[] [CÂNCER DE OVÁRIO] Mônica Oliveira

Aprendendo com Você
  • Instituto Oncoguia - Você poderia se apresentar? 

    Mônica Oliveira - Olá pessoal, meu nome é Mônica Oliveira da Cruz, tenho 22 anos e moro no Distrito Federal. Gosto muito de ouvir música pois nos momentos de tensão isso me relaxa e faz bem. Também adoro estar numa roda de amigos é lá onde mais me distraio e divirto.

    Instituto Oncoguia - Qual seu tipo de câncer?

    Mônica Oliveira - Aos 20 anos fui diagnosticada com câncer de ovário de origem germinativa, ou seja, não era um tumor formado pelo epitélio ovariano (casos mais comuns), mas sim nas células germinativas que dão origem  aos ovócitos.

    Instituto Oncoguia - Como foi que você descobriu que estava com câncer?

    Mônica Oliveira - Tudo começou em 2012 quando cheguei de uma viagem. Primeiramente tive uma infecção urinária que tratei tranquilamente com antibiótico. Alguns dias depois comecei a sentir uma dor leve na perna (parte de traz da perna direita), num primeiro momento associei às quase 48h sentada de mau jeito no ônibus da viagem entre Brasília e Porto Alegre. Com passar dos dias a dor aumentava, depois de duas semanas com dor crescente resolvi procurar a emergência do hospital público da minha cidade, ali consegui apenas remediar o problema e aliviar a dor, mas ela insistia em voltar. Depois de algumas consultas em outros serviços de saúde e com auxílio de Ressonância Magnética e ultrassom transvaginal, foi possível visualizar duas lesões. Uma estava no meu ovário direito e media cerca de 15 cm e outra na região sacral da coluna com 4 cm aproximadamente, esta última era a maior responsável pela dor na minha perna. Eu não sentia nenhum sintoma relacionado ao ovário, não sentia dor abdominal, o intestino continuava regulado e ciclo menstrual normal, o que me levou ao diagnóstico foi a dor enlouquecedora na perna, que inicialmente incidia apenas na parte de traz da coxa, uma semana antes da minha operação ela já estava na ponta do dedo do pé eu já não andava havia semanas, emagreci e passava os dias chorando dor.

    Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico? 

    Mônica Oliveira - Passei por vários profissionais, clínicos gerais, ortopedistas, ginecologistas clínicos e cirurgiões até chegar na oncologia clínica. A notícia que eu tinha câncer não veio de repente, a cada novo resultado de exame, a cada olhar e comentário médico a ideia de uma doença grave se estabelecia na minha mente, até que um dia em minha consulta pré operatória minha médica chegou com uma boa e uma má notícia. A má noticia era que além das lesões encontradas na Ressonância, meus exames de sangue não estavam normais, o marcador tumoral alfafetoproteína estava altamente alterado, isso num primeiro momento foi um grande indicador de um câncer de ovário de origem germinativa. A "boa” notícia é que se fosse confirmado este tipo de neoplasia maligna, a resposta da quimioterapia e da radioterapia costumava ser muito boa nestes casos. Eu estava com minha mãe, irmã e namorado no consultório, eu sentia tanta dor que achei que estava delirando quando a médica falou "acreditamos que seja maligno”. Ela não deu certeza no momento, mas disse que as chances eram grandes. Dias depois operei, e após mais alguns dias chegou o resultado da biópsia. Eu estava internada quando minha médica chegou e disse: "É um tumor maligno, é câncer, estágio 4 da doença”. Foi confirmado o que eu já esperava, mesmo que no fundo ainda houvesse uma mínima esperança de que não fosse. A primeira coisa que veio a mente foi: Puts, terei que fazer quimioterapia! Eu tinha mais medo do tratamento do que do próprio câncer, por conta dos famosos efeitos colaterais.

    Instituto Oncoguia - Qual foi a sua maior preocupação neste momento?

    Mônica Oliveira - Eu estudava, cursava o quarto período do curso de Saúde Coletiva na Universidade de Brasília (hoje estou perto do fim !!! eehh). Teria que parar meus estudos, projetos de vida e demais atividades. Pensava muito na minha família, afinal a rotina deles também mudaria, fiquei muito dependente deles, pois fiquei muito tempo sem andar por conta da dor na perna. Minha mãe teve que praticamente parar de trabalhar. Minha irmã trabalhava e estudava e teve que parar os estudos para ajudar minha mãe. O namorado foi quem me levou e trouxe a praticamente todas as sessões de quimioterapia e consultas e ele também estudava e teve de parar. Ou seja, interferir na rotina das pessoas ao meu redor me preocupava. Como ficava muito tempo deitada por conta da dor na perna direita, quando precisava levantar, além de estar com a perna extremamente enfraquecida, eu ainda ficava tonta e com falta de ar devido ao fato de passar dias e noites deitada. Alguém sempre tinha que estar por perto, pra eu não cair ou desmaiar.

    Instituto Oncoguia - O que aconteceu depois disso?

    Mônica Oliveira - O tratamento começou. Foi incrível a minha melhora em cada etapa. Todos os médicos que passei diziam "Esse tipo de tumor costuma responder bem aos tratamentos” e era isso que acontecia. Retirei o ovário direito na cirurgia. A QT com seu efeito sistêmico veio pra combater qualquer resíduo de tumor que tivesse pelo corpo e principalmente a metástase que tinha na coluna, já a radio foi específica para o Sacro. A cada sessão de radio e quimio eu sentia a dor na perna diminuir. 

    Instituto Oncoguia - Você já começou o tratamento?

    Mônica Oliveira - Comecei o tratamento em Março de 2012 e em Agosto deste mesmo ano terminei. Primeiramente sofri uma cirurgia, depois dez sessões de radioterapia e por último 4 ciclos de quimioterapia.

    Instituto Oncoguia - Em sua opinião, qual é o tratamento mais difícil? 

    Mônica Oliveira - A quimioterapia. Cada ciclo durava sete dias, os cinco primeiros dias duravam cerca de quatro horas cada e os outros dois cerca de duas horas. Era muito tempo. Como comentei acima tinha muito medo desse tipo de tratamento, muito disso alimentado por boatos e pré-conceitos a respeito.

    Quimioterapia não é um tratamento agradável, fato, porem não é tão terrível quanto dizem, pelo menos pra mim não foi, esperava algo muito pior, esperava vomitar todos os dias, mas nunca vomitei.

    Hoje existem medicamentos que ajudam muito a atenuar os efeitos da quimio, além de alimentos como água de coco, água gaseificada (pode ser refrigerante mesmo) e outros que agora não lembro, que também ajudam no controle dos efeitos colaterais.

    Instituto Oncoguia - Você teve efeitos colaterais? 

    Mônica Oliveira - Sim. A raditoerapia no meu caso foi bem tranquila. Enquanto a quimioterapia foi bem mais penosa. Falta de apetite, náusea, o gosto ruim na boca de todo tipo de comida e bebida e o cheiro de tudo me incomodava, pobre de minha mãe, tinha que fazer mágica na cozinha para que eu pudesse comer. Além disso, como ainda sentia dores nas costas, tomava morfina que me causava uma severa prisão de ventre. Também tive queda total do meu cabelo. Mas o pior era o fato de não conseguir comer direito, eu tinha em mente que comer era fundamental para poder enfrentar o tratamento.

    Instituto Oncoguia - Como foi a relação com o seu médico?

    Mônica Oliveira - Foi muito boa! Fui acompanhada por uma equipe médica, composta por staff e residentes, pois fiz tratamento num hospital escola. Em 2012 no período do tratamento, um dos residentes me acompanhou mais de perto, a ele devo boa parte da minha gratidão, por todo o seu empenho no meu caso e por as suas palavras ditas a mim quando nos conhecemos: "Você terá a chance de viver em meses o que uma pessoa não viverá em anos ou em uma vida”. Graças a essas palavras otimistas consegui enfrentar bem melhor a situação e com leve senso de humor (risos). Todos eles e elas foram importantes na minha recuperação, cada um me tratava de forma única, uns mais sérios, outros mais atenciosos, outros mais cômicos. Eles são incríveis!

    Instituto Oncoguia - Com que outro profissional você se relacionou?

    Mônica Oliveira - Com técnicos de enfermagem, fisioterapeuta, enfermeiros, nutricionista e assistente social. Todos estes tiveram presença fundamental no meu tratamento. A abordagem de equipe multidisciplinar no tratamento do câncer é imprescindível, pois assim a proposta de um acompanhamento mais integral influencia positivamente no prognóstico do usuário.

    Instituto Oncoguia - Você fez acompanhamento psicológico?

    Mônica Oliveira - Não. A maiorias das pessoas que conheço acreditam que um acompanhamento psicológico é fundamental e ajuda bastante. Fui apenas uma vez à psicóloga do hospital e não gostei.

    Eu costumava dizer que meus psicólogos eram meus médicos, amigos e professores, pois as palavras deles que me confortavam.

    Instituto Oncoguia - E com nutricionista?

    Mônica Oliveira - Foi muito bom, sempre fui magra e alta, com o câncer perdi os kilos que já não tinha (risos). A nutricionista me deu várias dicas de alimentação que sigo até hoje, me ajudou a comer quando eu não queria, me ajudou a ganhar um pouco de peso quando mais precisava.

    Instituto Oncoguia - Você está em tratamento ou já finalizou?

    Mônica Oliveira - Finalizei o tratamento em Agosto de 2012. Atualmente faço acompanhamento com exames de imagem e sangue.

    Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje? 

    Mônica Oliveira - Ótima. Agradeço a vida por ter me dado a chance de viver e aprender na escola do câncer. Com acompanhamento da fisioterapia fui voltando a andar aos poucos, hoje em dia faço o exercício que quiser, basta treinar. Minha vida está muito melhor, sou mais feliz, gentil e empenhada em minhas atividades. Passei vários dias dentro do hospital, conheci pessoas e histórias. Vi e vivi situações que jamais esperei passar com apenas 20 anos de idade. Acredito ser uma pessoa melhor, mais madura, mas com leves crises de alguém com 22 anos (risos).

    Também acredito na mudança daqueles ao meu redor, creio que todos colheram algo de bom com essa história. Ter passado pelo câncer me ajudou muito mais do que atrapalhou, foi um momento único na minha vida, no qual colho frutos bons até hoje. Por incrível que pareça sinto falta do hospital (risos) não da doença, mas de estar por lá, gosto muito dos profissionais, vivi momentos incríveis ali. Gosto de ir lá e mostrar o belo trabalho que fizeram em mim.

    Instituto Oncoguia - Conte-nos sobre seu trabalho e planos para o futuro.

    Mônica Oliveira - Atualmente eu estudo e assisto às aulas o dia todo, faço um curso diurno da graduação em Saúde Coletiva. Pretendo me formar ano que vem, e fazer pós graduação, quem sabe.

    Vivo o presente sem fazer grandes planos para o futuro, hoje tenho minhas responsabilidades e faço o que tenho que fazer, as consequências das minhas ações são previsíveis, porém incertas. Sobre meu futuro ... o futuro quem irá dizer.

    Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje?

    Mônica Oliveira - É apenas uma fase, fique tranquilo, aconteceu?, sim, agora é tratar. Daqui um tempo sua vida voltará ao normal, mas agora é hora de se cuidar, você terá a chance de viver um momento único, por mais doloroso que seja. O aprendizado que terá nesta etapa da vida nenhum outro espaço do mundo lhe dará, portanto aproveite! Conheça pessoas, se conheça, ouça histórias, conte histórias, reflita sobre a vida, observe e se deixe observar. Serão dias diferentes do habitual, porém poderão ser tão produtivos quanto qualquer outro.

    Instituto Oncoguia - Qual a importância da informação durante o tratamento de um câncer?

    Mônica Oliveira - A informação quando fornecida de maneira correta é primordial. O desconhecido nos assusta e afasta. O conhecido se torna próximo. Procure sanar todas as suas dúvidas, verificar a veracidade dos boatos que ouve por aí, por mais que o vizinho, o amigo ou parente tente ajudar, as informações que lhes derem as vezes não serve pra você. Procure sempre os profissionais de saúde que lhe acompanham para responder suas dúvidas.

    Instituto Oncoguia - Você buscou se informar? De que maneira?

    Mônica Oliveira - Sempre em minhas consultas procurei conversar com os médicos. Também encontrei informações pela internet. Existem espaços muito bons (como o Oncoguia), outros nem tanto que apenas irão te assustar. O câncer é uma doença muito relativa, por mais que você encontre casos de pessoas diagnosticadas com o mesmo tipo de tumor, o câncer em cada uma se desenvolve de maneira única. Não se compare a outros casos, você é um indivíduo totalmente diferente do outro, fisicamente, biologicamente e psicologicamente. Cuidado com o que lê, ouve ou assiste. Não sofra por antecipação, pergunte ao seu médico sempre. Hoje tenho a chance de cursar disciplinas na faculdade de saúde que abordam a cancerologia. Apesar de serem bem complexas (risos) consigo absorver muitas informações.

    Instituto Oncoguia - Como você conheceu o Oncoguia?  

    Mônica Oliveira - Internet + Google (risos). Foi na procura de sites que pudessem me ajudar a esclarecer dúvidas e ler relatos sobre pessoas que estivessem passando pela mesma situação que eu.

    Instituto Oncoguia - Você sabia que possuímos um trabalho focado na melhoria da situação do Câncer no Brasil? Estamos sempre em contato com políticos e gestores que podem ajudar a melhorar as políticas públicas brasileiras relacionadas ao câncer. Se você fosse mandar um recado para um político, o que você gostaria que mudasse ou melhorasse considerando tudo o que você passou?  

    Mônica Oliveira - Parem de desviar verbas do SUS!!! Isso mata centenas de brasileiros todos os dias e vocês são os grandes responsáveis. Fiz o tratamento em um dos melhores hospitais públicos de Brasília, com uma das melhores equipes, mas nem todos têm a mesma sorte. Investimentos em campanhas de saúde das mulheres mais novas também são importantes. Nós também adoecemos apesar da pouca idade.  É importante que todas façam um acompanhamento ginecológico anual, pelo menos. Se tivesse a consciência da importância disso, talvez tivesse descoberto o câncer mais precocemente.  

    Agradeço a equipe do Oncoguia pela oportunidade de contar minha história. Fico feliz caso tenha ajudado alguém. 

    Disponibilizo meu email para qualquer um que queira conversar mais: [email protected]
    Forte abraço a todos, tenham fé em vocês. Sairão logo dessa.
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