou jovem e ainda não tive filhos, a quimioterapia poderia descartar o meu sonho de um dia ser mãe e quase pirei. Cismei que iria fazer congelamento de embrião. Fui a um especialista que me cobrou um absurdo a consulta e disse que o procedimento todo sairia 13 mil reais. Não tinha esse dinheiro. Somente as mulheres foram solidárias nesse momento e acho que isso é natural. Pensei em desistir de tudo e não fazer o tratamento.
     
    Depois eu me informei melhor e uma médica do INCA me disse que as chances de infertilidade eram de 30% e que existia uma medicação que poderia proteger o meu ovário e aumentar as minhas chances. Muita gente não sabe, mas o Zoladex (remédio usado para endometriose e alguns casos de câncer) pode ser usado para esse fim. Mas nesse caso o INCA não fornece o remédio e tive que comprar. Não é barato, quase quinhentos reais cada caixa para cada aplicação. Mas com a ajuda do meu pai e da minha irmã consegui comprar os remédios. Ao todo foram oito aplicações. 
     
    Instituto Oncoguia - Você teve efeitos colaterais? Qual o pior?

    Cristina Rezende - Tive sim. Todos os tratamentos apresentaram determinadas complicações.
     
    Quimioterapia: comecei a perder meus cabelos após o 15º dia da minha primeira aplicação. Minha irmã mais velha e seu marido que moram nos E.U.A. que enviaram uma peruca de presente que ficou melhor que o meu próprio cabelo... rs... Continuei trabalhando no decorrer do tratamento. De três em três semanas recebia a dose de quimio e faltava no trabalho uma semana para me recuperar. Sentia uma fome louca (engordei 7 kg), ficava um pouco enjoada e vomitei umas duas vezes e uma vez tive uma crise forte de dor no estômago. Meu sistema imunológico também ficava muito frágil logo após as aplicações. Por causa disso, nesse período (uma semana mais ou menos) tinha herpes e frieiras.

    Cirurgia: A possibilidade de perder um seio acabava comigo. Procurava não pensar muito nisso, mas depois que eu tirei foi muito boa a sensação de saber que o tumor não estava mais no meu corpo. Na verdade, fiquei aliviada. Por incrível que pareça os três dias de internação não foram o horror que eu imaginava. Conheci mulheres maravilhosas e divertidas. No dia seguinte a cirurgia já estava caminhando pelo hospital e telefonando para as pessoas. Fiquei dois meses sem trabalhar e a minha recuperação foi rápida. Nesse período recebia visitas quase todos os dias com presentinhos, flores e a minha mãe que veio de Recife para cuidar de mim fazia sempre um lanchinho. Fui super mimada! Aproveitei as férias forçadas para ler bons livros, ver filmes, curtir os amigos e fazer coisas prazerosas. É importante tomar muito cuidado com o lado do braço operado para não inchar e seguir todas as orientações do fisioterapeuta. Operei no dia 12 de janeiro de 2007 e no carnaval já estava indo à praia e saindo nos blocos.
     
    Radioterapia: 25 sessões diárias, menos nos finais de semana. Foi o período mais tranquilo. Fazia a radio na parte da manhã e à tarde seguia para o trabalho. No final do tratamento, a minha pele ficou muito castigada e abriu uma ferida que ficou em carne viva e doía muito, mas nada que um analgésico não desse jeito. Como eu odeio beber líquidos, acho que isso contribuiu para o ressecamento da minha pele e consequentemente abrir a ferida. 
     
    Instituto Oncoguia - Como era a relação com o seu médico?

    Cristina Rezende - Tive muita sorte, pois lá no INCA a cada consulta você é atendido por um médico diferente e isso não é bom, pois gera uma certa insegurança. Na minha terceira consulta conheci o doutor G. Pelo meu prontuário ele viu que eu tinha plano de saúde e disse que atendia pelo meu plano, inclusive. Mas isso é o de menos, o importante foi a orientação que ele me deu. Primeiramente ele perguntou se eu gostaria de fazer um teste para saber se eu era HER2 positiva. Perguntei o que é isso. Ele me explicou que algumas mulheres apresentam um tipo de tumor muito agressivo chamado HER2 e precisam tomar uma droga específica, mas o INCA ainda não fornecia a droga e o meu plano sim. Fiz o teste e deu positivo. Comecei a tomar o medicamento que se chama Herceptin em março de 2007. Sem o medicamento eu poderia não ter tanto sucesso na minha luta. O Dr. G. passou a ser o meu médico no INCA e fora do INCA também. Nas consultas sempre esclareceu todas as minhas dúvidas. Algumas vezes precisei ligar pra ele e eu sempre fui atendida com toda a atenção. Ganhei dele um livro com perguntas e respostas sobre a doença. Sou muito grata ao Dr. Gilberto e admiro a sua responsabilidade como médico, seu respeito aos pacientes e o seu amor pelo que faz.
     
    Com que outro profissional você se relacionou?

    Cristina Rezende - Psicóloga, nutricionista, assistente social e fisioterapeuta. O INCA oferece o suporte de todos esses profissionais. Cada um deles é muito importante. 
     
    Instituto Oncoguia - Como você está agora?

    Cristina Rezende - Tudo ainda está passando. Acabei de fazer a radio há pouco tempo. Continuo o tratamento com o Herceptin até fevereiro do ano que vem e faço hormonioterapia (1 comprimido diário de Taxofen durante 5 anos para evitar o retorno da doença). 
     
    Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje? 
     
    Cristina Rezende - A minha vida aos poucos está voltando ao normal. Caso eu não me sinta bem, aviso e não vou trabalhar. A minha chefe e a equipe que trabalha comigo têm sido maravilhosos. Tenho uma vida social e sexual normal. Procuro ter uma alimentação balanceada e pretendo começar alguma atividade física. Estou com alguns planos.
     
    Quero fazer uma pós-graduação, um curso de reciclagem do meu inglês, reformar meu apartamento e viajar muito com o meu namorado. Penso em tentar engravidar daqui uns dois anos. O Dr. G. disse que eu terei que interromper o tratamento com o Tamoxifen, mas depois posso voltar a tomá-lo normalmente. Quanto a reconstrução do meu seio, ainda não sei quando serei liberada para fazê-la. 
     
    Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje?

    Cristina Rezende - É complicado, só quem passa por essa situação sabe o quanto é doloroso e desgastante. Mas ficar deprimida não adianta nada. Acho que no primeiro momento tem que chorar, pedir colo, todo esse processo é normal. Mas depois tem que ir a luta. No INCA eu percebi a força das outras mulheres. Dá para passar por tudo isso com dignidade. Eu, por exemplo, fiquei mais vaidosa do que já era. Sempre me obriguei a ficar bonita. Se eu não contasse, ninguém percebia que eu estava doente. Eu não me permiti ficar com aparência de doente e também não queria que ficassem com pena de mim. E tenho orgulho de dizer que acho que conquistei a admiração das pessoas. O caminho para a cura não é fácil, às vezes é árduo e longo. Sei que eu tenho muita sorte por ter uma família legal, um namorado maravilhoso, amigos de verdade, mas devemos buscar a força em nós mesmos. Eu sempre procurei falar da doença de uma maneira natural, quando meu cabelo começou a cair eu mesma fui lá e raspei tudo de uma vez, encarei a praia mesmo sem um seio. Temos que tentar nos adaptar a situação da melhor forma possível. Eu sempre fui brincalhona e procurei não perder isso. Acredito muito em Deus e isso me ajudou muito também. Outra sugestão, é muito importante tirar todas as dúvidas com o médico sobre a doença e o tratamento e ter uma relação de total confiança com ele. 
     
    Instituto Oncoguia - Você teve apoio dos familiares e dos amigos?

    Cristina Rezende - Tive sim e muito. Gostaria de aproveitar esse espaço para agradecer o apoio de algumas pessoas. Primeiramente aos meus pais Marleide e José que acredito terem sofrido mais que eu, a minha irmã Mônica que mora em São Francisco (EUA) e apesar da distância me apoiou em todos os momentos, a minha irmã Márcia pelo carinho, a minha tia Linda Rosa pela atenção, a minha chefe Sílvia Helena e aos meus colegas de trabalho pela compreensão e solidariedade, aos meus amigos queridos pela força (não dá para citar o nome de todos, pois a lista é extensa) e finalmente ao homem que eu amo, Mauro Torres, que esteve ao meu lado em todos os momentos bons e ruins. Sei que foi muito difícil pra você também. Obrigada por todo o amor e carinho que você tem me dedicado.

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