Instituto Oncoguia - Você poderia se apresentar?
Roseane Viana - Meu nome é Roseane Viana, tenho 43 anos, moro em Heidelberg, Alemanha. Eu gosto de estudar, trabalhar, ir ao cinema, viajar, conhecer novos lugares, pessoas e comidas. Gosto de experimentar novidades e comidas. Gosto de fazer fotos de comida também.
Instituto Oncoguia - Qual seu tipo de câncer ?
Roseane Viana - Tenho câncer de ovário.
Instituto Oncoguia - Como foi que você descobriu que estava com câncer?
Roseane Viana - Fui em uma consulta de rotina na ginecologista. Eu costumava ir 2 vezes ao ano para controle da displasia mamária que tenho.
Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico?
Roseane Viana - A ginecologista, falou que tinha algo errado, fez a ultra som vaginal, coletou sangue e me encaminhou para o Centro da Universidade que trata doenças de mulheres.
Lá repeti os exames, fiz outros, e os médicos não sabiam o que eu tinha ao certo. Marcaram a cirurgia. Eu estava bem confiante, pois não tinha dor, sangramento, nada...e como eu ia a cada 6 meses na ginecologista, não acreditava que eu tinha algo ruim.
5 minutos antes de entrar na sala de cirurgia, senti medo.
A cirurgia foi longa. O câncer havia se espalhado.
Só lembro que estava acordando da anestesia, e a médica plantonista estava dizendo o resultado da cirurgia para meu marido. A ficha demorou para cair.
Na manhã seguinte eu acordei chorando, sem acreditar muito. Era um sábado.
Também fizeram uma colostomia.
O médico chefe da clínica que tinha feito a cirurgia havia viajado e só na segunda-feira o segundo cirurgião veio nos comunicar o procedimento feito e o próximos passos e encaminhamentos.
Foi duro...tinha muito insônia, pesadelos. Fiquei 15 dias internada. Tive apoio psicológio e da enfermagem.
Mas quando tive alta, já tinha decidido lutar pela vida.
Instituto Oncoguia - Qual foi a sua maior preocupação neste momento?
Roseane Viana - Neste momento minha preocupação é ter a químio funcionando. O tumor tornou-se resistente. Desde janeiro, estou no 5º tipo de quimoterapia.
Instituto Oncoguia - O que aconteceu depois disso?
Roseane Viana - Depois do diagnóstico, fiz 3 sessões de químio, mais uma cirurgia, depois mais 3 sessões.
Após as 6 sessões de químio, o segundo cirurgião me aconselhou a iniciar o tratamento com avastin. Fiz por 22 meses, setembro/2012 até janeiro/2013.
Instituto Oncoguia - Você já começou o tratamento?
Roseane Viana - Sim, desde 2012.
Instituto Oncoguia - Em sua opinião, qual é o tratamento mais difícil?
Roseane Viana - Eu sempre encarei a quimioterapia como um medicamento, um remédio que tinha que tomar, por isso não achei tão dificil.
A cirurgia foi mais dificil, especialmente a segunda.
Instituto Oncoguia - Você teve efeitos colaterais?
Roseane Viana - Sim tive. Peguei infecção, fui internada. Tinha muito cansaço e falta de ânimo por dias. Tive anemia e sofri de fadiga. Engordei um pouco. Mas cuido muito bem da alimentação.
Instituto Oncoguia - Como foi a relação com o seu médico?
Roseane Viana - Como fui tratada de 2012 até janeiro de 2014 no Centro de Pesquisa de Câncer da Universidade de Heidelberg, eu não tinha uma relação constante com os médicos devida a rotatividade. Acho isso ruim, mas estava no melhor lugar de pesquisa e tratamento de câncer da Alemanha, então precisava confiar.
Em janeiro mudei. Fiquei chateada com essa falta de elo paciente-médico. Me sentia mais um número de pesquisa.
Minha médica de família me recomendou uma pequena clínica aqui mesmo em Heidelberg, com o mesmo nível de conhecimento e troca de experiência com a Universidade.
Foi uma decisão excelente. Lá tenho uma enfermeira e um médico que me acompanham. A relação é muito melhor, e existe empatia. Confio demais na equipe.
Instituto Oncoguia - Com que outro profissional você se relacionou?
Roseane Viana - Psicóloga.
Instituto Oncoguia - Você fez acompanhamento psicológico?
Roseane Viana - Sim.
Instituto Oncoguia - E com nutricionista?
Roseane Viana - Não, pois sou nutricionista.
Instituto Oncoguia - Você está em tratamento ou já finalizou?
Roseane Viana - Ainda estou em tratamento.
Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje?
Roseane Viana - Tento levar minha vida normal. Continuo fazendo meu doutorado. Estou na última fase, escrevendo a tese. Faço de forma mais lenta de acordo como estou me sentindo no dia. Quando é possível eu viajo. Me divirto. E o médico me incentiva muito.
Instituto Oncoguia - Conte-nos sobre seu trabalho e planos para o futuro.
Roseane Viana - Meu plano a médio prazo é finalizar o doutorado e melhorar a saúde para poder passar o natal no Brasil com minha família.
Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje?
Roseane Viana - É dificil falar, cada pessoa tem uma reação diferente. Mas penso que dá para se desesperar no primeiro momento, chorar, gritar... mas depois ir a luta, acreditar, ter fé que vai dar certo. Viver o momento presente.
Instituto Oncoguia - Qual a importância da informação durante o tratamento de um câncer?
Roseane Viana - Nos ajuda a reagir, a saber o que fazer quando acontece alguma problema relacionado ao tratamento. Ajuda a tirar dúvidas com o médico e outras profissionais. Nos dá coragem. É muito importante ter informação.
Instituto Oncoguia - Você buscou se informar?
Roseane Viana - Quando tive alta, fui pesquisar na internet sobre câncer de ovário e fiquei muito assustada. Acho que passei mais de 6 meses sem procurar informações sobre o assunto. Mas pesquisei sobre os efeitos da quimioterapia, e o que fazer.
Quando inicei a quimioterapia em 2012, eu recebi um folheto com muitas informações sobre os efeitos da quimo e o que fazer. Achei muito prático. Fiz tudo direitinho.
Instituto Oncoguia - Como você conheceu o Oncoguia?
Roseane Viana - Pelo Facebook.
Instituto Oncoguia - Você tem alguma sugestão a nos dar?
Roseane Viana - Por enquanto não. Acho o site muito informativo e a página no Facebook é ótima também. Gosto da linguagem e formato.
Instituto Oncoguia - Você sabia que possuímos um trabalho focado na melhoria da situação do Câncer no Brasil? Estamos sempre em contato com políticos e gestores que podem ajudar a melhorar as políticas públicas brasileiras relacionadas ao câncer. Se você fosse mandar um recado para um político, o que você gostaria que mudasse ou melhorasse considerando tudo o que você passou?
Roseane Viana - Eu gostaria que o exame de ultrassom vaginal fosse gratuito, rápido e acessível. O tratamento quimioterápico também. E que todas as pessoas pudessem contar com uma equipe multiprofissional, integrada e humanizada, do norte ao sul do pais.