[Câncer de Mama] Ana Michelle

Aprendendo com Você
  • Instituto Oncoguia - Quem é você? (idade, profissão, tem filhos, casada, cidade e estado?) Ana - Tenho 32 anos, sou jornalista, separada e mãe do Malbec, um pug cheio de personalidade que é dono do meu coração. Moro em São Paulo.
  • Instituto Oncoguia - Como foi que você descobriu que estava com câncer? Ana - Durante o banho senti o nódulo muito duro no seio direito. Pensei que tinha me machucado, nunca passou pela minha cabeça que seria algo grave. Mas, por insistência do meu então marido fui ao ginecologista que me disse "vou pedir o ultrassom mas é capaz que até o dia do exame esse nódulo tenha se dissolvido". Não dissolveu. Ele tinha 5cm e o médico falou que deveria procurar um mastologista e que parecia ser um fibroadenoma (tumor benigno). Já o mastologista pareceu bem assustado ao fazer o exame físico e pediu a biopsia que confirmou que se tratava de um carcinoma ductal invasivo.
  • Instituto Oncoguia - Você apresentou sinais e sintomas do câncer? Quais? Ana - O nódulo foi o principal sintoma. Mas, na época, lembro que me sentia cansada constantemente e dor nas pernas. Não sei se tem a ver com o câncer.
  • Instituto Oncoguia - Quais dificuldades você enfrentou para fechar o seu diagnóstico? Ana - Acho que a principal dificuldade é que o médico não tratou como algo urgente: 28 anos, sem histórico de câncer na família, magra, feliz, sem vícios... Então, demorei um pouco pra marcar o exame achando que era "essas coisas de mulher". Tinha certeza de que o nódulo iria sumir como o médico havia sugerido e me sentia ocupada demais para me preocupar com isso. Acho que é importante acabar essa ideia de que mulher jovem não tem câncer de mama. Imagina se eu não tivesse feito o exame? Não estaria aqui agora para contar historia.
  • Instituto Oncoguia - Como você ficou quando recebeu o diagnóstico? O que sentiu? No que pensou? Ana - Quando eu li carcinoma, sinceramente, não sabia o que era. Estava no trabalho e minha chefe perguntou o que tinha dado e eu falei "sei lá o que invasivo... invasivo deve ser algo ruim né". Ela ficou branca porque sabia o que era o "sei lá o que". Na mesma hora ligou para um médico amigo dela e eu pensei "gente, que doida porque ela tá falando disso com um oncologista". Aí ela desligou e me deu a notícia "Mi, você está com câncer". Eu lembro a sensação como se fosse hoje. Achei que era brincadeira. E depois no médico não conseguia nem acreditar que aquelas palavras "quimioterapia" "mastectomia" "congelar óvulo", fossem direcionadas a mim. Só caiu a ficha quando dei a notícia pra minha mãe e "a palavra" saiu da minha boca "mãe estou com câncer". Nada doeu mais do que dar essa notícia.
  • Instituto Oncoguia - Qual foi a sua maior preocupação neste momento? Ana - Na época estava casada há apenas 2 anos. Passei por algumas situações que mexeram muito com a minha autoestima então estava arrasada em pensar que ficaria careca, sem o peito, gorda e dando trabalho. Mas, durante o tratamento, percebi o quanto isso é vazio. Se um homem precisa da minha aparência pra me dar valor então ele raso demais pra mim.
  • Instituto Oncoguia - Você já começou o tratamento? Em que parte do tratamento você se encontra nesse momento? Se já finalizou, conte-nos um pouco sobre como foi enfrentar todos os tratamentos? Ana - No primeiro tratamento eu fiz uma adenomastectomia, depois 6 sessões de quimioterapia, 1 ano de monoclonal, 28 radioterapias e Tamoxifeno. Foi tranquilo. Meu cabelo resistiu bravamente, não tive muitos efeitos colaterais e voltei a trabalhar no final da quimio. Agora estou tratando uma metástase no fígado que descobri em um exame de controle 3 anos e meio depois do primeiro diagnóstico.
  • Instituto Oncoguia - Em sua opinião, qual é o tratamento mais difícil? Por quê? Ana - O difícil está sendo esse meu segundo encontro com o câncer. Não esperava ter que passar por isso mais uma vez. Descobri em uma fase muito complicada, quando tive que terminar meu casamento mesmo com todo amor do mundo no meu coração. Foi um sofrimento muito grande. Quando estava começando a retomar o controle da minha vida para virar a página descobri que estava doente mais uma vez. Nossa! Fiquei sem chão... mas ao mesmo tempo veio lá do fundo uma força muito grande "sou mulher o suficiente pra enfrentar mais isso". E estou na luta...
  • Instituto Oncoguia - Você sentiu algum efeito colateral diante ao tratamento? Como lidou com isso? O que te ajudou? Ana - Dessa vez tem sido bem diferente do primeiro tratamento. Estou fazendo sessões semanais e tendo algumas reações bem incomodas. Fiquei careca depois da 4ª sessão. Achei que viver esse momento de raspar a cabeça poderia me abalar mas me surpreendi. Foi como virar uma página... nada como um cabelo novo pra combinar com uma vida nova e uma mulher muito mais forte do que antes.
  • Instituto Oncoguia - Como foi/é a sua relação com seu médico oncologista? Ana - Eu confio plenamente no meu oncologista. Ele é prático e direto, mas ao mesmo tempo demonstra carinho por mim e eu acho que médico tem que ser da espécie humana. A primeira oncologista que me atendeu não olhou na minha cara, se manteve a consulta inteira olhando para o computador, com pressa, não respondia às minhas perguntas. Foi horrível. Sai de lá chorando. Aí pensei que não precisava passar por aquilo outra vez. Que eu queria um médico que me enxergasse como uma pessoa única e não linha de abate. Foi aí que me indicaram o Dr. Elias e eu não troco por médico nenhum... ele me acompanha desde o primeiro tratamento.
  • Instituto Oncoguia - Você fez ou faz acompanhamento psicológico? Se sim, conte-nos um pouco sobre a importância desse profissional nessa fase da sua vida. Ana - Eu faço terapia há algum tempo e tem me ajudado bastante a lidar com esse turbilhão de acontecimentos que vivi esse ano com separação e descoberta da metástase. Acho que é um dos principais e mais importantes apoios que tenho. Falo que sou viciada em terapia rsrsrs ela me trouxe equilíbrio, qualidade de vida e compreensão sobre meus sentimentos, limites, fraquezas, dificuldades. Não estaria enfrentando tudo isso com tranquilidade se não fosse esse apoio psicológico.
  • Instituto Oncoguia - Como está a sua vida hoje? Ana - Estou em paz. Apesar das diversas reações da quimioterapia tenho sentido muita tranquilidade. Fiz pequenas metas durante o tratamento como "aproveitar para ficar mais com minha família", "curtir minhas amigas", "escrever meu livro", "ler" e tantas outras coisas que a correria do dia a dia não me permitiam. Falo sempre em "espremer o limão", então estou vendo o lado bom de tudo isso e aproveitando da forma que posso.
  • Instituto Oncoguia - Você continua trabalhando ou parou por causa do câncer? Ana - Estou afastada do trabalho desde o início das quimioterapias semanais. Mas tenho investido meu tempo em projetos pessoais.
  • Instituto Oncoguia - Você buscou seus direitos? Se sim, quais? Ana - Sim. No primeiro câncer eu comprei carro com as isenções de IPI, ICMS e IPVA. Dessa vez saquei meu FGTS.
  • Instituto Oncoguia - Quais são seus projetos para o futuro? Ana - Eu quero viver! E não falo apenas viver no sentido físico e biológico da palavra. Eu quero estar inteira em cada plano, em cada relacionamento, em cada conquista e realização. Quero momentos felizes e momentos difíceis que sempre nos fazem pessoas melhores. Quero realizar meu sonho de família, ter a casa sempre cheia, ver meus filhos crescerem e curtir cada fase de suas vidas. Quero um amor que mereça o meu 100% e envelheça ao meu lado dividindo todas as alegrias e tristezas. Quero deixar esse mundo aos 105 anos sabendo que de alguma forma fiz a diferença na vida de alguém e aproveitei cada centímetro cúbico de ar que tive em meus pulmões.
  • Instituto Oncoguia - Que orientações você daria para alguém que está recebendo o diagnóstico de câncer hoje? Ana - Eu diria que "é o que tem pra hoje". Fato número 1 - vc está doente. Fato número 2 - você precisa fazer o tratamento. Aí vc pode escolher a forma como você vai encarar esses dois fatos: se esconder, desanimar e desistir ou espremer o limão e tornar essa fase o mais leve possível. O que eu te garanto é que ninguém sai do câncer igual... ele muda tudo de uma forma muito profunda e se você quiser que esse caminho da cura seja mais fácil, erguer a cabeça e peitar essa doença é muito melhor... porque é o que tem pra hoje e a vida é boa demais pra desperdiçar tempo sofrendo por causa dessa pereba intrusa.
  • Instituto Oncoguia - Como você conheceu o Oncoguia? Ana - No primeiro tratamento quando pesquisava no google sobre meus direitos.
  • Instituto Oncoguia - O que você acha que deveria ser feito para melhorar a situação do câncer no Brasil? Deixe um recado para os políticos brasileiros! Ana - Eu tenho 32 anos, trabalho, pago imposto, tudo certinho.... mas, se eu fosse depender do SUS não receberia tratamento pq sou Her2+ e estou com metástase. No SUS não receberia a medicação contra essa mutação e ficaria descobrindo outras metástases até morrer. É um absurdo viver em um País que se recusa a oferecer tratamento adequado para o seu povo. Muitas mulheres estão hoje fazendo tratamentos paliativos sendo que existe medicação capaz de oferecer mais tempo e mais qualidade de vida a elas. Pra mim o nome é assassinato... vc paga imposto pra ir para o corredor da morte quando precisa do retorno desse investimento. Uma vergonha. Pq infelizmente, mãe de político não se trata no SUS.
Multimídia

Acesse a galeria do TV Oncoguia e Biblioteca

Folhetos

Diferentes materiais educativos para download

Doações

Faça você também parte desta batalha

Cadastro

Mantenha-se conectado ao nosso trabalho