[Linfoma Não Hodgkin em Crianças] Marine Lopes Antunes

Aprendendo com Você
Marine Lopes Antunes
  • Instituto Oncoguia - Quem é você? (idade, profissão, tem filhos, casada, cidade e estado?) Marine - Marine Antunes, 26 anos, sem filhos, portuguesa e vivendo em Portugal, atualmente na cidade do Porto. Autora do projeto Cancro com Humor - como sobrevivente do câncer, uso o humor e a criatividade para dar o meu testemunho, desmistificando tabus e apresentado uma nova forma de lidar com o câncer. Blogger, criativa sou ainda autora do livro Cancro(câncer) com Humor e palestrante - apresento as palestras Cancro com Humor pelo país em universidades, hospitais, associações, eventos, programas de tv, etc mas também no Brasil. Sou Embaixadora para a Europa da Plataforma do Paciente com Câncer de Maringá (Brasil); Embaixadora de campanhas de sensibilização, criei ainda a peça de teatro infantil "É cancro,é pois é?"; uma história de quadradinhos que expus em duas galerias e uma campanha fotográfica com mulher de cancro que também foi notícia no site Terra (Brasil). Criei o Movimento Careca Power e Ser Feliz no Caos, tive uma associação da qual fui presidente que criou várias atividades para doentes com câncer, fui considerada Jovem Inspirador 2013 de Portugal e venci o concurso de Mulheres Extraordinárias; participei em duas TEDX e em várias reportagens televisivas, e tenho uma coluna, todas as quintas-feiras, no Jornal i, com o espaço Cancro com Humor.
  • Instituto Oncoguia - Como foi que você descobriu que estava com câncer? Marine - Tinha 13 anos quando descobri que tinha câncer. Depois de um pico de febre, fui de urgência para o hospital onde fiz um Raio-x e análises ao sangue. Foi o que bastou para percebemos imediatamente que tinha algo muito grave. Fui rapidamente internada, por me ter sido detectada uma "mancha" no mediastino que já tinha 5 centímetros e em 5 dias cresceu até atingir os 11 centímetros.
  • Instituto Oncoguia - Você apresentou sinais e sintomas do câncer? Quais? Marine - Sim. Sempre fui muito saudável e fazia karatê desde os seis anos de idade. Tinha sempre muito energia e treinava frequentemente, por isso, foi fácil perceber que o cansaço extremo que sentia, não era normal. Além do cansaço extremo, comecei e ter febres baixas, falta de apetite, emagrecimento rápido e muitos, muitos suores noturnos - cheguei a mudar de pijama 7 vezes durante a noite.
  • Instituto Oncoguia - Quais dificuldades você enfrentou para fechar o seu diagnóstico? Marine - Todos os médicos particulares desvalorizaram os meus sintomas e chegaram a dizer que eu estava apenas sendo adolescente, "com a mania das dietas" e que a minha mãe, era uma "mãe galinha" e superprotetora. Depois de muita insistência da minha mãe, que lutou para ser ouvida e depois de um pico de febres altas, finalmente, nas urgências hospitalares, reconheceram o meu mau estar e fizeram os exames que confirmavam que estava doente.
  • Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico? O que sentiu? No que pensou? Marine - Eu não percebi imediatamente o que se estava a passar e já passava da meia-noite e eu, efetivamente, queria era ir dormir...Mas quando fiquei internada e vi todas aquelas pessoas sem cabelo, pensei: ou foi lançado um novo estilo e ninguém me disse nada ... ou tenho cancro. E tinha cancro.
  • Instituto Oncoguia - Qual foi a sua maior preocupação neste momento? Marine - Nunca pensei que iria morrer. A minha maior preocupação era mesmo estar a "perder" todas as coisas boas da vida, incluindo a escola que eu tanto adorava.
  • Instituto Oncoguia - Você já começou o tratamento? Em que parte do tratamento você se encontra nesse momento? Se já finalizou, conte-nos um pouco sobre como foi enfrentar todos os tratamentos? Marine - Eu já estou em remissão há mais de dez anos. Fiz quimioterapia e radioterapia durante um ano e despachei o assunto. Fiquei curada e nunca tive recaídas nem problemas. Depois do cancro, fiz uma vida completamente normal. Fui para a universidade, trabalhei sempre e estive sempre saudável. Disse "adeus" ao cancro até que, em 2013, decidi criar o projeto Cancro com Humor para ajudar doentes e sobreviventes. Acabei também por me apaixonar por um doente com câncer que depois de uma luta onde nunca enfraqueceu, acabou por falecer. E, mesmo assim, não desisti do meu projeto e de usar o humor também para falar da dor da perda. Queria mostrar que se eu me safei, qualquer um se safaria também...
  • Instituto Oncoguia - Em sua opinião, qual é o tratamento mais difícil? Por quê? Marine - Na minha opinião, os tratamentos não são o mais difícil. O mais difícil disto tudo é saber lidar com as pessoas que podem magoar mais que o cancro. As pessoas não sabem o que dizer a um doente, não sabem como lidar, como falar, como olhar. Essa é a maior dificuldade. Defendermo-nos dos outros.
  • Instituto Oncoguia - Você sentiu algum efeito colateral diante ao tratamento? Como lidou com isso? O que te ajudou? Marine - Acabei por inchar muito e o meu corpo mudou. De atlético passou a flácido. Lidei com humor, como lido com tudo, como lidei com o câncer. Se me rir disto tudo? É mais fácil lidar com os meus medos e minhas fragilidades.
  • Instituto Oncoguia - Como foi/é a sua relação com seu médico oncologista? Marine - A minha médica era brasileira e eu adorava-a. Tinha aquela alegria típica do povo brasileiro, era engraçada e desenrascada e eu confiava plenamente nela. Ela explicava-me tudo e fazia desenhos para ilustrar o que dizia. Tratava-me com enorme respeito e consideração, mesmo sendo eu ainda criança. Adorei isso.
  • Instituto Oncoguia - Você se relacionou com outros profissionais? Se sim, quais e por quê? Marine - Sim, claro. Só não me relacionei com o gato do meu enfermeiro porque não tinha idade para isso... Lidei sempre com profissionais de saúde e ainda lido, porque nunca tive alta!Além disso, as minhas palestras são também apresentadas a estudantes de medicina, médicos e enfermeiros por isso, nunca me livro deles!
  • Instituto Oncoguia - Você fez ou faz acompanhamento psicológico? Se sim, conte-nos um pouco sobre a importância desse profissional nessa fase da sua vida. Marine - Como já devem desconfiar, claro que tive uma psicóloga. Os meus pais decidiram pagar a quem me ouvisse e fizeram muito bem. Só depois de já estar bem é que, de facto, comecei a perceber o que estava a sentir. Durante os tratamentos, quase não tinha tempo para pensar nem sentir, o foco estava só na cura! Quando o pior passou, todas essas sensações vieram ao de cima e eu precisei que alguém me explicasse, porque só estava a chorar, um ano depois. Foi maravilhoso conversar com a minha psicóloga e não ter de ser forte. Estar sem defesas é sensacional, desabafar, chorar, sem medo que o outro se magoe? É libertador. Às vezes, tenho saudades dela.
  • Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje? Marine - Sempre fui muito feliz. Antes, durante e depois do cancro. Continuo a desenvolver o meu projeto e todas as ideias criativas que me passam pela cabeça, continuo a sonhar levar a minha palestra ao mundo inteiro e, sobretudo, levá-la novamente ao Brasil. Apresentei-a na Universidade de Unicesumar, em Maringá para auditórios de 500 alunos e foi um estrondo. Fui tão bem recebida que quero voltar. Continuo a amar, a inspirar, a fazer rir. Depois da morte do meu namorado em 2015, consegui perceber que sou capaz de ter paz e ser feliz em qualquer situação. Vivo me superando. Hoje em dia, escrevo, palestro e crio!
  • Instituto Oncoguia - Você continua trabalhando ou parou por causa do câncer? Marine - Era uma criança, por isso, andava na escola.
  • Instituto Oncoguia - Você buscou seus direitos? Se sim, quais? Marine - Sim. Na escola, por exemplo, tive algumas regalias como apoio extra, e tive sempre acesso a transportes para os tratamentos, neste caso, ia de ambulância. Além disso, a minha mãe, ficou instalada gratuitamente numa casa de apoio, por vivermos longe do hospital, para poder estar comigo todos os dias.
  • Instituto Oncoguia - Quais são seus projetos para o futuro? Marine - Publicar o meu livro no Brasil. Apresentar a palestra pelo Mundo. Escrever músicas, levar o humor aos doentes. E reformar-me cedo - porque se encontrou a cura para o câncer.
  • Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje? Marine - Sei que você, que está doente, já leu sobre tudo e mais alguma coisa, já ouviu mil opiniões e milhões de relatos. Por isso, o que eu gostaria mesmo de lhe dizer é que independentemente de tudo, por mais duro e difícil que seja esta fase ou outra fase da vida, você decide se tem e está em paz, ou não. A paz, essa paz que tem dentro de si, só pode ser decidida por si. Podemos ter tudo, dinheiro, saúde, família e não estar em paz, ou podemos ter cancro e estarmos em paz, em sintonia com o mundo, em tranquilidade. Não se esqueça que buscar esse estado só depende de si.
  • Instituto Oncoguia - Como você conheceu o Oncoguia? Marine - Conheci no Facebook. Alguém gostou e eu gostei também :)
  • Instituto Oncoguia - Você tem alguma sugestão a nos dar? Marine - Tenho sim. Levem a minha palestra aí - garanto-vos que é única.
  • Instituto Oncoguia - O que você acha que deveria ser feito para melhorar a situação do câncer no Brasil? Deixe um recado para os políticos brasileiros! Marine - A realidade de Portugal é muito diferente da realidade do Brasil. Quando aí estive, percebi que existem muitas pessoas que ainda não têm acessos básicos e primários. É inconcebível que, no Brasil, caso não se tenha dinheiro, não se é tratado com dignidade. Para melhorar a política, que é quem influencia diretamente a saúde, tem que se investir na educação. São as pessoas que escolhem os políticos e se não forem instruídos, não poderão escolher bem. Com uma reestruturação na educação, acredito que muito poderá melhorar.
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