[Câncer de Mama Avançado] Maria Paula Bandeira

Aprendendo com Você
Maria Paula Bandeira
  • Instituto Oncoguia - Quem é você? (idade, profissão, tem filhos, casada, cidade e estado?) Maria - Me chamo Maria Paula, tenho 30 anos, sou advogada, mãe de Bill (o shitzu mais lindo desse mundo), casada com Rodrigo e moro em Recife, PE.
  • Instituto Oncoguia - Como foi que você descobriu que estava com câncer? Maria - O primeiro diagnóstico foi em maio de 2011; eu tinha 24 anos e 6 meses de casada. Sempre fiz exames regularmente. Eu havia feito uma ultrassonografia mamária em agosto de 2010, pouco antes de casar, de modo que meus próximos exames só estavam previstos para agosto de 2011. Mas quis Deus que, minha irmã, fisioterapeuta, resolvesse, no fim de abril de 2011, me usar de cobaia após um curso de RPG. Durante uma manobra, senti dor e ela estranhou, acabou apalpando um carocinho e ficou preocupada. No outro dia fiz uma ultrassonografia e lá estava o nódulo, tinha o tamanho de um grão de feijão, com um aspecto estranho. A partir daí procurei um mastologista, fiz exames de biópsia e recebi um papelzinho que dizia "carcinoma ductal invasivo".
  • Instituto Oncoguia - Você apresentou sinais e sintomas do câncer? Quais? Maria - Nunca apresentei qualquer sinal ou sintoma. Sempre fiz exames regularmente e fazia o autoexame, mas nunca senti nada!
  • Instituto Oncoguia - Quais dificuldades você enfrentou para fechar o seu diagnóstico? Maria - Graças a Deus não tive dificuldades para fechar o diagnóstico, todos os médicos foram atenciosos e me tratavam como prioridade, apesar de não ter histórico na família, já que era bastante nova.
  • Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico? O que sentiu? No que pensou? Maria - Eu fiquei sem chão. Foi como receber um atestado de óbito em que só faltava preencher a data. Só pensava que, aos 24 anos, me veria sem seios e careca, pensava no sofrimento do meu marido e da minha família. Mas eu sou extremamente racional, eu não me permiti sofrer muito, porque eu queria agir depressa.
  • Instituto Oncoguia - Qual foi a sua maior preocupação neste momento? Maria - Eu me preocupei em ser rápida, em procurar o melhor tratamento e em me sentir segura.
  • Instituto Oncoguia - Você já começou o tratamento? Em que parte do tratamento você se encontra nesse momento? Se já finalizou, conte-nos um pouco sobre como foi enfrentar todos os tratamentos? Maria - Iniciei tratamento em maio 2011, com uma cirurgia conservadora da mama (quadrantectomia) e pesquisa de linfonodo sentinela (linfonodectomia). Em junho do mesmo ano iniciei a quimioterapia - foram 4 sessões de quimio vermelha (adriblastina e genuxal) e 4 brancas (taxotere + trastuzumab). Até agosto de 2012 permaneci com o trastuzumab. Fiz também hormonoterapia com Tamoxifeno. Infelizmente, após quase 5 anos do primeiro diagnóstico, em janeiro de 2016, descobri que tenho câncer de mama metastático. As metástases eram no ovário, fígado, pleura, linfonodos mediastinais e ósseas (ilíaco esquerdo e esterno). E recomecei o tratamento. Fiz cirurgia e estou em tratamento quimioterápico, aguardando a remissão para iniciar o controle com terapia alvo (trastuzumab e perjeta). Agora falta pouquinho, a maioria das lesões já sumiram, graças a Deus!
  • Instituto Oncoguia - Em sua opinião, qual é o tratamento mais difícil? Por quê? Maria - O tratamento da metástase tem sido mais difícil por que não vislumbramos mais a cura, mas o controle da doença. Então é penoso saber que viverei eternamente em tratamento, fazendo exames que consomem toda a ansiedade do mundo para avaliar a resposta e ver se está tudo bem. De toda forma, pretendo sempre transformar qualquer dificuldade em impulso para seguir em frente. Tenho muitas coisas a concretizar, então não está nos meus planos me entregar!
  • Instituto Oncoguia - Você sentiu algum efeito colateral diante ao tratamento? Como lidou com isso? O que te ajudou? Maria - Sim. A quimioterapia é bem chatinha, perdi os cabelos (nos dois tratamentos), senti uma fadiga imensa, enjoo, que amenizam com o consumo de muito líquido e alimentos gelados, além da acupuntura. Fazer pilates também tem me ajudado bastante para não ficar ociosa e movimentar o corpo dentro dos meus limites, já que, devido à metástase óssea, não posso fazer exercícios de impacto. Certamente o pior é a perda dos cabelos, pois os outros efeitos passam alguns dias depois da aplicação da quimio, mas o espelho me lembra todos os dias que estou doente, o que não me abate na maior parte do tempo, ao contrário, me estimula a querer ficar bem e superar tudo.
  • Instituto Oncoguia - Como foi/é a sua relação com seu médico oncologista? Maria - Tenho uma ótima relação com meu oncologista! Ele é muito acessível, humano, objetivo e me conhece bem, me sinto tratada com prioridade, como se meu problema fosse dele. Foi uma escolha muito acertada!
  • Instituto Oncoguia - Você se relacionou com outros profissionais? Se sim, quais e por quê? Maria - Sim. Sou acompanhada por uma nutricionista, faço terapia com uma psicóloga, além de acupuntura e pilates com uma fisioterapeuta. Quando descobri a metástase quis fazer tudo o que tivesse ao meu alcance para ter a melhor qualidade de vida possível, então procurei todos os profissionais que podiam me ajudar nisso.
  • Instituto Oncoguia - Você fez ou faz acompanhamento psicológico? Se sim, conte-nos um pouco sobre a importância desse profissional nessa fase da sua vida. Maria - Sim! A terapia tem sido imprescindível para manter meu equilíbrio emocional em meio à montanha russa de emoções que cerca o tratamento, além de me ajudar a enxergar que comportamentos podem me auxiliar a ter a melhor vida possível, principalmente a não viver a doença, mas encará-la apenas como um dos aspectos, dentre tantos outros, que me compõe.
  • Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje? Maria - Ainda estou fazendo quimioterapia, aguardando a máxima resposta para iniciar o controle com terapia alvo, mas procuro levar a vida mais normal possível. Sempre falo que após o diagnóstico me vi diante de uma única opção: fazer o tratamento e aproveitar os intervalos. Então, quando estou bem, procuro sair, encontrar os amigos, trabalhar, viajar. Sempre com cautela, claro, mas, acredito que ninguém tem tempo a perder! Assim, nada de lamentar, dentro das minhas limitações, vivo ao máximo!!
    Desde maio tenho me dedicado também a um projeto pessoal, o "Lenço do Dia", disponível no Instagram e no Facebook, onde compartilho a minha rotina, pensamentos, angústias e alegrias, e, principalmente, mostro concretamente que o câncer não é o fim, dá pra ter uma vida incrível apesar da doença!
  • Instituto Oncoguia - Você continua trabalhando ou parou por causa do câncer? Maria - Sim. Fui bastante compreendida em meu trabalho e conseguimos adaptá-lo para que eu pudesse trabalhar de casa, já que a imunidade cai bastante e não podemos vacilar, o que foi um plus para meu tratamento, pois ocupo a cabeça e me sinto muito bem fazendo o que amo.
  • Instituto Oncoguia - Você buscou seus direitos? Se sim, quais? Maria - Sim. Saquei o saldo do FGTS tanto no primeiro diagnóstico como no segundo, não tive qualquer dificuldade. Meu próximo direito a ser exercido é a compra do carro com isenções fiscais.
  • Instituto Oncoguia - Quais são seus projetos para o futuro? Maria - Eu procuro não pensar muito no futuro. Acredito que o momento presente é maior milagre que temos à nossa disposição, então não faço planos a longo prazo, embora acredite e confie que viverei mais uns bons 60 anos pelo menos! Quero viajar muito, conhecer muitos lugares, pessoas que façam a diferença, ter filhos... Quero o que todo mundo quer: uma vida bem vivida!!!
  • Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje? Maria - Viva um dia de cada vez, não antecipe preocupações. O caminho a ser seguido não nos dá muitas opções, então, precisamos fazer a nossa parte para tornar o tratamento o mais leve possível. Manter a cabeça boa e sentir seguro é fundamental, então, se possível, procure um médico que te dê esse suporte. Não é fácil, mas todo mundo traz dentro de si uma força capaz de superar tudo! Viver bem é uma escolha e todas as adversidades devem ser para nos fazer crescer! A partir do diagnóstico passamos a conviver com o medo, mas ele não pode nos paralisar, ao contrário, tem que ser nosso aliado! A gente pensa muito no que pode perder: o casamento dos filhos, o nascimento do sobrinho... Percebi que ter medo de perder o futuro não faz o menor sentido, temos que ter medo de perder o presente, temos que sentir a necessidade de viver! O risco todo mundo corre o tempo todo! Além disso, diria que não desse muito ouvidos às milhares de soluções alternativas "milagrosas", abandonando o tratamento; há muita pesquisa e o médico estudou muito pra nos ajudar e tratar! Tem muita coisa que podemos fazer para auxiliar o tratamento (cortar açúcar, fazer exercício físico, deixar as preocupações de lado), mas abandoná-lo por uma promessa milagrosa sem comprovação não é aconselhável.
  • Instituto Oncoguia - Como você conheceu o Oncoguia? Maria - Pesquisando na internet sobre meios de prevenir o câncer e sobre os direitos do paciente oncológico.
  • Instituto Oncoguia - Você tem alguma sugestão a nos dar? Maria - Continuem com esse trabalho maravilhoso!!! Sou fã do instituto!!
  • Instituto Oncoguia - O que você acha que deveria ser feito para melhorar a situação do câncer no Brasil? Deixe um recado para os políticos brasileiros! Maria - Me entristece o fato de que a maior parte das mulheres não terá acesso ao tratamento adequado e, pior, muitas vezes, terá o diagnóstico tardio, impedindo de alcançarem a cura, já que não farão os exames e nem passarão pelos médicos num intervalo de tempo tolerável. É um absurdo saber que muitas mulheres morrerão, não porque não exista o tratamento, mas simplesmente porque não terão ACESSO a ele já que o SUS não o disponibiliza. Então, políticos brasileiros, tenham um olhar especial para a saúde do nosso país, pensem em cada pessoa como um indivíduo único e não como um número ou um gasto. Com certeza os bilhões de reais embolsados com a corrupção fariam toda a diferença, se reverteriam em pesquisas, remédios e cuidado!
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