[Câncer de Mama] Dayse L. A. D. Bicalho

Aprendendo com Você
Dayse L. A. D. Bicalho
  • Instituto Oncoguia - Quem é você? (idade, profissão, tem filhos, casada, cidade e estado?) Dayse - Meu nome é Dayse Amaral, tenho um filho de 15 anos, há 12 anos sou separada do meu ex marido, mas ainda não divorciei nem me separei de direito, moro na cidade de São João Evangelista/MG. Tinha um cartório que era do meu avô, passou para meu pai e depois para mim. Uma pessoa concursada assumiu meu cartório em 2008. Tive uma série de problemas antes disto. Em 2005 perdi meu pai, que era meu amigo, confidente e que eu amava muito, mas como sou espiritualista, a morte em si não me abalou. Sinto falta da presença dele. Em 2006 me separei do meu esposo porque ele me traiu e quem trabalhava para manter a família era somente eu, em meu cartório. Quando tive certeza da traição o mandei embora e ele se foi para os USA e nunca mais voltou. Meu filho tinha então 3 anos de idade, ou seja, não conhece pessoalmente o pai. Sou pai e mãe com muita honra. Aí comecei a sair com garotos bem mais novos que eu, foram dois, mas eles estavam apenas passando tempo com uma "coroa", no caso eu. Em 2008 perdi meu cartório, desfiz minha casa, vendi quase tudo e vim morar com minha mãe com quem não me dou muito bem, viemos eu e meu filho. Agora vivemos dependentes dela que recebe pensão do TJMG deixada por meu pai. Da família só temos eu, minha mãe e meu filho no Brasil. As duas irmãs, sobrinho, cunhados, vivem nos USA há mais de 29 anos. Minha mãe tem depressão severa, é hipocondríaca e eu tenho, na maioria das vezes, de "roubar" dinheiro dela para pagar farmácia, conta da minha linha de telefone fixo e alguns produtos do supermercado que ela não permite que eu e meu filho peguemos em sua conta no supermercado, como iogurtes, sucos, biscoitinhos que ele gosta, enfim, tenho que pegar dinheiro dela. Meu ex manda uma pensão de R$ 700,00 desde 2004. E mesmo assim porque tem medo que eu abra um processo se ele não mandar e quando ele vier aqui no Brasil ter algum mandado de prisão expedido contra ele, pois aconteceu isto com seu tio. Vivo numa cidadezinha de 9.000 habitantes. Não existe nada para se fazer. Eu fico semanas dentro de casa e como minha casa é recuada da rua, toda murada, com interfone, quase não vejo a rua e fico confinada aqui, na maioria das vezes no computador. Há muitos anos não tenho namorado, nem dou um beijo na boca sequer. Sinto falta de um companheiro para sair, viajar e viver mais a vida, porque eu sempre fui de viajar desde meus 13 anos, porque meus pais davam às 3 filhas liberdade e as 3 trabalhavam nos cartórios da família, então desde cedo éramos independentes financeiramente. E hoje, que tenho várias doenças crônicas como diabetes, hipertensão, esteatose hepática (muita gordura no fígado), nasci com o rim direito atrofiado e ele por fim deu trombose, sem nenhum sintoma para mim e só fiquei sabendo em 12/2014, quando fui a Belo Horizonte fazer exames de rotina, como ir a ginecologista. Foi aí que ela pediu vários exames de sangue, mamografia e ultrassom digital. Na mamografia aparecia somente uma sombra que ela não conseguia ver o que era, mas desci na mesma clínica para fazer o ultrassom com um médico que sempre fiz e ele viu logo de cara que a coisa não tava legal. Aí eu perguntei, porque gosto de perguntar e saber na hora. Não levo ninguém comigo para exames, porque gosto de saber primeiro. Mas ele disse que tudo estava muito no início, eu seria curada. No dia seguinte tirei material para biópsia, o resultado saiu dia 08 de janeiro e era câncer do tipo I, com algumas atenuantes e eu vim para a internet pesquisar cada palavra. Liguei para minha prima que tinha tido câncer e teve que tirar a mama, e ela me pediu 15 minutos para me ligar aqui. E quando ela ligou, já estava tudo resolvido, dos exames pré, até a radioterapia, e ela assumiria todos os gastos e assim foi. A radio fiz pelo SUS. Não fiz a quimio devido ao fato de eu e meu oncologista sabermos das condições do meu fígado e levando em conta que eu tinha um rim somente, achamos que o risco seria maior que o benefício. Hoje peço a Deus que minha decisão tenha sido certa. Tomo Tamoxifeno e vou tomar por 10 anos. Vou ao mastologista e ao oncologista de 4 em 4 meses. E minha vida segue assim e eu não duvido que esse câncer apareceu por dois motivos: por tudo que passei em tão pouco tempo e por negligência da minha então ginecologista. Eu pedia a ela para pedir uma mamografia e ultrassom, mas ela dizia que não precisava. A última que eu tinha feito foi em 2010. Mostrei a ela uma saliência entre os dois seios, mas a saliência era no seio direito. Depois a saliência inverteu, afundou um pouco o local e saía uma secreção amarronzada e transparente, mas como era nos 2 seios ela disse que não era nada. Foi então que resolvi ir à minha 2ª ginecologista que é ótima, mas cobra muito caro, mas agora sei que vale a pena. Em 2007 e 2008 tomei muito hormônio tentando entrar na menopausa devido a uma endometriose severa. Não deu certo e em 2009 tirei útero e todos os órgãos reprodutores, inclusive o colo do útero. Tive este trauma também para somar aos meu anos de desespero total.
  • Instituto Oncoguia - Como foi que você descobriu que estava com câncer? Dayse - Foi mesmo através do exame de ultrassom, porque na mamografia o nódulo não apareceu por ser muito perto da costela e quase na dobra da mama. Só no ultrassom que fiz logo depois é que o nódulo apareceu e o médico já o reconheceu como maligno.
  • Instituto Oncoguia - Você apresentou sinais e sintomas do câncer? Quais? Dayse - Eu apresentei uma alto relevo entre os dois seios, na mama direita, depois esses auto relevo se inverteu e virou uma curva em volta do seio e estava tendo secreção amarronzada e transparente, mas isso nas duas mamas. Não sentia dor ou desconforto. Nem conseguia sentir o nódulo em exame que eu fazia toda semana na hora do banho.
  • Instituto Oncoguia - Quais dificuldades você enfrentou para fechar o seu diagnóstico? Dayse - Nenhuma. Na mesma hora que fiz o ultrassom o médico viu que era maligno e que estava apenas no começo. E eu perguntei e ele falou tudo, que tudo ficaria bem porque era só o início. Daí esperei o resultado da biópsia para confirmar e ver as proporções deste câncer e que graças a Deus todos os detalhes do exame estavam a meu favor. Operei de manhã e saí a tarde do hospital, depois de fazer agulhamentos, amarração e vários outros exames. Fiz tudo de mais moderno que existe. E tenho fé em Deus que estou curada e vou seguir à risca as consultas de 4 em 4 meses com oncologista e mastologista.
  • Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico? O que sentiu? No que pensou? Dayse - Quando ele estava fazendo o ultrassom e disse que era um câncer inicial, senti aquele frio na coluna. Pensei em meu filho, minha mãe idosa e comecei a rezar. Quando cheguei no hotel em BH e entrei no quarto, vi meu filho entrando no banheiro e não me contive. Chorei desesperadamente e ele saiu e eu não o deixei ver meu choro, comecei a conversar naturalmente e nunca mais derramei uma lágrima durante todo o processo. Ele sabia que era câncer, que era grave como doença, mas que ia dar tudo certo, porque ele foi tão desejado por mim e eu o tive contra tudo e todos, porque engravidei do pai dele aos 39 anos de idade, tinha endometriose, miomas no útero e quando eu estava fazendo ele não disse nada ao meu ex, eu pedi a Deus que se fosse para ele ser saudável e para o bem meu e dele, que me desse esse filho. Eu o tive na Otaviano Neves em abril de 2000 e sem nenhum problema, graças a Deus.
  • Instituto Oncoguia - Qual foi a sua maior preocupação neste momento? Dayse - Minha maior preocupação foi com meu filho. Como ficaria com a minha mãe idosa se eu morresse? Eles teriam que ir para os USA viver lá e lá ele encontraria o pai, que tem uma conduta não muito recomendável, tinha fama de homossexual aqui na região onde eu moro e lá nos USA também. Também creio que ele faz programas, porque é muito ganancioso, faz qualquer coisa por dinheiro e infelizmente não é do meu nível social, econômico, cultural. Era mais novo que eu, enfim, era uma coisa que não daria certo mesmo...
  • Instituto Oncoguia - Você já começou o tratamento? Em que parte do tratamento você se encontra nesse momento? Se já finalizou, conte-nos um pouco sobre como foi enfrentar todos os tratamentos? Dayse - Eu operei dia 29/01/2015. Fiz a radioterapia, 35 sessões, tomo o tamoxifeno, agora com endocrinologista estou em dieta para diabetes porque eu usava o medicamento, mas comia muito doce. Já perdi 2 dos 6 quilos que quero perder. Além disso vou a um nutrólogo em breve, porque quero uma opinião dele em relação a dieta para diabéticos.
  • Instituto Oncoguia - Em sua opinião, qual é o tratamento mais difícil? Por quê? Dayse - Graças a Deus o que seria difícil era o fato de eu ter perdido meu plano de saúde com a perda do cartório. Minha mãe não teria condições de pagar tudo que minha prima pagou para mim. O resto, graças a Deus, foi tudo bem. Eu tive um início de depressão no início de dezembro 2014. Fui a um psiquiatra e pedi um medicamento. Eu já tomo antidepressivo e ansiolítico devido a síndrome do pânico que tive aos 10 anos de idade, mas como a identificação do transtorno foi descoberto bem mais tarde, fiquei com agorafobia da qual só me livrei aos 33 anos de idade usando medicamentos. Então, o psiquiatra me passou um antidepressivo que levantou  muito meu astral porque eu não sei se receberia o diagnóstico com a mesma tranquilidade que recebi se ainda não estivesse usando este outro antidepressivo que foi adicionado aos que já tomava. Não tive queimaduras na radioterapia, Deus foi muito generoso comigo.
  • Instituto Oncoguia - Você sentiu algum efeito colateral diante ao tratamento? Como lidou com isso? O que te ajudou? Dayse - Não tive nenhum efeito colateral com relação ao tratamento. Só o tamoxifeno, a primeira vez que usei vomitei muito, mas eu insisti e às vezes tenho náusea de manhã, mas passa. Eu uso mais de 7 medicamentos só na parte da manhã. Isto também posou na hora de decidir sobre a quimioterapia!
  • Instituto Oncoguia - Como foi/é a sua relação com seu médico oncologista? Dayse - Minha relação com ele é ótima. Já fiz tomografia do tórax para ele ver costela e pulmão, está tudo bem. Já vou em Fevereiro para minha primeira mamografia e ultrassonografia depois da cirurgia (seis meses depois).
  • Instituto Oncoguia - Você se relacionou com outros profissionais? Se sim, quais e por quê? Dayse - Tive apenas contatos com todos do hospital onde fiz todos os exames e operei. Inclusive a 1ª vez que fui ao oncologista, eu não sabia que uma psicóloga ficava me esperando para eu desabafar, falar sobre tudo... Então ela saiu correndo atrás de mim e me perguntou se eu não precisa dela e também como a vida inteira fiz psicoterapia por causa do pânico, eu sabia que não precisava dela naquele momento. E disse a ela, ela falou que isto é caso raro.
  • Instituto Oncoguia - Você fez ou faz acompanhamento psicológico? Se sim, conte-nos um pouco sobre a importância desse profissional nessa fase da sua vida. Dayse - Não fiz tratamento psicológico, me ofereceram também no hospital onde fiz a radioterapia, mas eu dispensei, deixando a vaga para alguém mais necessitado.
  • Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje? Dayse - Com relação ao câncer está bem, nem penso nisto. Tenho fé em Deus e sei que se ele me deu o filho que eu queria, vai esperar pelo menos ele ficar adulto para me levar deste mundo. Tenho um relacionamento tranquilo com a morte. Por ser espiritualista, li todos os livros de Kardec e segui o Kardecismo, mas hoje só leio coisas ligadas ao espírito.
  • Instituto Oncoguia - Você continua trabalhando ou parou por causa do câncer? Dayse - Como já citei, perdi meu cartório bem antes de ter o câncer e não trabalhei porque não conseguiria ficar em um trabalho para ganhar um salário mínimo. Aqui dentro de casa eu sou mais útil. A cidade não oferece nenhuma condição de trabalho.
  • Instituto Oncoguia - Você buscou seus direitos? Se sim, quais? Dayse - Ainda estou vendo todos os meus direito e um em especial não sei se tenho, mas vou entrar na justiça requerendo se minha mãe morrer primeiro que eu, pois quero ficar com a pensão que meu pai deixou para ela e com todos os benefícios que ela recebe devidos a outras doenças que tenho e o câncer veio reforçar isto.
  • Instituto Oncoguia - Quais são seus projetos para o futuro? Dayse - Quero ter alguém e se conseguir a aposentadoria e minha mãe partir primeiro que eu, pretendo viver em Trancoso na Bahia. Amo aquele lugar, passei lá minha adolescência e juventude. Amo o mar. Ou então viver em BH, onde tenho meus médicos, amigos, primos.
  • Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje? Dayse - Que tenha calma, primeiro deixe seu médico dizer o tamanho do estrago, as opções de tratamento e sinceramente, diria que se o tratamento fosse pelo SUS para a pessoa lutar, brigar e denunciar se algum hospital negar qualquer tipo de direito que um paciente com câncer tem. E diria que Deus existe, entregue tudo na mão dele e Maria Santíssima. E que hoje o câncer não é mais sentença de morte.
  • Instituto Oncoguia - Como você conheceu o Oncoguia? Dayse - Vi no Facebook!
  • Instituto Oncoguia - Você tem alguma sugestão a nos dar? Dayse - Não olhei ainda em detalhes, mas vou olhar bem, ver se está tudo esclarecido e achei ótima a ideia deste depoimento de pessoas que já passaram por um câncer, ajuda muita gente.
  • Instituto Oncoguia - O que você acha que deveria ser feito para melhorar a situação do câncer no Brasil? Deixe um recado para os políticos brasileiros! Dayse - Que todo tratamento de câncer fosse realmente levado a sério pelos SUS, porque ontem mesmo passou uma reportagem sobre a diferença entre tratamento de câncer no SUS e em hospitais particulares. Não deveria haver esta diferença, porque todos somos iguais perante Deus e as pessoas deveriam ser mais humanas para assumirem um trabalho em um hospital. E que os senhores ladrões que estão na política, desviem as verbas que vão para as contas deles, para a saúde do brasileiro e que se lembrem que a grande maioria da população, como eu, somos pobre no sentido exato da palavra. Hoje eu não tenho nada, nem casa, nem carro, apenas coisas pessoais. Sou pobre e se tivesse que fazer um tratamento de câncer pelo SUS eu viraria uma leoa para defender meus direitos.
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