Instituto Oncoguia - Você poderia se apresentar?
Georgia Louzão - Meu nome é Georgia Louzão, tenho 38 anos, moro em Niterói/ RJ. Adoro ir à praia e fazer exercícios físicos, principalmente musculação. Adoro ler, viajar e estar com a minha família.
Instituto Oncoguia - Qual seu tipo de câncer ?
Georgia Louzão - Eu tive um teratoma imaturo, um câncer de ovário bem raro.
Instituto Oncoguia - Como foi que você descobriu que estava com câncer?
Georgia Louzão - Eu senti um pequeno volume no baixo ventre, do tamanho de uma bola de golfe.
Também senti dor, parecendo cólica menstrual mas fora do período menstrual. Fui então na emergência de um hospital, pois a dor estava muito forte. Lá eles me encaminharam pra fazer uma ultrassonografia, onde foi detectado um nódulo no ovário com uma aparência suspeita. Fui encaminhada para o Hospital Universitário Antonio Pedro, pois não tinha plano de saúde. Fui muito bem atendida, mas tive que entrar na fila e espera para operar, pois só se tem a confirmação se é ou não é câncer, quando se retira o tumor. Tive muita sorte, pois consegui operar logo, 4 semanas depois da minha primeira consulta no hospital. Mas foi um tempo muito difícil, pois só soube quando ia operar 2 dias antes do dia. Quando operei, tirei um tumor de 1,6 kg e 20 cm de comprimento. Ainda tive que esperar quase 1 mês para sair o resultado da biópsia. Na biópsia dizia teratoma imaturo de alto grau.
Mas continuamos sem saber o que era. Um dos problemas do SUS é esse, você não tem acesso direto ao seu médico, você tem que esperar até o dia da consulta para saber qualquer coisa. Essa espera, essa incerteza, é muito angustiante.
Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico?
Georgia Louzão - Meu chão sumiu. Pensei nos meus filhos e no meu marido. Sou muito nova, saudável, pratico exercícios físicos regularmente, minha alimentação é completamente correta. Como pode, por que, por que eu?
Instituto Oncoguia - Qual foi a sua maior preocupação neste momento?
Georgia Louzão - Não sabia se ia me recuperar, não sabia como ia ser o tratamento pelo SUS.
Instituto Oncoguia - O que aconteceu depois disso?
Georgia Louzão - Mais uma vez tivemos que esperar a próxima consulta. Não sabia como contar para os meus filhos sem deixar eles muito perturbados. Sabia que iria perder o cabelo, e até então ainda achava que essa era a pior parte. Acabei contando pros meus filhos que o que eu tinha tirado na cirurgia era um câncer, e que agora eu teria que tomar uns remédios bem fortes para ficar completamente curada. Expliquei também que esses remédios eram tão fortes, que antes de ficar boa, eu ia perder o cabelo.
Instituto Oncoguia - Você já começou o tratamento?
Georgia Louzão - Já comecei e também já acabei. Em função do meu tipo de câncer, os ciclos de quimioterapia foram diferentes do que se costuma ver. Fazia sessões diárias por uma semana, aí na semana seguinte só ia um dia e na semana seguinte de novo só uma vez. Isso foi um ciclo. Foram previstos 2 a 3 ciclos. Como tive muitos efeitos colaterais e esses foram todos muito fortes, meu médico decidiu que fazendo mais um ciclo, eu teria mais malefícios do que benefícios. Então acabei só fazendo 2 ciclos mesmo. Já se passaram 40 dias desde a minha última sessão de quimio, e estou me sentindo ótima!
Instituto Oncoguia - Em sua opinião, qual é o tratamento mais difícil?
Georgia Louzão - A quimioterapia é difícil. Não o tempo que você fica lá recebendo a medicação. Esse momento eu aproveitava pra visualizar os medicamentos fazendo uma limpeza no meu corpo todo. Afinal eram muitas horas lá!
Instituto Oncoguia - Você teve efeitos colaterais?
Georgia Louzão - Tive muitos, mas nem acho que vale a pena comentar, pois cada pessoa é diferente, e tem gente que não tem nenhum. Mas eu fiquei enjoada o tempo todo, todo dia, o dia inteiro. Tomava todos os remédios direitinho, mas não adiantou não! Não consegui me alimentar direito, nem água descia, e é muito importante beber água.
Instituto Oncoguia - Como foi a relação com o seu médico?
Georgia Louzão - Meu médico é uma pessoa maravilhosa! Ele é muito simpático, realista, explica tudo direitinho, e acima de tudo, é uma pessoa muito atenciosa e positiva! Ele sempre consegue achar alguma coisa bonita que possa ser elogiada em você, mesmo nos momentos complicados!
Instituto Oncoguia - Com que outro profissional você se relacionou?
Georgia Louzão - Nutricionista, psicóloga, assistente social e os enfermeiros e enfermeiras maravilhosas que estavam lá no dia a dia.
Instituto Oncoguia - Você fez acompanhamento psicológico?
Georgia Louzão - Conversei só uma vez com uma psicóloga.
Instituto Oncoguia - E com nutricionista?
Georgia Louzão - Uma nutricionista maravilhosa me acompanhou durante o tratamento.
Instituto Oncoguia - Você está em tratamento ou já finalizou?
Georgia Louzão - O tratamento propriamente dito já acabou, agora tenho que fazer o acompanhamento por mais 5 anos.
Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje?
Georgia Louzão - Estou bem devagar retomando as minhas atividades.
Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje?
Georgia Louzão - Tente manter a calma. Isso é muito importante. Lógico que você em algum momento vai chorar, tem que botar tudo pra fora mesmo. Mas a calma é importante para conseguir manter os pensamentos positivos, pelo menos a maior parte do tempo.
Instituto Oncoguia - Qual a importância da informação durante o tratamento de um câncer?
Georgia Louzão - Informação é essencial! Quanto mais se sabe sobre a doença e o tratamento, mais fácil fica enxergar toda essa experiência como algo que vai te trazer resultados positivos apesar das dificuldades.
Instituto Oncoguia - Você buscou se informar?
Georgia Louzão - Eu sei que não é o recomendado, mas busquei informação na internet. Acabei descobrindo assim também muitas mulheres que já tiveram, ou estavam ainda lutando contra algum tipo de câncer, isso foi muito legal! Ajuda muito ter contato com pessoas que sabem exatamente o que você está passando.
Instituto Oncoguia - Como você conheceu o Oncoguia?
Georgia Louzão - Conheci através de um perfil no Instagram.
Instituto Oncoguia - Você sabia que possuímos um trabalho focado na melhoria da situação do Câncer no Brasil? Estamos sempre em contato com políticos e gestores que podem ajudar a melhorar as políticas públicas brasileiras relacionadas ao câncer. Se você fosse mandar um recado para um político, o que você gostaria que mudasse ou melhorasse considerando tudo o que você passou?
Georgia Louzão - Eu consegui operar e me tratar rapidamente, mas muitas pessoas esperam tempo demais nas filas. Isso precisa mudar! Acho que seria importante também oferecer um apoio aos familiares de pacientes com câncer, afinal essa doença afeta a família toda, muda toda a rotina de todos em volta do paciente. Precisamos de mais campanhas de prevenção de todos os tipos de câncer. As pessoas ainda tem muito preconceito com o câncer. Muita gente nem chega perto de mim, parece que tem medo de ser contagioso, outros acham que o diagnóstico de câncer equivale automaticamente a uma sentença de morte, e não é assim. Câncer tem cura, mas precisa ser descoberto e tratado logo!
Muito obrigada por esse espaço! Muito obrigada por vocês compartilharem informação de qualidade e assim apoiar os pacientes de câncer.
