[Câncer de Mama] Andréia Miranda

Aprendendo com Você
Andréia Miranda
  • Instituto Oncoguia - Quem é você? (idade, profissão, tem filhos, casada, cidade e estado?) Andréia - Olá! Eu sou a Andréia, 36 anos, filha da Irene e do Manoel, sobreviventes de câncer e professora de Artes de aproximadamente 300 crianças. Sou solteira, ainda sem filhos e resido em Tatuí, interior de SP.
  • Instituto Oncoguia - Como foi que você descobriu que estava com câncer? Andréia - Apesar de fazer acompanhamento, mamografia e ultrassonografia desde os 22 anos, devido ao histórico familiar, só descobri o câncer quando eu mesma senti o nódulo e vi o aspecto da mama mudar.
  • Instituto Oncoguia - Você apresentou sinais e sintomas do câncer? Quais? Andréia - Fazendo um retrospecto, o câncer deu sim sinais antes do diagnóstico. Tive perda de peso, incômodo na axila e um cansaço extremo. Lembro-me de ter procurado um clínico geral. O cansaço e a perda de peso foram atribuídos a alguma mudança natural do metabolismo e a alterações na rotina de trabalho. O incômodo na axila era devido a movimentos repetitivos. Eu acreditei!
  • Instituto Oncoguia - Quais dificuldades você enfrentou para fechar o seu diagnóstico? Andréia - Com um nódulo do tamanho de um limão, o mamilo retraído e exames que atestavam estar tudo certo, tudo lindo, marquei uma consulta na cidade vizinha onde trabalho. É, minha cidade natal, com mais de 100 mil habitantes não tem mastologista. Durante a consulta, quando relatei meu histórico familiar, senti no ar que o médico arriscaria um diagnóstico de paranoia, rs. A opinião dele mudou ao examinar minha mama e realizar a ultrassonografia. Através de uma punção foi coletado material para ser enviado para biópsia. o resultado demorou longos, eternos, 15 dias.
  • Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico? O que sentiu? No que pensou? Andréia - Esperar o resultado da biópsia foi uma das piores fases que passei; creio que no fundo já sabemos o resultado, nos o pressentimos, mas nos agarramos a esperança de que tudo não passe de insegurança, pessimismo. Foi nesta fase que tive os piores sentimentos. Fui traída por minhas próprias células e sentia que agora iria trair, decepcionar meus pais, minha família, meus amigos. Chorei no banho até ficar de rosto inchado, faltei do trabalho para ficar no quarto sentindo pena de mim e bebi cerveja até cair do banquinho, rs.Vou morrer? Vou sofrer? Morrer eu vou, está garantido, todos vamos. Quando e de que ninguém sabe! Sofrer? Não sei, alguém ai sabe? Sofri tanto nos dias de espera que a confirmação do câncer surgiu como uma luz no fim do túnel. Inimigo detectado e na mira, agora é guerra declarada e sairei vitoriosa!
  • Instituto Oncoguia - Qual foi a sua maior preocupação neste momento? Andréia - Minha maior preocupação após o diagnóstico foi conseguir rápido um encaminhamento para poder começar o tratamento.
  • Instituto Oncoguia - Você já começou o tratamento? Em que parte do tratamento você se encontra nesse momento? Se já finalizou, conte-nos um pouco sobre como foi enfrentar todos os tratamentos? Andréia - Vinte dias após o diagnóstico tive minha 1ª consulta com o oncologista. Um velho e admirado conhecido, médico de minha mãe há mais de 12 anos. Hoje faz mais de um ano e meio que inicie o tratamento, estou na reta final. Já fiz 8 aplicações de quimioterapia, cirurgia (mastectomia radical e reconstrução da mama), 28 sessões de radioterapia e das 18 aplicações de Trastuzumab recomendadas, faltam apenas 10. Uhuhuu!! Enfrentar o tratamento não é fácil, mas também não é tão difícil como falam. Vai depender de como você vai enfrentar as "novidades" que vão surgir. Eu encarei bem, tive tropeços, mas... ♪♩ "nóis trupica mas não cai, pode botar fé que deste jeito vai" ♪♩ Fui loira, morena, ruiva e agora careca? Ótimo! Lacinhos, protetor solar, lindos brincos e maquiagem. Inchei, passei de gostosinha à marmotinha. Ok, isso passa. Estava acostumada a ser branquela durante outono/inverno e camarão na primavera/verão, agora oscilava entre o verde musgo e o cinza. Beleza, isso também passa! Perdi os cílios e sobrancelhas, virei um lagartão gordo. Buááá, isso não vai passar... PASSOU!!
  • Instituto Oncoguia - Em sua opinião, qual é o tratamento mais difícil? Por quê? Andréia - Cada etapa do tratamento teve seu grau de dificuldade e de recompensa. Durante a quimioterapia me transformei em um bichão gordo e pelado, mas a cada aplicação o tumor reduzia. A radioterapia queimou minha pele e torrou minha paciência, mas me ofertou uma baixa probabilidade de recidiva. A cirurgia me fez surtar com as dores e limitações do pós operatório, mas me garantiu a eliminação do tumor e me proporcionou belas mamas e uma barriguinha mais enxuta, rs. Minha cirurgia de reconstrução usou gordura, músculo e pele do abdome. As aplicações de Trastuzumab e o uso do Tamoxifeno me deixa "tonta, atordoada", mas segundo meus amigos tonta sempre fui, kkkk. Ah, e ambos medicamentos - de novo!- me garantem uma baixa probabilidade de recidiva... recidiva... recidiva, prima da metástase, odeio essa família!
  • Instituto Oncoguia - Você sentiu algum efeito colateral diante ao tratamento? Como lidou com isso? O que te ajudou? Andréia - Senti e ainda sinto diversos efeitos colaterais. Cansaço, dor muscular, constipação intestinal, cognição lenta, irritabilidade... Os remédios receitados aliviam a maioria dos efeitos colaterais. Para os efeitos colaterais que não há remédio uso "família e amigos" o alívio é imediato.
  • Instituto Oncoguia - Como foi/é a sua relação com seu médico oncologista? Andréia - Admiro o profissionalismo, a empatia e paciência de toda equipe do setor oncológico que me acompanha. Sou uma paciente participativa, colaborativa, empenhada na cura e um pouco rebelde. Como escarola e fígado (argh) mas também dirijo 600km após quimioterapia para tomar leite no curral em fazendas de MG. Com pesar me isolava de todos quando minha imunidade caia. Quando ela subia era festa, praia e ótima companhia. Recebo conselhos e broncas. Acima de tudo, recebo cuidados e amor!
  • Instituto Oncoguia - Você se relacionou com outros profissionais? Se sim, quais e por quê? Andréia - Eu até tentei. Fui surpreendida negativamente com a repetitiva recomendação: Procure seu oncologista. Puts, eu só tenho câncer, aquela doença antiga e sou tratada como se tivesse alguma moléstia do século XXI ainda desconhecida pela ciência. Isso precisa ser revisto! Meu oncologista não tem obrigação de entender e resolver tudo. Ele não sabe cortar e esmaltar minhas unhas, a pedicure precisa saber como proceder com uma cliente que está passando por tratamento oncológico.
  • Instituto Oncoguia - Você fez ou faz acompanhamento psicológico? Se sim, conte-nos um pouco sobre a importância desse profissional nessa fase da sua vida. Andréia - Após a cirurgia precisei de acompanhamento. Sete dias de internação e vinte e um de mobilidade reduzida, praticamente zerada, destruíram meu emocional. O psiquiatra acertou de primeira a medicação e a ajuda que me prestou foi essencial para prosseguir com o tratamento.
  • Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje? Andréia - Arrisco-me a dizer que bem melhor que antes! Cada dia é um presente! Ainda fico triste, brava e dou piti mas com menor frequência e intensidade. Desacelerei com as obrigações, hoje cuido mais do meu bem estar!
  • Instituto Oncoguia - Você continua trabalhando ou parou por causa do câncer? Andréia - Parei. Descobri que ficar em casa é cansativo e entediante. Aguardo ansiosa o retorno que acontecerá em breve.
  • Instituto Oncoguia - Você buscou seus direitos? Se sim, quais? Andréia - Auxilio doença, isenção de IPI, ICMS e IPVA foram alguns dos direitos que usufrui até o momento.
  • Instituto Oncoguia - Quais são seus projetos para o futuro? Andréia - Ah, são tantos! Sou uma incurável sonhadora, me perco em devaneios. Voltar ao trabalho, mudar-me para zona rural, plantar, filhos, pescarias, viagens...
  • Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje? Andréia - Eu sou eu, você é você!! Não use a minha história, nem a de ninguém, como parâmetro para o seu tratamento. Não é porque o fulano cuspiu Saci e a sicrana botou ovo durante a quimioterapia que o mesmo vai acontecer com você. Acate os bons exemplos e ignore o restante. Seja otimista! Gostaria de ressaltar que o SUS fornece sim um tratamento eficaz e digno no combate ao câncer.Sei que pela quantidade de impostos que pagamos tudo neste pais fica aquém do que poderia ser. Corrupção, ideologia política e vitimismo à parte, eu te garanto que no SUS há profissionais excelentes, há cura, há vida! Todo meu tratamento é realizado através do SUS, até a parte estética. E é realizado com perfeição. Tenho amigas com renomados planos de saúde que tiveram que enfrentar mais contratempos e burocracias para ter acesso a medicamentos e procedimentos do que eu que sou atendida unicamente pelo SUS.
  • Instituto Oncoguia - Como você conheceu o Oncoguia? Andréia - Tive acesso ao Oncoguia por sugestão da equipe médica do hospital onde realizo o tratamento.
  • Instituto Oncoguia - Você tem alguma sugestão a nos dar? Andréia - Sim! Alertar sobre a prevenção do câncer de mama antes dos 40 anos é uma delas. Infelizmente, 50% das "amigas de infortúnio" que conquistei durante o tratamento tiveram câncer antes dos 40 anos. Outra sugestão é que vocês tentem sensibilizar profissionais de outras áreas para o fato de que o câncer é uma realidade e eles precisam estar preparados para isso. Chega de tirar o corpo, e a responsabilidade, fora mandando procurar o oncologista para tudo.
  • Instituto Oncoguia - O que você acha que deveria ser feito para melhorar a situação do câncer no Brasil? Deixe um recado para os políticos brasileiros! Andréia - Informação! Conhecimento! Você não precisa ser um expert em câncer, mas conhecer um pouco sobre a doença e seu tratamento te ajudarão a não ser mais uma vítima do "tarde demais" ou um babaca, com comentários ignóbeis, que acabam com a paciência e o humor das pessoas que passam pelo câncer. Precisamos de um maior investimento em propagandas, palestras, informativos. Para finalizar, sabe aquela máxima: "Conhece a ti mesmo"... No geral, no global, no tudinho, é difícil pacas. Impossível eu diria. Conheça pelo menos seu físico, observe seu corpo, repare nos mínimos detalhes! Beijos no coração!
Multimídia

Acesse a galeria do TV Oncoguia e Biblioteca

Folhetos

Diferentes materiais educativos para download

Doações

Faça você também parte desta batalha

Cadastro

Mantenha-se conectado ao nosso trabalho